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Estudos mapeiam o desenvolvimento
de C,T&I na região de Campinas



ALESSANDRA DE FALCO
Especial para JU

O estudo “Projeto de Ciência, Tecnologia e Inovação do Polo de Inovação da Unicamp e dos Parques Tecnológicos e Científicos de Campinas”, realizado por intermédio da Agência de Inovação Inova Unicamp, revela recomendações para a organização e consolidação de Parques Tecnológicos e Científicos, a partir da realização da análise de dados sobre a Região Administrativa de Campinas (RAC) – composta por 90 municípios –, e da avaliação de cenários de Ciência, Tecnologia & Inovação (C,T&I) regionais. De acordo com Eduardo Gurgel do Amaral, organizador do estudo e Coordenador do Sistema Local de Inovação da Inova Unicamp, um dos principais fatos questionados é a falta de articulação entre empresas, órgãos públicos, instituições de pesquisa e a sociedade. Para Domenico Feliciello, também organizador do estudo e pesquisador do Núcleo de Estudos de Políticas Públicas da Unicamp (NEPP), este fato pode ser solucionado com a criação de uma instituição que atue na integração destes setores, focada em políticas públicas de C,T&I.

Um segundo estudo, baseado no primeiro, mas mais específico, denominado “Projeto de Ciência, Tecnologia e Inovação do Parque Científico da Unicamp” aborda a caracterização de potencialidades, fragilidades, desafios e também recomendações para a implementação do Parque Científico da Universidade. “Verificamos que a articulação em Campinas, principalmente no nível governamental, ainda é muito frágil, o que resulta na lentidão para a criação e aplicação de estímulos ao desenvolvimento de C,T&I”, afirma Domenico. Ainda segundo Gurgel, as conclusões dos estudos revelam o perfil local das competências científicas de cidades da RAC e suas perspectivas, as áreas e linhas de pesquisa de maior potencial de geração de parcerias e/ ou de atração de investimentos, as atividades produtivas intensivas das regiões e suas evoluções esperadas, e ainda, as necessidades de infraestrutura tecnológica e de serviços de apoio. Tudo isso com o objetivo de orientar a implementação de Parques Tecnológicos e Científicos, incluindo o da Unicamp.

O primeiro, um macro-estudo, analisa como os setores produtivos, de pesquisa e o setor público estimulam a produção de C,T&I regional e como se relacionam. Foi realizado, a partir de uma análise econômica, um mapeamento do cenário atual enfrentado pelas instituições, indicando quais as áreas mais promissoras, com potencial econômico para o investimento em Parques Tecnológicos e Científicos, dentre elas, Campinas, onde já foi iniciada a instalação do Parque Científico da Unicamp. A pesquisa revela que as empresas da cidade conhecem programas de incentivos de financiadoras como a Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e do próprio Governo Federal, como a Lei do Bem, e requisitam e utilizam esses recursos. “Cada vez mais, as políticas públicas revelam seu novo enfoque, não apenas voltado para a pesquisa, mas também no resultado econômico”, enfatiza Gurgel. “Campinas está entre as cinco primeiras cidades do país, em termos de recursos captados. A cidade também se destaca pela capacitação de recursos humanos e investimentos em C,T&I. É interessante apontar que, apesar de recente, crescem os incentivos governamentais para estreitar o relacionamento entre instituições de pesquisa e empresas, o que converge para a produção de pesquisas em conjunto e sua aplicação mercadológica”, completa Domenico.

Apesar de Campinas ser amplamente reconhecida como Polo de Alta Tecnologia, mencionada como o Vale do Silício brasileiro, o estudo revela que os volumes de produções científicas e de instituições na RAC estão ligados a cultivares agrícolas, biotecnologia, química orgânica, produtos de higiene e cosméticos, computação, papel e celulose e veículos. A pesquisa também mostra os potenciais de cidades como Sumaré e Hortolândia, também com destaque pelos seus polos tecnológicos; como Paulínia, por ser um polo petroquímico; Americana, pelo polo têxtil, entre outras. O estudo afirma que há um grande mercado para infraestrutura de redes (óptica e wireless) e, em seguida, para serviços e conteúdo multimídia para circular por essa infraestrutura. “A condição específica de Campinas, ao reunir, no mesmo convívio, especialistas dos aspectos técnicos com especialistas em comunicação e artes pode resultar em sinergias relevantes para a inovação de conteúdo”, afirma Domenico.

