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Falta criar rede de parcerias, diz Pacheco

Ex-secretário executivo do MCT acha que
País despertou para a importância da inovação tecnológica

CLAYTON LEVY

O professor Carlos Américo Pacheco, que coordena a implantação da Inovacamp: "interesse à Unicamp atrair empresas de base tecnológica para o seu encontro"O professor do Instituto de Economia da Unicamp e secretário executivo do Ministério da Ciência e Tecnologia durante o governo FHC, Carlos Américo Pacheco, não tem dúvidas de que o Brasil está despertando para a necessidade de promover a inovação tecnológica. "Há um forte interesse nesse sentido, não apenas por parte do setor privado, mas também entre as instituições voltadas para pesquisa e desenvolvimento", diz. O que falta, segundo Pacheco, é criar mecanismos capazes de gerar uma rede de parcerias voltadas para pesquisa e inovação. É com essa missão que ele está coordenando a implantação da Agência de Inovação da Unicamp (Inovacamp), inspirada em similares existentes em universidades de ponta nos países desenvolvidos, mas a primeira do gênero no Brasil. "Não tenho dúvidas de que essa iniciativa também será seguida por outras instituições de pesquisa", afirma. Em entrevista ao Jornal da Unicamp, Pacheco detalhou o funcionamento da nova agência.

JU - Qual a principal diferença entre a agência de inovação e o Escritório de Difusão e Serviços Tecnológicos (Edistec)?

Pacheco - A primeira mudança mais sensível é que a agência não está simplesmente voltada para conseguir recursos através das parcerias com empresas ou governo. Está voltada para montar uma estratégia de relacionamento de médio e longo prazo com esses atores externos. Nós teremos parceiros estratégicos no País pelos próximos 20 ou 30 anos. Não se trata apenas de transferência de tecnologia ou prestação de serviços.

JU - Por que essa estratégia é importante para a universidade?

Pacheco - Não há dúvida de que empresas como a Petrobrás, Embraer e outras que tenham a tecnologia do conhecimento como uma estratégia empresarial importante têm interesse em manter um relacionamento com a Unicamp. Não se trata do interesse fortuito em relação a um projeto específico. É algo a longo prazo. Hoje, é difícil para estas instituições, pelo seu porte, conhecer o grau de colaboração que a Unicamp pode oferecer. Da mesma forma, é difícil para a Unicamp conhecer estas estratégias empresariais de médio e longo prazo. Então a agência deverá conhecer as estratégias dessas empresas no médio e longo prazo e o potencial de colaboração que a Universidade pode oferecer. Não se trata de buscar parcerias apenas visando recursos. Estamos olhando mais para frente, no sentido de que a universidade terá um conjunto de parceiros estruturais nos próximos anos, como teve no passado. Toda a rede de fibra ótica usada atualmente no País foi construída a partir de alianças da Unicamp com o CPqD e um conjunto de empresas especializadas, algumas delas criadas justamente no decorrer desse processo.

JU v Como esses parceiros serão identificados?

Pacheco - A idéia é ter na agência um corpo técnico que se dedique de forma personalizada a entender as necessidades e as demandas dessas empresas e o potencial de colaboração que a Unicamp pode oferecer. Vamos identificar esses interesses através de uma agenda ampla.

JU - Que agenda é essa?

Pacheco – Há interesses específicos para cada caso. Algumas empresas se interessam por programas de especialização, outras por transferência de tecnologia e assim por diante. Por outro lado, interessa à Unicamp atrair empresas de base tecnológica para o seu entorno. Nesse aspecto, a agência assumirá uma função importante, que é coordenar a participação da Unicamp na consolidação do parque tecnológico que será implantado ao redor da universidade.

JU - Como a agência irá gerenciar esse processo?

