O desfibrilador, aparelho que emite choques elétricos em caso de parada cardíaca, pode ser a diferença entre a vida e a morte. Se o equipamento for usado para a ressuscitação diopulmonar nos primeiros 4 minutos de uma parada respiratória, as chances de sobrevida são de 40%; sem nenhum atendimento inicial e chegando em 10 minutos ao hospital para o suporte avançado, as chances do paciente serão de zero a 2%. Nesse sentido, o fisioterapeuta Carlos Ovalle defende a instalação do aparelho em locais com intensa circulação de pessoas, informando sobre a existência de desfibriladores automáticos que podem ser operados por leigos e, em casos de urgência, salvar muitas vidas.
A morte em 2004 do jogador Serginho, do São Caetano, trouxe à tona a necessidade de acesso rápido aos cuidados iniciais no caso de parada cardíaca, destacando a importância do aparelho. Carlos Ovalle afirma que o treinamento de leigos deveria ser oferecido por hospitais, citando o exemplo do HC de São Paulo, onde inclusive os ascensoristas estão preparados para usar o desfilibrador.
“A importância do treinamento prévio no uso do desfibrilador externo automático por fisioterapeutas e enfermeiros” é o título da dissertação de mestrado que Ovalle apresentou na Faculdade de Ciências Médicas, sob orientação do professor Sebastião Araújo. Ele argumenta que o atendimento avançado realizado no paciente internado, feito pela equipe médica, é fundamental, mas que algumas categorias profissionais poderiam treinadas para uso do aparelho. Em tempo entre a ocorrência e o socorro poderia ser menor, caso todos estivessem devidamente preparados para utilização do modelo externo e automático. “A primeira pessoa que percebesse o incidente já recorreria ao aparelho, até a chegada da equipe especializada”, sugere.
Por outro lado, esclarece o fisioterapeuta, o socorro prévio que acontece fora do hospital e que constitui a maioria das ocorrências poderia ser feito por qualquer pessoa. Nesses casos, seriam utilizados os equipamentos automáticos de fácil manuseio. Por isso, Ovalle insiste na importância do equipamento em locais públicos para reduzir o tempo de atendimento, iniciativa já tomada em algumas cidades. Em Londrina, uma regulamentação, obriga a instalação do desfilibrador em estabelecimentos comerciais e bancos, por exemplo. No Estado de São Paulo, a cidade de Araras é a pioneira em também estabelecer legislação a respeito. “São iniciativas pontuais que poderiam ser estendidas para todo o país, caso fosse votado o projeto de lei sobre o assunto que tramita no Congresso há três anos”.
Pesquisa O estudo realizado por Carlos Ovalle, além de sustentar a importância de discutir o tema nos hospitais brasileiros, traz outras conclusões sobre a facilidade de uso do desfibrilador. Ele comparou dois grupos distintos dentro de um hospital universitário, somando um total de 40 voluntários. Um deles com e o outro já havia sido treinado. Obviamente, os indivíduos treinados precisaram de menos tempo para acionar o aparelho, mas o detalhe é que o desempenho dos não treinados superou as expectativas. Com notas de zero a 17, a maior do grupo treinado foi 14, maior do grupo; entre os não treinados, a maior nota foi 13. Na média, os treinados tiveram nota 12 e os não treinados ficaram com nota 6. Com relação ao tempo, principal item a ser considerado, a média entre os treinados de 2,2 minutos, e do grupo de 2,49, sendo que maior tempo para o socorro não ultrapassou o considerado ideal de 4 quatro minutos, ficando em 3,58. Segundo Carlos Ovalle, os dados comprovam a facilidade no manuseio do equipamento, que possui comando de voz e funções programadas. Os passos são indicados no próprio desfilibrador, mas ainda assim o fisioterapeuta sugere um treinamento de no mínimo quatro horas.