Sem
esperança não acontece o inesperado..
Murilo
Mendes........
Não
usava barbeador elétrico, nem dirigia; preferia uma caneta
antiga, simples, a esferográfica. Alto, ligeiramente
curvo, tinha especial predileção por gravatas,
chapéus e luvas. Murilo Mendes (1901-1975) era um homem
de hábitos simples, comuns. Mas acima de tudo um triste.
Costumava definir-se como um católico relaxado,
que gosta de vinho, menos o nacional, e inimigo pessoal de Hitler.
Personalidade complexa e, por vezes, contraditória, ora
extrovertida em excesso, ora formada de introspecção,
Murilo Mendes é indiscutivelmente um dos mais importantes
e poetas da literatura brasileira.
E
agora, quando se comemora cem anos de nascimento do poeta, a
direção do Instituto de Estudos da Linguagem (IEL),
convidou a professora emérita de Literatura Brasileira
e Portuguesa Luciana Stegagno Picchio, da Universidade de Roma
La Sapienza, para uma palestra a alunos de graduação,
de pós, e professores da Unicamp.
O encontro com a professora Luciana, na última quarta-feira,
contou com a presença de mais de 60 pessoas. Com seus
81 anos, imenso sorriso no rosto, a especialista em Murilo Mendes
contou detalhes sobre a vida do poeta. Com boa dose de humor,
revelou, por exemplo, que foi amiga dele e da esposa Maria da
Saudade Cortesão Mendes durante os 18 anos em que Murilo
Mendes passaram em Roma. Relembrou que aos nove anos ficou fadado
à poesia à passagem do planeta Halley, e, aos
16 anos, fugiu do colégio onde estudava em Niterói
simplesmente para assistir a um espetáculo de dança
da companhia de Diaghilev e ver Nijinsk dançar. Com sua
voz fininha, porém firme e lúcida, Luciana contou
ainda outras particularidades da vida do grande poeta. Por exemplo,
do dia em que tropas alemãs invadiram a Áustria,
Murilo telegrafou a Hitler para mandar um recado ao ditador
protestando em nome de Mozart.
O
poeta era um homem fascinado pela dança, pelas artes
plásticas e pela música. A poesia era, no entanto,
a sua grande paixão. Luciana diz que ele era capaz de
ficar ouvindo música por várias horas. Entre os
seus compositores preferidos estavam Mozart, Haendel, Bach e
Beethoven. Murilo era um homem que fazia questão de uma
boa amizade e, por isso, cultivava amizades de artistas plásticos,
escritores e poetas. De acordo com Luciana, a coleção
de quadros de Murilo Mendes inclui obras de Miró, Picasso,
Portinari, Goeldi, Fernand Léger, Vieira e Ismael Nery
e tantos outros.
Luciana
revelou que, já no fim da vida, e Murilo tornando-se
um homem tristinho, um dia foi visitá-lo.
Conversando com o poeta, preocupada com o seu estado de saúde,
perguntou-lhe o motivo de tanto aborrecimento. Ao que o poeta
respondeu, com voz sumida e triste: Angústia, angústia.
O
primeiro livro de Murilo Mendes Poemas , lançado
em 1930, foi considerado por Mário de Andrade como o
principal acontecimento editorial daquele ano, quando foram
publicadas obras de Carlos Drummond de Andrade e Manuel Bandeira,
nomes que se consagrariam mais tarde. Murilo Mendes escreveu
inúmeras obras, entre elas Poesia liberdade, Tempo espanhol,
Poemas, As metamorfoses e A idade do serrote, que a Editora
Record está relançando.
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Festival
do folclore traz atrações internacionais
O
Folk Ensemble, da Eslováquia, o El Cimarrón,
da Argentina, e o Etnográfico de Lorvão são
três dos mais importantes grupos de dança folclóricas
internacionais que vão se apresentar em Campinas nos
próximos dias 23 e 24 durante o 4° Festival Internacional
do Folclore Objetos Afetos. Mais precisamente nos palcos
do Teatro José de Castro Mendes, a partir das 21 horas.
São grupos com aproximadamente 40 pessoas cada, que
têm em comum o folclore e o uso de adereços e
instrumentos musicais típicos, coreografia tradicional
e por terem, também, conquistados prêmios em
vários países do mundo.
A realização do festival é um trabalho
desenvolvido pelo Núcleo Interdisciplinar de Comunicação
Sonora (NICS-Unicamp), com apoio das Coordenadorias de Centros
e Núcleos (Cocen) e de Relações Internacionais
(Cori), com suporte da Secretaria Municipal de Cultura e o
Cioff/Unesco.
Paralelamente
ao festival ocorrem oficinas em que a música e a dança
dos países representados serão vivenciadas por
meio da interação com os grupos internacionais.
Essas oficinas realizam-se no SESC, na Escola Estadual de
Segundo Grau Culto à Ciência e no Galleria Shopping.
No dia 24, ao meio-dia, os grupos da Argentina, Paraguai e
Eslováquia se apresentam no Ciclo Básico da
Unicamp.
Nosso objetivo é atingir um grande público
e transformar o festival em evento regular, que se realize
todo ano, cada vez comum número maior de atrações,
diz Maira Camargo, uma das organizadoras do festival. Ela
conclui dizendo que a abertura do festival enaltece
a figura do artesão e o artesanato como forma de expressão
íntima vinda do seio do povo. As imagens e a
trilha sonora original foram criadas com o auxílio
do computador a partir de pesquisa videográfica realizada
no acervo do Museu de História e Folclore Maria
Olímpia. Essa montagem multimídia, além
de mostrar objetos criados pelo povo, quer transmitir, por
intermédio da música e dança, o lirismo
do artesão e a sua poesia.
Os
depoimentos, simples e autênticos dos artesãos
olimpienses, da Dona Rosinha, da Lalá e do Breno, dão
ao trabalho um contorno expressivo profundo, explica
Maira. O público presente no festival certamente
vai vislumbrar por meio da integração multimídia
entre o vídeo, a música e a dança, um
espetáculo único, avalia a coordenadora
do festival.
Participam
também do festival bailarinos do DACO/Unicamp, e academias
da região de Campinas, e a montagem coreográfica
realizada no Studio de Dança Christiane Matallo. Nos
teatros, na abertura de cada show de dança teatros
internacional, será apresentada uma performance multimídia
produzida pelo professor Jônatas Manzolli, coordenador
do NICS, denominada Objetos Afetos, que dá nome ao
festival. Jônatas explica que esse trabalho representa
uma interação entre dança, vídeo
e música, numa alusão ao artesanato popular.
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