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Alta temperatura amarelece
cabelo branco, conclui estudo
Nos testes desenvolvidos no IQ, o
calor foi estabelecido em 50ºC e 80ºC

Com o tempo, as melaninas que pigmentam os cabelos diminuem, causando a perda de cor e o surgimento dos fios brancos. Mas por que todo cabelo branco tende a ficar amarelado? A conclusão está na dissertação de mestrado da pesquisadora Marina Richena, apresentada ao Instituto de Química (IQ). O trabalho comprovou que a principal causa é a exposição a altas temperaturas, a mesma verificada quando se faz uso de secadores de cabelo e de chapas de aquecimento, as “chapinhas”.

Filtrando-se a radiação ultravioleta, observa-se que a radiação visível tem uma forte influência, de modo a desamarelecer o cabelo branco. Ocorre que a radiação ultravioleta é a mais energética que chega às pessoas na Terra. Ela possui energia suficiente para romper ligações químicas e formar radicais, gerando reações em cadeia. A mestranda acredita ser possível ter reações concorrendo no cabelo branco: “o visível, desamarelecendo; e o ultravioleta, talvez amarelecendo”.

No experimento, o calor foi estabelecido em 50ºC e em 80ºC. Viu-se que, a 50ºC, o cabelo branco mais amarelo ficou um pouco menos amarelo, e o cabelo branco menos amarelo ficou um pouco mais amarelo. “Foram, porém, pequenas as variações, ao passo que, quando usada a temperatura de 80ºC, eles amareleceram muito.”

Um outro efeito notado no projeto, relata a autora, decorreu da lavagem dos cabelos após as irradiações, para estudar o seu efeito na desativação de radicais livres. “Constatamos que, se as mechas são irradiadas ou submetidas à temperatura de 80°C, lavando-as depois, o cabelo mantém o seu valor de variação de cor próximo ao valor logo após ser tratado com radiação e exposição ao calor. Já o cabelo não lavado continua variando de cor, mesmo ficando no escuro”, diz. Suspeita-se que os radicais livres não foram desativados e continuam reagindo.

Na literatura, conta Richena, não há uma idade específica para os cabelos brancos aparecerem, por envolver questões genéticas. Como o cabelo não tem melanina, não deveria variar de cor, já que se trata de uma estrutura de proteínas, de queratina. O único diferencial desse cabelo, em relação ao que tem coloração, é que o bulbo capilar interrompe a produção de melanina. Então por que ele está variando sem a melanina?

Richena lembra que o sol é dividido em radiação ultravioleta, infravermelha e visível. A radiação emitida pelo sol é composta por ondas eletromagnéticas de vários comprimentos de onda. Ao conjunto delas é dado o nome de espectro luminoso. A luz que pode ser captada pelos olhos, a visível, corresponde a uma faixa do espectro que vai do comprimento de onda vermelho até o violeta. A radiação infravermelha possui comprimentos de onda maiores do que o vermelho, e a radiação ultravioleta corresponde a comprimentos de onda menores do que o violeta. Esses tipos de raios não são visíveis, mas fato é que estas três faixas chegam aos seres humanos ao mesmo tempo, e os efeitos dependem da cor inicial do cabelo.

Testes

A autora da dissertação ensina que o cabelo branco não tem melanina em sua composição, que é o que lhe conferiria pigmentação. Mas mesmo assim sofre variações de cor. Uma delas é que ele torna-se amarelado. Ao abordar as variações de cor com diferentes faixas de radiação, a pesquisadora não conseguiu encontrar um cabelo totalmente branco. Sempre foi notado um pouco de pigmento amarelo.

A pesquisadora trabalhou com dois tipos de cabelo natural. Um foi comprado da empresa De Meo Brothers, obtido de várias cabeças para tirar variabilidade genética. Ela esclarece que o cabelo já nasce branco da raiz. “Começamos a pesquisa com esse cabelo e, quando o separamos, vimos que os fios já vinham amarelados”, diz. Essa empresa garante aos compradores que o cabelo não recebeu tratamento químico. A pesquisadora também obteve cabelo de um voluntário, de 48 anos.

Richena comenta que na iniciação científica, desenvolvida na Unicamp, já se mostrava intrigada por que o cabelo branco adquiria uma coloração amarelada. Sua preocupação também era compartilhada por grande parte da população mundial, que utiliza o cosmético xampu cinza como recurso para tentar dissipar essa cor. Foi então que o trabalho teve início, com a química comprando cabelo padrão grisalho e fazendo a separação dos fios brancos.