Pacheco - A questão do parque tecnológico não depende exclusivamente da Unicamp. Depende também do governo do Estado, prefeitura e outros parceiros. Há em Campinas um número expressivo de instituições voltadas para pesquisa tecnológica. O parque interessa a todos e ao governo do Estado. Por isso, precisamos ter na Unicamp um grupo que se dedique a cuidar dessa questão. A universidade foi contemplada com recursos estaduais, municipais e federais para estudar a viabilidade do parque. É preciso dar um tratamento profissional a isso. Estabelecer um parque tecnológico nessa região é algo que beneficiará todo o país.

JU - Que tipo de empresas se pensa em atrair para o parque tecnológico?

Pacheco - O parque ainda está sendo objeto de um estudo de viabilidade. Trata-se de um empreendimento imobiliário de grande porte. A Idéia é que o parque seja muito mais focado em atividades de pesquisa do que na atividade industrial. O objetivo é convidar para se instalar no entorno da Unicamp indústrias baseadas em pesquisa ou atividades de pesquisa e desenvolvimento em empresas que se interessem em estar no parque e se beneficiar da massa crítica existente na Universidade. Isso pressupõe um planejamento estratégico que está em curso. Campinas tem uma vocação muito forte na área de tecnologia da informação. Durante as décadas de 1980 e 1990, quase todos os investimentos nessa área feitos no País ocorreram na região de Campinas. A Nortel está aqui, o centro de pesquisas da Erikson veio para Indaiatuba, a Motorola está aqui ao lado (Jaguariúna), a Lucent está em Campinas etc. Isso tem a ver inclusive com a história da Telebrás e do CPqD.

JU - E quanto à área de biotecnologia, que também está despontando na iniciativa privada?

Pacheco - É outra novidade importante em relação ao parque tecnológico. Empresas novas em biotecnologia, intensivas em pesquisa e desenvolvimento, como Alellyx e Scilla, também estão escolhendo a região de Campinas como base para suas instalações. Há um número ainda pequeno de empresas nessa área, mas suficiente para mostrar uma nova vocação da cidade. Há também um grande interesse do capital de risco em investir no ramo de biotecnologia, o que abre uma possibilidade grande de ação nessa área. Além de tecnologia da comunicação e biotecnologia, há outros setores emergentes que também deverão integrar o parque tecnológico. É o caso de pensarmos, por exemplo, se São Paulo não poderia vir a ter um instituto de nanotecnologia diferenciado em relação ao que já existe hoje no País. Esse instituto poderia estar localizado no parque tecnológico. Isso tudo está sendo estudado nesse momento. O objetivo é que a modelagem financeira e institucional do parque esteja concluída até o final do próximo ano.

JU - Em relação ao registro de propriedade intelectual, como a agência deverá atuar?

Pacheco- A agência dará suporte aos docentes no que diz respeito a licenciamento e registro de propriedade intelectual. Muda um pouco em relação ao que o Edistec (Escritório de Difusão e Serviços Tecnológicos) já realiza hoje porque será uma atividade mais reforçada no sentido de que caberá à agência propor aos órgãos superiores da Universidade a política de propriedade intelectual da Unicamp. Haverá um esforço maior na busca do licenciamento das patentes e não apenas em relação ao seu registro.

JU - Quais as principais dificuldades enfrentadas pelos docentes nessa área?

Pacheco- Há muitas dificuldades, desde a falta de informações no setor privado até a orientação sobre o que registrar. Escritórios desse tipo em outras universidades fora do Brasil atuam muito mais na busca do licenciamento do que do registro. Registra-se aquilo que é licenciado. Antes de buscar o registro procura-se saber primeiro se há parceiros interessados em licenciar determinado tipo de desenvolvimento. É preciso fazer essa interface com o setor privado para identificar empresas dispostas a licenciar determinado produto para efeito de sua aplicação. Haverá maior suporte aos pesquisadores na área de contratos junto às agências de fomento, mas também junto ao setor privado para transferência de tecnologia.


JU - Nesse aspecto a agência também passará a cuidar da incubadora de empresas da Unicamp?

