O Raio de Sol atua na região do Jardim Fernanda, bairro periférico de Campinas. Propicia atividades de cultura, lazer, esporte e formação aos moradores, por meio de cursos e oficinas. Em dois anos, foram realizados cursos de artes plásticas, capoeira, culinária, ginástica e consciência corporal, teatro e outros. Oficinas como as de "Saúde da Mulher" e "Mulher - questão de gênero". Também foi organizado um passeio cultural. As atividades contemplaram crianças, jovens e adultos.
De acordo com a coordenadora Fumiko Takasu, professora do Centro de Ensino de Línguas (CEL), a despeito de alguns obstáculos, como a falta de experiência inicial em trabalhos de extensão comunitária, a empreitada tem sido positiva. Embora o Raio de Sol tenha sido um dos projetos a receber apoio institucional, segundo a professora, esse tipo de iniciativa ainda se ressente, historicamente, de suporte mais amplo para funcionar adequadamente. "Mesmo sem ter problemas com a questão econômica, a dificuldade de trabalhar em projetos dessa natureza é bastante grande. Imagine, então, os que precisam pensar estratégias de ação e ainda se preocupar com a obtenção de recursos?", indaga.
"Historicamente, a Universidade está muito voltada para as suas próprias questões, esquecendo a sua função extensionista, comunitária. O estabelecimento de vínculos com a comunidade externa é muito importante, pois é por meio dele que podemos compartilhar o conhecimento que é gerado nos nossos laboratórios e salas de aula", acrescenta a docente do CEL.
Agricultores - O professor Nilson Modesto Arraes, da Faculdade de Engenharia Agrícola (Feagri), concorda com a professora Fumiko. Segundo ele, que coordena o projeto Organização Rural de Agricultores Familiares em Campinas, a extensão comunitária jamais mereceu o mesmo tratamento dado ao ensino e pesquisa por parte da Universidade. "Ela premia e estimula a pesquisa e o ensino, mas não faz o mesmo com a extensão comunitária, que também é um dos seus pilares de atuação", lamenta.
Arraes afirma que os trabalhos sociais sobrevivem graças à paixão de alunos e professores. O projeto coordenado por ele começou a ser executado em meados de 2002. A primeira etapa consistiu em capacitar a equipe. "Quem faz trabalho social tem muito voluntarismo, mas nem sempre está devidamente preparado para isso. Se não houver cuidado com a profissionalização, a tarefa pode mais atrapalhar do que ajudar", adverte.
Capacitados, os integrantes dedicaram-se a buscar informações sobre a área rural, relativamente abandonada pelas sucessivas administrações municipais. Estudaram mapas, dados estatísticos e mantiveram contato com órgãos e instituições como Instituto Agronômico de Campinas (IAC) e Coordenadoria de Assistência Técnica Integral (Cati). Depois, saíram a campo para conhecer a realidade dos pequenos produtores rurais. Todo esse processo visou identificar os grupos de agricultores, bem como as suas demandas, de modo a verificar como o projeto poderia ajudá-los.
Descampado - A área escolhida para a execução das atividades extensionistas é conhecida como Descampado, na faixa sul de Campinas, às margens da rodovia Viracopos-Vinhedo. Lá, perto de 30 agricultores dedicam-se ao cultivo de uva, figo e goiaba. No pré-diagnóstico, os ruralistas manifestaram interesse em se organizar melhor, como forma de sensibilizar o poder público para seus pleitos e aprimorar as atividades de produção e venda de seus produtos.
A partir de agora, estarão sendo propostas ações aos pequenos produtores. O Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) já se comprometeu em participar do projeto, oferecendo um curso de Organização Rural. "Esse tipo de trabalho é importante, pois além de ajudar a reduzir desigualdades, aprimora a formação dos estudantes, que podem associar a teoria à prática", explica o professor da Feagri.