Ferramenta otimiza produção de petróleo
MANUEL ALVES FILHO
Ferramenta desenvolvida por pesquisadores da Unicamp tem dado importante contribuição para a tomada de decisões na área de exploração de petróleo. Por meio de um simulador numérico, abastecido com dados geológicos, econômicos e tecnológicos, os cientistas conseguem promover a análise de risco de um empreendimento. Uma curva representando cenários pessimistas, moderados e otimistas aponta a probabilidade de o investimento obter ou não retorno financeiro. "Com o auxílio desse recurso, as decisões continuam oferecendo riscos, mas tornam-se mais técnicas. Eventualmente, é possível adquirir mais informações ou adiar a decisão baseada nos resultados obtidos", afirma o coordenador do projeto, o professor Denis Schiozer, da Faculdade de Engenharia Mecânica (FEM).
Volume da reserva pode ser estimado
De acordo com Schiozer, o objetivo dessa linha de pesquisa, iniciada em 1996 com o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), é otimizar as estratégias de produção de petróleo. O docente da Unicamp lembra que após a descoberta de um campo petrolífero é preciso fazer a perfuração, de modo a verificar as propriedades do óleo e das rochas onde ele está armazenado. "Como a maioria dos reservatórios brasileiros está localizada no mar, a mais de 2 quilômetros de profundidade, muitas informações necessárias à tomada de decisão sobre a exploração do petróleo permanecem desconhecidas", explica.
A missão da ferramenta desenvolvida pelos pesquisadores da Universidade é justamente trabalhar com os dados disponíveis e com as incertezas, de modo a modelar o comportamento dos reservatórios. Depois do cruzamento de diversas variáveis e de muitas simulações numéricas, os especialistas fazem a análise de risco do negócio. Assim, é possível estimar o volume da reserva (quantidade de combustível economicamente viável de ser extraída, índice com média em torno de 20% a 30% do total), os modelos de prospecção e o prazo para o retorno do investimento, entre outras projeções.
Conhecer as probabilidades do empreendimento vingar é fundamental para o planejamento das diversas etapas que envolvem a exploração de petróleo. A construção de uma plataforma petrolífera, por exemplo, demanda vários anos, por conta do processo de licitação. Além disso, exige altíssimos investimentos. As iniciativas nessa área, portanto, não podem ser tomadas sem um suporte técnico, sob o risco de gerarem grandes prejuízos. De acordo com Schiozer, o simulador numérico também pode ser usado para flexibilizar as decisões.
Os cenários criados pela ferramenta podem "recomendar" o adiamento da exploração ou até mesmo "sugerir" que o projeto seja executado em etapas. "Normalmente, num campo de petróleo são perfurados vários poços. As simulações podem indicar quais são potencialmente mais produtivos e quais devem começar a operar primeiro, de modo a antecipar receitas", revela.
A ferramenta pode ajudar, ainda, a orientar o momento em que um campo petrolífero deve ser abandonado. Isso normalmente ocorre quando a produção é pequena. Acontece, porém, que o preço do barril de petróleo pode sofrer uma grande alta após o encerramento das operações, por conta de vários fatores. Nesse caso, o que era economicamente inviável passa a ser interessante. Com base nas simulações numéricas, uma resolução desse tipo pode ser tomada com fundamento técnico, minimizando assim as possibilidades de prejuízos.
Cerca de 30 especialistas, entre professores, pesquisadores e pós-graduandos, estão trabalhando na linha de pesquisa, que conta atualmente com financiamento da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep/CTpetro), Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq/CTpetro) e Petrobras. O aporte de recursos gira em torno de R$ 400 mil ao ano. Estão envolvidos nos estudos a FEM, o Centro de Estudos do Petróleo (Cepetro) e o Instituto de Geociências.