Saúde
Nutricionista liga obesidade a má alimentação
Pesquisa feita com grupo de crianças da periferia de Campinas constata que maioria dos avaliados tem acúmulo de gordura no organismo
Antonio Roberto Fava
Pesquisa desenvolvida com 315 alunos de 1a a 4a série de uma escola da rede do ensino público, periferia de Campinas, revela que a maioria delas apresentava peso acima do normal, devido ao acúmulo de gordura no corpo. A constatação é resultado da dissertação de mestrado Antropometria e bioimpedância elétrica na avaliação nutricional de escolares de baixo nível socioeconômico da nutricionista Monize Cocetti, defendida recentemente na Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Unicamp.
A pesquisa, realizada no ano de 2000, sob a orientação do professor Antonio de Azevedo Barros Filho, analisou 161 meninas e 154 meninos, por meio de medidas de peso, altura, idade, circunferência da cintura, do braço, pregas cutâneas e avaliação da composição corporal por intermédio do método de bioimpedância elétrica. Para a avaliação do estado nutricional, foi calculada a distribuição do IMC (Índice de Massa Corpórea) do aluno.
Monize diz que não trabalhou com dados sobre alimentação das crianças e a prática de atividade física. Revelou, porém, que os resultados a que chegou levam-na a deduzir que provavelmente essas crianças consomem carboidratos e gordura em excesso, em detrimento a alimentos mais saudáveis, e são efetivamente sedentárias. Portanto, armazenam maior quantidade de gordura no organismo. Já o comportamento das reservas de massa magra no organismo pode ser devido à baixa ingestão de proteínas e minerais, assim como influência de fatores socioeconômicos. E complementa afirmando que “desnutrição e obesidade são dois sérios problemas que afetam de maneira significativamente a sociedade moderna. Principalmente as crianças em idade escolar, que podem ter o seu desenvolvimento seriamente prejudicado”.
As crianças avaliadas apresentavam peso e altura semelhantes ao referencial internacional recomendado pela Organização Mundial de Saúde (OMS). O estudo da composição corporal permite também monitorar mudanças que ocorrem associadas às doenças. Na obesidade, o aumento de riscos à saúde está relacionado não apenas com a quantidade total de gordura corporal, mas também com a maneira pela qual a gordura está distribuída, especialmente na região abdominal, denominada também de gordura visceral.
O padrão de adiposidade condição em que o peso corporal pode não exceder o normal, mas é excessiva à proporção de gordura nele existente observado na população analisada, indica a necessidade de políticas públicas que visem à prevenção precoce de desvios nutricionais, por meio de programas de educação e orientação a um estilo de vida saudável que atinja escolares de todos os níveis socioeconômicos. “Além de estudos que enfatizem a avaliação da composição corporal em crianças e adolescentes”, enfatiza a pesquisadora.
A pesquisadora, que é nutricionista, explica que o seu trabalho “não representa os escolares de baixo nível econômico de Campinas. Portanto, a pesquisa evidentemente não se encerra por aqui, permanecendo aberta a outras investigações científicas mais profundas, observando, por exemplo, detalhes não abordados na minha tese. Mas é uma hipótese que certamente podemos avaliar dentro de uma outra perspectiva no município, a partir de um grupo maior”, diz.
Diante do perfil apresentado pelas crianças investigadas, Monize diz que comunicou aos pais das crianças cujo peso estava acima do normal, fornecendo-lhes algumas orientações nutricionais. “Recomendei, antes de mais nada, que encaminhassem seus filhos ao Centro de Saúde para que passassem por um atendimento mais acurado”, finaliza a pesquisadora.
Estudo constata novas propriedades da rúcula
Manuel Alves Filho
Uma tese de doutorado defendida recentemente por Érika Maria Marcondes Tassi Granja na à Faculdade de Engenharia de Alimentos (FEA) da Unicamp comprovou que a biodisponibilidade de carotenóides (substâncias antioxidantes e provitamínicas A) na rúcula é mais significativa do que apontavam estudos anteriores. A conclusão da pesquisa reforça a viabilidade da adoção de programas que incentivam o consumo de vegetais verdes folhosos na prevenção da hipovitaminose A. A deficiência de vitamina A é uma doença nutricional grave, sendo causa freqüente de baixa taxa de crescimento, baixa imunocompetência e deficiência visual, esta última chegando em casos extremos à cegueira. No Brasil, assume características endêmicas em áreas do Norte e do Nordeste, especialmente em regiões onde as verduras não são plantadas e não existem hábitos de consumo. Mais de 3 milhões de crianças no mundo apresentam sinais clínicos desse quadro geral.
Érika conta que optou pela rúcula por se tratar de um vegetal de consumo já arraigado em certas regiões e de mercado em expansão, embora pouco conhecido com respeito à sua composição. O objetivo da pesquisa foi justamente analisar alguns nutrientes-chave do alimento e determinar a biodisponibilidade dos carotenóides, tanto na folha crua quanto na cozida. A pesquisadora levou um ano para padronizar a metodologia. Participaram do estudo 15 mulheres adultas e saudáveis, que foram separadas em dois grupos. O primeiro, formado por dez voluntárias, foi orientado a ingerir, durante três dias, alimentos isentos de fontes de carotenóides. No quarto dia, foi feita a coleta de sangue em jejum. Logo em seguida, as mulheres ingeriram uma refeição experimental constituída por rúcula crua e 15gramas de gordura. Na seqüência, foram feitas novas coletas de sangue nos tempos de duas, quatro e seis horas.
O mesmo procedimento foi adotado depois de 60 dias, dessa vez com as voluntárias consumindo a folha cozida por cinco minutos. O segundo grupo de cinco mulheres, chamado de controle, recebeu uma cápsula contendo betacaroteno em vez do vegetal. Conforme Érika, a medição da absorção de carotenóides não foi feita diretamente no sangue, pois isso provoca distorções nos resultados, devido aos processos de diluição e estoque do betacaroteno no organismo. “Os mais recentes trabalhos nessa área indicam a medição nos quilomícrons, compostos que são separados do soro por meio de ultracentrifugação”, explica.
Como resultado de todo esse trabalho, Érika constatou que a absorção de carotenóides após o consumo da rúcula não é tão baixa como apontam alguns estudos do fim da década passada, ficando estas taxas muito acima do nível esperado. Cálculos feitos pela autora da tese apontaram que a absorção média para o grupo que ingeriu a folha crua fica acima de 30%.
Durante a caracterização química da rúcula, a pesquisadora constatou, ainda, que a verdura é rica (46% do óleo) em ácido alfa-linolênico, mais conhecido como ômega-3. Essa informação também foi um achado, pois a literatura consultada não fazia menção a esse fato. A deficiência de ômega 3 na alimentação é considerada um fator de propensão às doenças coronarianas. “A partir do meu estudo, fica claro que o consumo de vegetais verdes folhosos deve continuar sendo utilizado na prevenção da hipovitaminose A, medida que pode trazer benefícios no combate a outros tipos de doença também”, afirma.