Os
versos são de um samba do cantor e compositor paulista Germano
Mathias,
sucesso na década de 50, inserido no curta-metragem O Catedrático
do Samba, produzido pelo professor Paulo Bastos Martins, do Departamento de Multimeios
do IA/Unicamp, que recentemente conquistou dois prêmios no 6° Festival
Brasileiro do Cinema Universitário. Promovido pelo Centro de Artes da Universidade
Federal Fluminense e Centro Cultural Banco do Brasil, o filme, colorido, produzido
em 16 mm, tem 23 minutos e mostra particularidades de um dos maiores sambistas
que o Brasil já teve.
Ao lado de intérpretes e compositores como Noel Rosa, Cartola, AdoniramBarbosa,
Paulo Vanzolini, Talismã, Zeca da Casa Verde e tantos outros, Germano Mathias
(ele faz questão do h no nome), com seu estilo particular e
irreverente de fazer um samba sincopado, ou não, ajudou a escrever
a história do samba paulista e, por extensão, da música popular
brasileira.
O
filme, financiado pela Faep, é resultado do Projeto Forma e Conteúdo
em Cinema, com o objetivo de mostrar, mesmo que não se pretenda usar
uma forma não linear de montagem para conseguir transmitir o conteúdo,
a mensagem almejada. Entre pesquisa e todo o processo de produção
do filme, Paulo Bastos diz que foram dois anos e meio de trabalho intenso. O projeto
inicial de O Catedrático do Samba, que teve a coordenação
geral de Bastos, contou ainda com a participação de dois alunos
de mestrado do IA Noel Carvalho e Alessandro Gamo. A montagem esteve sob
a responsabilidade de Eduardo Kishimoto. Todo o resto da equipe é de alunos
do Departamento de Multimeios do IA/Unicamp e da Eca/Usp. Foram Alessandro
e Gamo que propuseram o tema Germano Mathias e nós achamos que de fato
era um tema bastante apropriado para comprovar o que a pesquisa tinha concluído,
diz Bastos Martins.
O
Catedrático do Samba começa e termina com Germano Mathias caminhando
pela movimentada calçada da Praça da Sé em São Paulo,
enquanto ao fundo vem o som do repique de uma tampinha de lata de graxa (tocada
pelo próprio Germano) e, às vezes, um pandeiro. Instrumentos que
integravam o grupo que o acompanhavam e ele tocando na sua tampinha. E o cantor
e compositor vai contando sua vida. Lembra o início de tudo com os engraxates
na Praça da Sé.
O
som que tiravam de uma simples latinha de graxa de sapatos era uma coisa muito
forte naquela época, décadas de 40 e 50, observa o professor.
Ele diz, por exemplo, que Germano Mathias ficava encantado quando via os engraxates
batendo nas latinhas, enquanto engraxava os sapatos dos fregueses. Acostumou-se
e, por fim, acabou virando um especialista, como ele mesmo diz, em
tirar sons ritmados batendo numa dessas latinhas.
Com
bonitas tomadas do cantor em meio aos arranha-céus da cidade de São
Paulo, ele vai contando casos pitorescos e os principais momentos de sua vida
de artista. Numa roda de samba de bar, rodeado de amigos instrumentistas, Germano
Mathias mostra alguns de seus sucessos mais conhecidos. Como Guarde a Sandália
Dela e O Escurinho com o qual ganhou o Prêmio Roquete Pinto, na década
de 50. Com o tempo, o chapéu, os sapatos brancos, confeccionados com couro
de bezerro, e as roupas quase sempre muito coloridas foram incorporando ao estilo
muito próprio de se vestir. Eu uso chapéu, ó, bem malandreado.
Além do chapéu, sapatos bem lustrados e roupas bem tradicionais
de sambista de antigamente, diz o cantor numa entrevista concedida a Assis
Angelo. A estrela de Germano parece que começa a brilhar outra vez. A mídia
parece tê-lo redescoberto depois do filme do professor Paulo Bastos. Abriu-lhe
as portas para a televisão. Apareceu no programa do Jô Soares, na
Globo, no Passando a Limpo, da TV Record do Boris Casoy, e no Zoom da TV Cultura.
O compositor
paulista costuma dizer que sua voz é uma voz pequena, invocada. A
minha voz tem cinco f, ou seja, é fina, feia, fraca,
fedegosa e fulêra. Quer dizer, com todos esses f não
dá para arriscar outro gênero musical não, além do
sambinha aí meio feijão-com-arroz, diz irônico. Germano
Mathias é um artista que ganhou muito dinheiro com a venda de disco e shows.
Até 1992 havia gravado 17 LPs e vários compactos, além de
discos de 78 rpm. Hoje vive modestamente num prédio em Parada de Taipas,
perto de Francisco Morato, em São Paulo. É casado com Nice e é
avô de treze netos. Está com 67 anos.