Há
mais ou menos cinco anos Roberto Alves, 42 anos, casado, renasceu.
Vítima de uma hepatite do tipo B que evoluiu, ele não
teve outra alternativa a não ser se submeter a um transplante
de fígado na Unicamp. Antes porém, passou por
sérias dificuldades até conseguir um doador. Como
gozava de uma vida normal e saudável antes de contrair
a doença, Roberto sequer imaginava que mais tarde viria
a fazer parte de um grupo de transplantados. E, justamente a
partir deste episódio, ele resolveu engrossar a luta
para conscientização da população
para a doação de órgãos.
Esta
história, infelizmente, não é rara. Hoje
na fila, aguardando por um transplante de fígado, no
Estado, estão em torno de 2.000 pessoas. A situação
é bastante difícil, explica Adriano Fregonesi,
coordenador da Central de Captação de Órgãos
do Hospital das Clínicas da Unicamp. Ainda existem muitas
dúvidas da população para serem esclarecidas
e a única forma, em sua opinião, é a conscientização
através de campanhas e matérias na imprensa que
esclareçam essas questões. Foi neste sentido que
a Unicamp e a Associação de Portadores de Hepatites,
Candidatos e Transplantados Hepáticos do Interior do
Estado de São Paulo (Apohie), da qual Roberto é
presidente, se mobilizaram, na última semana, para realizarem
uma campanha no Shopping Center Iguatemi.
Portando
panfletos e apoiados por uma equipe médica para orientar
a população que transitava pelo local, um grupo
da Apohie realizou a campanha corpo a corpo para uma média
de 50 mil pessoas. É gratificante poder esclarecer
a população da importância de dar oportunidade
de vida a outra pessoa, diz Jankees Van der Poel, 31 anos,
casado e doutorando em Engenharia Elétrica na Unicamp.
Há cerca de um ano, ele aguarda na fila por um órgão,
pois é portador de uma doença côngenita
rara de nome colangite esclerosante primária.
A
difícil tarefa Para se ter uma idéia
do tamanho do problema, no Estado de São Paulo, as estatísticas
demonstram que já somam oito mil pessoas à espera
de um rim e 500 na fila por um coração. Pelo menos
30% dos candidatos a um transplante morrem na fila de espera.
A verdade é que quando se entra no processo à
espera por um órgão não se sabe se é
para a vida ou para a morte, define Fregonesi. Ele enumera,
pelo menos, dois pontos principais que dificultam a captação
de órgãos atualmente.
O
primeiro, seria a falta de notificação ao serviço
de captação, por parte dos médicos, quando
há morte encefálica ou mais conhecida como morte
cerebral. Segundo o coordenador, esta informação
deveria ser rápida e eficiente para que se consiga agilizar
o processo. No momento em que ocorrem os fatos inicia-se
uma corrida contra o relógio, pois o coração
funciona apenas por mais alguns minutos, explica.
Outra
situação bastante comum nos hospitais brasileiros
é a recusa da família em doar os órgãos
por falta de esclarecimento. É importante que o
doador, uma vez conscientizado, deixe avisado a família
do seu interesse em doar os órgãos. Em sua
experiência, uma das alegações mais constantes
é com relação a motivos religiosos
cerca de 40% daqueles que são abordados pelo serviço
de captação. Neste caso, Fregonesi explica que
a maior parte das religiões não se opõe
ao ato, mas por desconhecimento a família acaba abortando
a retirada dos órgãos.
HC
reinicia transplante em crianças
O Hospital
das Clínicas da Unicamp está reiniciando o serviço
de transplantes de fígado em crianças interrompido
há cerca de três anos.
Desde
que realizou a última cirurgia deste tipo, o HC não
estava em condições de proceder o transplante
por motivos de estrutura. A criança demanda mais
cuidados que um adulto, explica a gastro-pediatra, Adriana
Maria Alves De Tommaso. Ela esclarece que tanto antes como
depois da cirurgia, a criança precisa da atenção
especial de um adulto as 24 horas do dia. O pós-operatório
requer ainda, atenções no que se refere à
àgua, alimentação e outros cuidados desta
natureza. As pessoas que freqüentam o hospital
são pessoas simples e que muitas vezes não dispõe
deste tipo de recurso.
Adriana
salienta ainda, que uma das dificuldades para a realização
de um transplante em crianças é que, geralmente,
ao chegar no HC o quadro já está avançado
demais. Ela acredita que muitos pediatras não estão
preparados para um diagnóstico precoce de doenças
mais raras e que seriam o caso de transplante. A icterícia
doença comum em recém-nascido
por exemplo, quando passa de duas semanas deve-se procurar
um especialista. Diminuição da coloração
das fezes, urina muito escura, são outros sintomas
preocupantes, diz.
A gastro-pediatra conta que já teve asos de se transplantar
uma criança de oito meses. Nestes casos, é mais
difícil conseguir um órgão do tamanho
adequado. Mesmo assim, Adriana, ressalta que as dificuldades
em captar um órgão são as mesmas que
a do adulto. Nosso trabalho é divulgar e cada
vez mais informar a população da importância
do ato.
|