Pacheco- Sim. A incubadora da Unicamp ainda é pequena para o potencial da Universidade. Há a necessidade de ampliar a sinergia com as outras duas incubadoras existentes em Campinas, a Ciatec e a Softex, para ampliar a escala de trabalho nesse campo, já que o potencial de oportunidades é grande. Precisamos fazer uma reforma na área de incubação

JU - A Agência também pretende ampliar a capacidade da Unicamp de obter recursos junto aos fundos setoriais. Como isso será feito?

Pacheco - Todas as possibilidades de fomento estão em aberto e podem ser potencializadas pela agência. Não só em relação aos fundos setoriais, mas também no que diz respeito à Fapesp e CNPQ. A agência será um facilitador para estas parcerias e também para dar suporte aos nossos pesquisadores no acesso às agências de fomento. Isso já tem sido feito pelo Edistec e pela Funcamp, mas a idéia é ampliar e aprimorar esse trabalho e facilitar a vida do pesquisador. A diferença é que a agência irá atrás de projetos, identificando interesses comuns para possíveis parcerias. A agência não será apenas uma prestadora de serviços ao pesquisador que já tenha um projeto. Isso já é feito. A idéia é que a agência se antecipe, indo atrás de novas demandas.

JU - Isso significa que a agência sairá a campo para identificar as demandas e estabelecer a ligação entre a Universidade e os prováveis parceiros?

Pacheco - Há muitas coisas que nós podemos fazer. Para abrir caminho no setor privado teremos de ser cautelosos para não apresentar metas inviáveis. Não queremos criar expectativas e depois não dar conta delas. O que pretendemos de fato é inovar no que diz respeito ao relacionamento com o setor privado. Há um conjunto de coisas que interessam a entidades ligadas ao setor privado, como a federações da industria e Confederação Nacional da Indústria. São projetos comuns que a Universidade pode ajudar a montar, inclusive com outras universidades, no sentido de orientar as estratégias das empresas, fazer newsletters focalizando questões relevantes para determinados segmentos da indústria, e outros tipos de atividades que nos aproximam desses interesses, que também são relevantes para a Unicamp porque sinalizam quais são as tendências tecnológicas em cada um desses setores.

JU - Qual o risco dessa abordagem conferir um caráter mais utilitarista à pesquisa?

Pacheco - A universidade é um ente complexo. A função central da universidade é a formação de recursos humanos qualificados. No caso específico da Unicamp, a principal função hoje é formar uma classe dirigente para o País. Ninguém em sã consciência imaginaria que a missão seja diferente disso. Não se trata de imaginar que colocaremos a universidade a serviço do setor privado. Não é essa a perspectiva da agência. Nenhum de nós acredita que a universidade consiga fazer isso. Em todo o mundo, é a própria indústria que faz a inovação dentro de seu próprio âmbito. Nos países desenvolvidos cerca de 75% do esforço para pesquisa e desenvolvimento ocorre dentro do setor privado. A Unicamp não tem a pretensão de resolver todos os problemas do setor privado. Mas se olharmos para os outros países, vamos constatar que as parcerias entre estas instituições, visando a inovação tecnológica, são muito mais intensas do que no Brasil. Um recente pesquisa do IBGE revelou que os principais parceiros de inovação da indústria nacional são os fornecedores de máquinas e equipamentos. Em outros países similares ao Brasil, as empresas contratam desenvolvimento externo e fazem muita cooperação. Isso não significa que haja um fosso enorme entre o setor privado e as universidades. Aqui até há muita interação entre esse setores, mas essa interação poderia ser melhor organizada. A idéia é ampliar essa interação, sem alterar a missão principal da universidade, que é formar recursos humanos altamente qualificados.

JU - A área de humanidades também entra no raio de ação da nova agência?

Pacheco - Entra muito. Porque não estamos falando apenas em inovação na indústria, mas também em políticas públicas. A Unicamp tem uma enorme tradição de parceria nessa área. As avaliações de políticas públicas feitas pela Universidade, em várias áreas, são referência em termos de pesquisa para todo o País. E têm sido muito utilizadas nas parcerias com o poder público para avaliação e formulação de políticas.

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