Mas a pesquisa também mostra a importância da ampliação das áreas de segmentação dos Parques Tecnológicos e Científicos na RAC, de acordo com características de cada cidade, já que muitos projetos são voltados para a área de Tecnologia da Informação e Comunicação, mas as atividades econômicas destacadas como mais promissoras abrangem: fabricação de produtos farmacêuticos e químicos, componentes eletrônicos, equipamentos de comunicação, instrumentos e materiais para uso médico e odontológico e de artigos ópticos. Estas áreas já recebem investimento em C,T&I, em parceria com grupos de pesquisa em universidades, e têm mão de obra qualificada. “O estudo demonstra que a região possui forte competência científica em odontologia – a RAC possui mais artigos científicos recentes no tema do que a Índia e a Rússia juntas e mais do que Israel – e uma relativamente importante indústria de produtos e equipamentos odontológicos. Trata-se de nichos para se prestar atenção e incentivar”, afirma Domenico, que completa: “O mesmo vale para equipamentos hospitalares em geral, muitos dos quais requerem competências interdisciplinares presentes na RAC. Há também uma interface crescentemente importante entre saúde e alimentação, nucleada pelos chamados alimentos funcionais, que pode ser mais explorada na região”.

A metodologia da pesquisa englobou, primeiramente, o uso de dados secundários, principalmente de bancos de dados sobre Economia, Ciência e Tecnologia do Governo do Estado de São Paulo e do Ministério de Ciência e Tecnologia. Foram levantadas as políticas públicas ou assuntos em pauta nas agendas governamentais, existentes há alguns anos no Brasil e há décadas em outros países como Espanha, Inglaterra e Estados Unidos, que através de um conjunto de incentivos e estratégias, estimulam o desenvolvimento de C,T&I de forma mais adequada e intensa, visando a economia sustentável. Segundo Gurgel, isto acontece através de, por exemplo, a criação de Incubadoras de Empresas, Parques Tecnológicos e Científicos e Regiões de Conhecimento – quando um conjunto de cidades e seus órgãos públicos, empresas e universidades de diferentes territórios se articulam para criar ações e empreendimentos com aquela finalidade.

Pesquisa de campo

Numa segunda etapa, foi realizada uma pesquisa de campo, compondo 27 entrevistas com dirigentes de empresas, institutos de pesquisa e outras organizações da área de C,T&I, como IBM, Laboratório Nacional de Luz Síncrotron, Centro de Pesquisa e Desenvolvimento em Telecomunicações (CPqD), Rhodia, Instituto Agronômico de Campinas (IAC) entre outros. Representantes de 30 grupos de pesquisa também responderam a uma pesquisa. “A principal instituição da RAC que produz C,T&I é a Unicamp, sendo a região de Campinas a que mais reúne grupos de pesquisa”, destaca Roberto de Alencar Lotufo, diretor executivo da Inova Unicamp. De acordo com o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), 59,5% destes grupos estão nesta Universidade. Porém, segundo Domenico, ainda há um descompasso entre a produção acadêmica – focada em teses, artigos e formação de especialistas – e a cadeia produtiva do mercado. “Diminuir o descompasso é preciso para transformar conhecimento em inovação”, revela Domenico. Dados obtidos da base do CNPq indicam que, dos 739 grupos de pesquisa cadastrados pela Unicamp, 59 (apenas 8%) referem que mantiveram relacionamento com empresas, num total de 102 empresas.

Além de levantamento de dados de prefeituras da RAC, outro questionário foi respondido por 50 Empresas de Base Tecnológica. Participaram da elaboração dos dois estudos, além dos organizadores, 5 bolsistas de doutorado da Unicamp, 7 pesquisadores externos e 3 assessorias especializadas que colaboraram para o levantamento dos dados. “Tudo isso com o objetivo de incorporar ao macro-estudo a visão daquelas pessoas que atuam na prática e que alegam falta de mão de obra especializada, incoerência da relação entre ensino, pesquisa e mercado da região. Dessa forma, conseguimos ter uma visão mais apurada da realidade”, diz Domenico. Ainda segundo o macro-estudo, o Brasil tem demonstrado enorme potencial para desenvolver tecnologias ambientais, as denominadas eco-inovações, que envolvem tecnologias de controle de poluição e eficiência energética, para o aproveitamento sustentável da biodiversidade etc. “É possível ao país se tornar líder em diversos tópicos ainda em estado inicial de desenvolvimento”, prevê Domenico. Outra área apontada como de potencial para provocar grandes impactos econômicos e sociais é a de nanotecnologia, já que pode, por exemplo, modificar radicalmente a capacidade do sistema imunológico, gerando tratamentos mais eficazes e prolongando a expectativa de vida humana, ou permitir a geração e armazenamento de energia em escalas e eficiência muito melhores que as atuais. O estudo conclui que essas áreas precisam de investimento imediato.

