cinema nasce mudo e em preto-e-branco. Os primeiros filmes
são
rudimentares, de curta duração (de um a
dois minutos), que mostram cenas do cotidiano captadas
ao ar livre por uma câmera fixa. A primeira exibição
pública de um filme, A Chegada do Trem à
Estação Ciotat, é realizada no dia
28 de dezembro de 1895, em Paris, pelos irmãos
Auguste (1862-1954) e Louis Lumière (1864-1948).
Ambos haviam criado o cinematógrafo, um aparelhinho
capaz de exibir imagens em movimento, e são considerados
os inventores do cinema. É outro francês,
Georges Méliès (1861-1938) que toma a iniciativa
de introduzir a ficção no cinema usando
recursos como cenários e figurinos. E, a partir
daí, a coisa não parou mais.
Talvez
nem os Lumière e nem Méliès podiam
imaginar que o tipo de arte que estavam desenvolvendo
atingisse, um século depois, tamanha dimensão,
que passaria a ser tratada de sétima arte
ao juntar-se a outras seis tradicionalmente consideradas:
arquitetura, literatura, pintura, música, dança
e escultura.
A
Unicamp, centro de debates e de idéias, não
poderia ficar de fora desse circuito cinematográfico.
Embora a produção de filmes não seja
o ponto forte da Universidade (e nem é esse o seu
objetivo), ressalta-se que há um grande movimento
de alunos e pessoas ligadas ao cinema, cuja proposta fundamental
é a projeção de filmes. Não
apenas como entretenimento, mas, principalmente, como
um elemento a mais de reflexão e de debate. E público
para isso há. No campus universitário da
Unicamp, pelo menos quatro grupos compostos de
alunos e pessoas ligadas a esse tipo de arte que
usam o cinema não unicamente como entretenimento,
mas também como veículo de promoção
de debates: O Cinema BR em Movimento, o Plano Geral, o
Cine Call, do IEL, e o cinema do IFCH.
O
Cinema BR em Movimento, projeto administrado por estudantes
de diversas áreas, mantém parceria com a
BR Distribuidora/Petrobrás, MPC & Associados.
Trata-se de um programa com dupla atuação:
uma se refere a projeções em instituições
universitárias, e a outra denominada Cinema
sem Tela, quer dizer, o mesmo projeto voltado agora
para a comunidade de um modo geral. No ano passado, esse
projeto exibiu, entre outros, os longas O dia da caça
(de Alberto Graça, 1999) e O rap do pequeno príncipe
contra as almas sebosas (Paulo Caldas e Marcelo Luna,
2000), para um público de aproximadamente 1500
espectadores professores, alunos e funcionários.
A principal proposta desse projeto, segundo Wilian Pereira,
um dos coordenadores, é divulgar a produção
recente do cinema nacional para o público universitário,
visando a vencer velhos estereótipos e resistências
e a formar um público futuro receptivo aos filmes
nacionais, explica.
Se
por um lado o cinema brasileiro não tem encontrado
grandes platéias, por outro trata-se de um fenômeno
causado pela má qualidade dos filmes colocados
nas salas de cinema. Como uma coisa não caminha
sem a outra torna-se premente que se produza filmes de
melhor qualidade para, com isso, arrebanhar público
maior, analisa Wilian. Ele entende que isso requer
um processo de reeducação do público
para vencer um certo preconceito que paira sobre o cinema
nacional. Não se discute que há muita
coisa ruim, mas há, também, obras de qualidade,
que o público muitas vezes não toma conhecimento
porque perdeu o hábito de ir ao cinema, acredita
Wilian.
O
Projeto Cultural Cinema BR em Movimento parece estar,
no ritmo em se desenvolve, alcançando o resultado
que seus organizadores esperavam. Talvez pelo processo
de parcerias que mantém. Para se ter idéia
de sua dimensão, basta dizer que no ano passado
esse projeto esteve presente em 76 universidades de 79
municípios, além de 283 comunidades pertencentes
ao chamado Circuito sem Tela, que favorece 115 mil espectadores
em mais de 800 sessões, realizando num total de
320 debates. Este ano, a previsão é
atingir um público de mais de 200 mil espectadores
de mais de 160 municípios de todo o território
nacional , prevê Wilian.
De
volta ao passado Pode-se dizer que o Projeto
Plano Geral, administrado por estudantes de outras áreas
e pessoas ligadas ao cinema, representa uma espécie
de volta romântica do passado, quando o filme era
projetado numa grande tela ao ar livre. Aqui, os filmes
desse projeto são projetados num telão preso
entre árvores, no gramado, próximo a cantina
do IEL e o prédio da Biblioteca Central. Ali, todas
as últimas quartas-feiras, sempre às 18h15,
freqüentemente aglomera-se um público de mais
de 100 pessoas. Os filmes são cedidos pelo Núcleo
de Animação Campinas.
Normalmente
são filmes de curta duração. Os
curtas são interessantes porque quem passa olha,
pára e assiste ao filme. Como há uma série
deles, se o espectador permanece assistindo ou se deixa
o local, poderá retornar e não perde o espetáculo,
explica Aparecida Godoy, do Centro de Produções
do IA-Unicamp. A coisa quase que se configura aos primórdios
do cinema mundial. Além disso, a concepção
dessa produção cultural é de baixo
custo, os filmes normalmente pertencem a colecionadores,
assim como o equipamento, sem qualquer custo pra gente,
observa Janaína Damaceno, aluna do mestrado em
Multimeios. Estuda-se a possibilidade de alunos da Música
trabalharem na elaboração de trilhas sonoras
durante a projeção dos filmes.
Na
primeira semana de cada mês, no auditório
do Instituto de Artes, a partir das 18h15, o projeto mostra
filmes de classe do cinema mundial. Na segunda semana,
é a vez dos filmes nacionais e na terceira, os
curtas. A intenção dos organizadores
do Plano Geral e criar um espaço de estudo do cinema,
explica Simone Peixoto, aluna de artes plásticas.
Esse estudo terá sempre a participação
de alguém, ou de algum profissional, ligado ao
cinema, que a gente pretende trazer para falar sobre
todo tipo de questão envolvendo o cinema
tanto com relação a parte técnica,
como problemas atinentes à produção
de um filme, atores, roteiros, entre outras questões.
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