Falta investimento em
fontes renováveis de energia, diz pesquisador
Dispersão de atividades e desinteresse de empresas no esforço de inovação impedem diversificação da matriz energética
MANUEL ALVES FILHO
Estudo de prospecção tecnológica coordenado pelo professor Gilberto Jannuzzi, do Departamento de Energia da Faculdade de Engenharia Mecânica (FEM) da Unicamp, constatou que embora disponha de pessoal capacitado e recursos razoáveis, o Brasil não consegue obter bons resultados no que se refere ao desenvolvimento de novas tecnologias no segmento de fontes renováveis de energia. Isso acontece, segundo a pesquisa, porque existe grande dispersão de atividades e pouca participação da iniciativa privada no esforço de inovação.
O trabalho conduzido por Jannuzzi é o resultado de duas experiências pessoais, uma como secretário técnico do Fundo Setorial de Energia do Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT), cargo que ocupou até o último mês de março, e a outra como diretor para a América Latina do International Energy Initiative (IEI), organização sem fins lucrativos que tem uma de suas sedes na Unicamp e promove a cooperação entre países em desenvolvimento. Um dos interesses do IEI é estudar os impactos das reformas do setor energético em atividades de interesse público. Essa investigação rendeu um livro que será publicado ainda este ano. O docente da FEM é responsável pelo capítulo sobre pesquisa e desenvolvimento (P&D).
Ao longo do estudo, Jannuzzi identificou uma série de obstáculos no caminho para dotar o Brasil de tecnologias que permitam diversificar a sua matriz energética. Concorre a favor desse esforço o fato de o País contar com grupos de pesquisas de qualidade internacional. Além disso, os recursos investidos nessa área são significativos para uma nação em desenvolvimento. Nos últimos dois anos, foram empregados cerca de R$ 30 milhões em projetos voltados para energia solar e eólica, além da biomassa. O dinheiro veio do Fundo Setorial de Energia, do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e das concessionárias de energia elétrica. Não estão computados ainda nesse cálculo os financiamentos do Fundo Setorial do Petróleo e Gás Natural (CT-Petro).
Entretanto, esse arcabouço científico e institucional não tem conseguido superar alguns problemas prementes. "Analisando os projetos existentes nessa área, fica patente a dispersão das atividades, a duplicidade de temas e a pequena participação da empresa privada no investimento em P&D", afirma. Na opinião do especialista da Unicamp, está faltando articulação e estratégia, tarefas que deveriam ser assumidas pelo governo federal. O financiamento poderia vir dos fundos setoriais, política que vem demonstrando bons resultados em alguns setores.
Na opinião de Jannuzzi, esse melhor planejamento das atividades precisa ser executado o quanto antes, sob pena de o Brasil continuar dependente tecnologicamente. O momento, de acordo com ele, é de mobilizar competências e estabelecer metas. Ao não dotar a sua indústria com capacidade de inovação, o País segue importando equipamentos e pressionando a sua balança de pagamentos. Somente em 1996, foram gastos cerca de US$ 14 milhões em importações de equipamentos para a área de energia solar fotovoltaica, sendo a média anual em torno de US$ 9 milhões durante 1990-2002.
Até o momento, afirma o docente da Unicamp, o Brasil tem tido modestos avanços na busca de maior competitividade na geração de componentes para várias tecnologias de fontes renováveis. Em boa parte do País existe grande incidência de sol e de ventos, o que favorece a geração de energia através dessas alternativas. O uso da biomassa, conforme Jannuzzi, está bem mais adiantado, mas também carece de rumo. "As fontes renováveis não vão resolver o problema energético brasileiro, mas está claro que não podemos prescindir delas. Os projetos nessa área não só incrementariam a nossa matriz energética, como ajudariam na preservação do meio ambiente, gerariam empregos e aliviariam a nossa balança comercial e de serviços", analisa.
De acordo com o autor do estudo, o Brasil tem a intenção de fazer com que as fontes renováveis respondam, até 2010, por cerca de 10% da matriz energética nacional. Além disso, duas importantes iniciativas no âmbito federal que são o PROINFA e a obrigação da universalização dos serviços de eletricidade sinalizam a criação de um mercado muito interessante para as fontes renováveis. Para que essa meta seja atingida e para que a industria nacional seja capaz de maior inserção competitiva nesse novo mercado, reforça o especialista, o Brasil precisará articular os programas existentes, as competências e as oportunidades de financiamento para pesquisa aplicada. Atualmente, Jannuzzi está iniciando uma nova pesquisa de prospecção tecnológica, esta mais abrangente. O trabalho deve ser financiado pelo próprio IEI, pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e possivelmente pelas concessionárias de energia elétrica. O objetivo é obter uma visão mais abrangente das oportunidades para as tecnologias de energia nos próximos 20 anos.