Especificamente sobre os Parques Tecnológicos e Científicos, a pesquisa releva a RAC com grande potencial para implementação dos mesmos, o que está diretamente relacionado às características industriais da região. “Porém, é preciso contar com o suporte de políticas públicas que abordem questões de infraestrutura, localização, acesso, projeto de viabilidade econômica, além de ações voltadas para a captação de mão de obra especializada, o que envolve inclusive questões nos âmbitos educacional, familiar, de saúde, esporte e lazer. Não é possível pensar inovação, sem qualidade de vida, quesito imprescindível para fixar profissionais qualificados numa região”, diz Gurgel.

De acordo com Domenico, um cenário de fortalecimento do sistema de inovação regional, com atração de empresas tecnológicas e efetiva mudança qualitativa no perfil de produção econômica, que hoje já é tecnologicamente elevado, poderá avançar para níveis ainda mais sofisticados, se a quantidade e qualidade da oferta em ensino médio e técnico na região não apenas se igualar à média brasileira, mas ultrapassá-la, assim como ocorre no ensino superior. O macro-estudo demonstra que falta adequação do perfil das pessoas formadas às necessidades do desenvolvimento econômico e social, inclusive em relação à barreira quanto ao uso da língua inglesa, o que afasta muitas empresas da região.

Mudanças de cenário só serão possíveis, segundo os organizadores do macro-estudo, quando existir a efetiva união entre empresas, órgãos públicos, instituições de pesquisa e a sociedade. “E essa preocupação já é algo inovador para o Brasil”, afirma Lotufo. Atualmente, a Agência de Inovação e a Fundação Fórum Campinas – esta que congrega institutos de pesquisa da RMC –, incorporam o papel de intermediar a relação e integrar os diversos setores, inclusive pensando num modelo de gestão de Parques Científicos e Tecnológicos como o da própria Unicamp, voltado para a união da pluralidade de interesses e pela criação de ações que possam ser realizadas de forma colaborativa. “O importante é pensar em ações de convergência para a produção acadêmica de alta qualidade e as necessidades da sociedade. Conceito que aos poucos está sendo assimilado”, completa Lotufo.

Segundo Gurgel, estudo de qualificação realizado por especialistas do Sistema Paulista de Parques Tecnológicos e Científicos em 2008, já destacava a implementação do Parque Científico da Unicamp como estratégica, mostrando o seu potencial para a inovação, a partir da instalação de laboratórios de empresas e da relação entre pesquisa e setor produtivo. A construção do Núcleo do Parque Científico da Unicamp, que abrigará o centro administrativo e a nova estrutura da Incubadora de Empresas de Base Tecnológica da Unicamp, com capacidade para 50 empresas, já foi iniciada. Esta obra é financiada pelo Governo do Estado de São Paulo, com o investimento de R$ 5.505.439,44. Os dois estudos: “Projeto de Ciência, Tecnologia e Inovação do Polo de Inovação da Unicamp e dos Parques Tecnológicos e Científicos de Campinas” e “Projeto de Ciência, Tecnologia e Inovação do Parque Científico da Unicamp”, este que inclui um plano urbanístico, também receberam aportes nos valores aproximados de R$ 643 mil e R$ 416 mil, respectivamente.

Empresa assina convênios

MAlém do convênio para a construção do prédio do núcleo do Parque Científico, foram firmados dois acordos. Um com a Finep, que permitirá a construção do Laboratório de Inovação em Biocombustíveis (LIB) e, mais recentemente, no dia 23 de agosto, dois convênios com a empresa Cameron do Brasil. A companhia, da área de produção de equipamentos para exploração de óleo e gás, será a primeira empresa a se instalar no local destinado ao Parque. Os convênios estabelecidos com a empresa fixam as condições de ocupação e a permissão de uso da área para a construção do prédio do laboratório, bem como a realização de um projeto de pesquisa colaborativa entre a Universidade e a empresa, que envolve o grupo de pesquisa em Sistemas Marítimos e Risers (LabRiser) e a pesquisa “Estudo Numérico e Experimental de um Supressor PTMD em Modelo Reduzido de Jumper Submerso”. A área total do terreno destinado à Cameron é de 850 metros quadrados e o laboratório irá ocupar uma área aproximada de 1.000 metros quadrados. O prazo total para construção da obra será de até dois anos e os custos envolvidos na construção serão de responsabilidade da empresa.



 
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