Nos testes de laboratório, foi feita simulação, e as mechas foram levadas à irradiação. Como já se suspeitava que a radiação solar deixava o cabelo mais amarelo, quando foram colocados esses cabelos brancos amarelados na lâmpada, que comporta picos ultravioletas e visíveis, as mechas ficaram menos amarelas. Isso surpreendeu a química.

Ela utilizou ainda um cabelo menos amarelado que o padrão, que foi posto também na lâmpada de vapor de mercúrio e no sol. Para a exposição à lâmpada, as mechas eram dispostas numa capela coberta com papel alumínio, para refletir bem a radiação, por um período maior do que 200 horas. Para exposição ao sol, eram expostas durante o horário de verão, das 10 às 15 horas, período em que a intensidade de radiação ultravioleta é maior, por um total de 50 horas. Com esse tempo, a pesquisadora já verificou uma variação significativa de cor.

A doutoranda Ana Carolina Santos Nogueira, também da linha de pesquisa “Físico-Química Aplicada”, já havia trabalhado com cabelos de diversas pigmentações e tinha avaliado o efeito com radiação solar e a variação de cor. Juntamente com esses cabelos estudados, havia cabelo branco. Em sua tese de doutorado surgiram os primeiros resultados da influência do calor no amarelecimento do cabelo branco.

Sobre o efeito da água quente, pesquisadores do IQ têm começado a fazer investigações, embora ainda não conclusivas. A ideia é repetir experimentos para chegar a novos resultados, mas crê-se que isso também possa ter relação com o amarelecimento. Já falando acerca do que falta para esclarecer o amarelecimento, Richena expõe que o grupo já tentou isolar cromóforos, as substâncias coloridas do cabelo. “Vejo, portanto, que o estudo tem muito a progredir. É preciso chegar ao estágio de qual é o cromóforo e o que está havendo na estrutura da fibra para aparecer esta estrutura colorida”, informa. O grupo da docente do IQ Inés Joekes, orientadora do trabalho, é um dos poucos a investigar o cabelo no Brasil.

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■ Publicação

Tese: “Alterações nos cabelos não pigmentados causadas por radiação ultravioleta, visível e infravermelha”
Autora: Marina Richena
Orientadora: Inés Joekes
Unidade: Instituto de Química (IQ)
Financiamento: Capes
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Queratina aproxima lã e cabelo

Tomando-se como parâmetro a literatura sobre a lã, também formada de queratina, assim como o cabelo, a maior parte dos estudos data da década de 1960, uma vez que a indústria têxtil tinha interesse econômico em saber por que ela amarelava. E isso acontecia com frequência. Como a sua estrutura é similar à do cabelo, um recurso achado pela autora foi compará-los.

Pediu-se para uma empresa, cujo produtor de ovelhas era do Rio Grande do Sul, o envio de lã extraída logo após a tosquia. Foi averiguado que a lã também se tornava menos amarela com a radiação solar. Foi ainda verdade que ela estava muito mais amarelada perto do corpo da ovelha do que nas pontas, as quais estavam até mais expostas à radiação solar.

Essa relação demonstrou que não é o sol o responsável pelo efeito de amarelecer. Assim, o seu estudo possibilitou comprovar que o cabelo interage de várias maneiras com diferentes faixas de radiação. É um dos primeiros trabalhos no mundo sobre o cabelo branco.

 

Fios foram separados manualmente

A pesquisadora informa que o processo de seleção de cabelos começou com a compra de cabelos grisalhos. Ele foi separado manualmente fio a fio – o cabelo branco do cabelo preto –, isso porque o interesse era mesmo avaliar o cabelo branco. Esta separação foi trabalhosa. As mechas obtidas precisavam ter 1 grama. No total, foram avaliadas cerca de 50 mechas.

O cabelo é dividido em três partes: a mais externa, que é a cutícula; uma parte protetora dos fios, que regula a entrada e a saída de água e protege a região do córtex (nele estão as macrofibrilas de queratina cristalina, os pigmentos – que são as melaninas); e tem uma outra parte central, a medula, que ainda não tem função definida e que às vezes pode estar presente, ausente ou descontínua. Ele tem ainda em sua composição água, traços de metais e lipídios. É uma estrutura tão forte que dificilmente se degrada, mesmo depois que as pessoas morrem.



 
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