| Edições Anteriores | Sala de Imprensa | Versão em PDF | Portal Unicamp | Assine o JU | Edição 333 - 14 a 20 de agosto de 2006
Leia nesta edição
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Artigo: Burocracia e Biodiversidade
Cartas
Geociências e nova era
Origem do mel
Aroma e prevenção de doenças
Muitos mundos
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Agualusa e o mundo
Teatro infantil
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Livro
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Jabuti
Ajuda de cão-guia
Desfibrilador em estabelecimentos
Prêmio Bunge
 

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Pesquisa do IQ permite certificar qualidade do produto
para exportação e diminuir fraudes no mercado interno

Técnica identifica
origem do mel e presença
de substâncias estranhas

Alexandra Sawaya, Ildenize Cunha, Fabiane Nachtigall, Rodrigo Catharino e Elaine Cabral no Laboratório Thomson: técnica apresenta o resultado em 1 minuto.  (Foto: Antoninho Perri)Um contingente estimado em 500 mil pessoas, algo como metade da população de Campinas, vive atualmente da apicultura no Brasil. O setor, que produz cerca de 45 mil toneladas de mel ao ano, exporta metade desse volume, o que tem gerado importantes divisas ao país, dado que cada tonelada do alimento pode alcançar até US$ 2 mil (R$ 4,2 mil) no mercado internacional. Os números do setor só não são mais alvissareiros por conta de um problema que compromete a qualidade e, conseqüentemente, a competitividade do produto brasileiro em âmbito mundial: o “batismo”. Atualmente, os fraudadores usam diversos aditivos para adulterar o mel: desde o caramelo, relativamente comum, até o óleo de soja, o mais surpreendente de todos. Contra esse tipo de falsificação, um grupo de pesquisadores do Instituto de Química (IQ) da Unicamp acaba de desenvolver uma metodologia capaz de identificar, em apenas 1 minuto, tanto a origem dos méis (eucalipto, silvestre, laranjeira etc) quanto a presença de eventuais substâncias estranhas à sua composição original.
O grupo coordenado pelo professor Marcos Eberlin atua no Laboratório Thomson de Espectrometria de Massas. De acordo com o cientista de alimentos Rodrigo Catharino, um dos membros da equipe, o objetivo principal da pesquisa foi desenvolver um método que permitisse a certificação do produto nacional quanto à sua integridade. “Isso é extremamente importante, pois os países que mais importam mel, como é o caso da Alemanha, são muito criteriosos quanto à origem e qualidade dos alimentos”, explica. E são mesmo. Em março de 2006, por exemplo, a União Européia suspendeu a compra do mel brasileiro. A medida foi baseada em decisão da Federação Européia de Comércio de Produtos do Agronegócio, que teria constatado resíduos de antibióticos no produto nacional.

Adulteração é feita com caramelo, xarope e até óleo de soja

A certificação, conforme a pós-doutoranda Ildenize Cunha, garante ao consumidor que ele está comprando um mel livre de adulteração e/ou contaminação. “Com isso, é possível agregar valor ao produto, pois a autenticidade é um aspecto que contribui para a elevação do preço final da mercadoria”, ensina. O método desenvolvido pelos pesquisadores do IQ é relativamente simples, afirma Rodrigo Catharino. Para chegar à técnica, primeiro os cientistas obtiveram amostras de méis diretamente de apicultores. Estas tiveram a suas composições devidamente caracterizadas, com o auxílio de um equipamento chamado espectrômetro de massas.

Depois, foi a vez de os pesquisadores adquirirem diferentes marcas de méis em supermercados e outros pontos comerciais. Amostras dos produtos foram misturadas a uma matriz em pó, denominada DHB, e também analisadas no espectrômetro de massas, a partir de uma técnica batizada de Maldi. Ao confrontar os resultados, que saem em apenas um minuto na forma de gráficos, os especialistas constataram que a maioria dos méis presentes no mercado apresenta algum grau de adulteração. O caso mais grave ocorreu com o mel de laranjeira. Entre as substâncias estranhas estava o óleo de soja. “Esse dado nos surpreendeu. Jamais poderíamos imaginar que esse tipo de aditivo fosse empregado para adulterar o mel”, admite Catharino.

O “batismo” – De acordo com Alexandra Sawaya, que acaba de concluir o doutorado no IQ, as substâncias utilizadas com mais freqüência no “batismo” dos méis são o caramelo, o xarope de glicose e o açúcar invertido, este último um ingrediente muito usado pela indústria de balas e que consiste em um xarope feito a partir do açúcar comum. Um outro subterfúgio empregado pelos fraudadores de mel, destaca Alexandra, é colocar baldes com xaropes de açúcar perto das colméias. Dessa forma, as abelhas se alimentam diretamente desse líquido e deixam de buscar o néctar nas flores. “Infelizmente, esse tipo de adulteração é muito difícil de ser identificado, pois o procedimento não altera de forma significativa as características do mel. Quando muito, só é possível detectar uma sombra da adulteração”, diz.

Além de configurar crime, a falsificação do mel pode trazer conseqüências negativas à saúde do consumidor, como assinalam Fabiane Nachtigall e Elaine Cabral, doutorandas do IQ. Segundo elas, muitas pessoas consomem o alimento em virtude das suas propriedades medicinais. “O mel tem substâncias que são antioxidantes. Ora, quem opta por esse tipo de alimento é porque não quer consumir somente uma fonte de açúcar, mas está interessado também nos componentes funcionais que existem no mel”, afirma Fabiane. De acordo com Rodrigo Catharino, a caracterização dos méis brasileiros faz parte do esforço do Laboratório Thomson para desenvolver metodologias que ajudem a conferir maior credibilidade aos produtos apícolas nacionais. “Nós já fizemos isso com a própolis e estamos iniciando os testes também com a geléia real. Aos poucos, estamos criando pequenos bancos de dados e comprovando, na prática, que o Brasil não precisa importar tecnologia ou pessoal para atuar nessa área”, analisa.

Anti fraude – Os pesquisadores do Laboratório Thomson de Espectrometria de Massas têm se notabilizado nos últimos anos, entre outros aspectos, por assumirem a condição de “caçadores de fraudes”. Com o auxílio do espectrômetro de massas, eles desenvolveram métodos para a caracterização de produtos como gasolina, bebidas alcoólicas, óleos comestíveis, perfumes e méis, todos presentes no cotidiano do consumidor brasileiro. Além disso, valeram-se da versatilidade do equipamento para também conceberem técnicas que identificam, por exemplo, possíveis substâncias tóxicas em alimentos. Nessa linha, os cientistas do IQ empregaram a tecnologia para verificar a presença de aflatoxina no amendoim e ainda criaram uma metodologia capaz de diferenciar os cultivares de soja transgênica, normal e orgânica. Todas as análises são feitas em menos de um minuto e com altíssimo grau de confiabilidade.

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