A ampla órbita de Jurandir Pitsch
Engenheiro eletricista formado na Unicamp é diretor de gigante do ramo de satélites
Antonio Roberto Fava
Ainda na adolescência, descobriu que os satélites e tudo o que se relacionava a eles lhe despertavam especial fascínio. Compreendeu que teria de estudar muito e investir nesse projeto de vida. Depois de 28 anos de estágios e empregos na área, o engenheiro elétrico Jurandir Pitsch, formado pela Unicamp, atua em uma das mais importantes operadoras e proprietárias de sistemas de satélites: a New Skies Satellites, com sede em Haia, na Holanda.
A empresa mantém escritórios comerciais em diversas partes do mundo, incluindo São Paulo, onde Pitsch é o diretor de vendas para a América Latina e Caribe, "
com responsabilidade maior sobre o Mercosul e Chile". A New Skies é basicamente uma fornecedora de banda satelital para projetos na área de vídeo (geradoras de televisão, estúdios, canais internacionais), sistemas de internet banda larga, redes corporativas, sistemas de telefonia rural e de atendimento a pequenas localidades. Fornece também troncos de telefonia em alta capacidade para cidades fora do alcance da malha terrestre e uma infinidade de outras aplicações num país continental como o Brasil. Aqui, a Embratel e algumas emissoras de televisão representam cerca de 70% do faturamento.
Aluno da turma de 1975, o engenheiro eletricista fez estágio no CPqD da Telebrás em1979, sendo contratado logo ao se graduar para atuar na área de comunicação por satélite, inicialmente como pesquisador e depois como chefe da área de sistemas. Permaneceu no CPqD por onze anos, até 1991. Aceitou convite da Villares Control, que seria comprada pela Comsat no Brasil, onde permaneceu como diretor de engenharia e operações e, posteriormente, como vice-presidente de marketing, até novembro do ano passado.
Mercado - Jurandir Pitsch explica que a New Skies é uma empresa nova no mercado. "Fundada em 1998, já nasceu grande, uma vez que foi um 'spin-off' do Sistema Intelsat, ou seja: parte do Intelsat acabou separada para poder atuar de maneira mais forte no mercado de televisão e de banda larga de dados, já contando com uma frota de satélites e uma base considerável de clientes", informa.
A empresa possui 270 funcionários espalhados pelo mundo todo, um faturamento de US$ 200 milhões de dólares e ativos na ordem de US$ 1 bilhão de dólares. No Brasil há apenas duas pessoas trabalhando no desenvolvimento de negócios. "É importante observar que uma empresa que oferece banda satelital não precisa de uma extensa rede de operação, seus ativos estão basicamente no espaço", ilustra.
O engenheiro integra ainda a comissão da Telexpo, coordenando a sessão de comunicações por satélite, e é diretor da Abests (Associação Brasileira das Empresas de Telecomunicações por Satélite). Integra também a Sociedade Internacional dos Profissionais por Satélite.
Bom aprendiz - Casado há dezoito anos com Nathanair Rodrigues Rocha, ex-funcionária da Justiça, Jurandir Pitsch tem uma enteada de 27 anos e uma filha do casal, de 15. Trabalha 13 horas por dia: sai de casa, em Campinas, às 7h e só retorna de São Paulo por volta das 21h. Um dos meus hobbies é a leitura - de ficção científica a negócios -, elegendo Norman Mailer entre seus prediletos. "Mas, na maioria das vezes, como não poderia deixar de ser, estou às voltas com livros da área tecnológica. Posso me considerar, sem falsa modéstia, meio que um autodidata", afirma.
No entanto, Pitsch ressalta que a formação didática recebida na Unicamp foi fundamental, principalmente porque o ensinou a aprender, fundamento que julga mais importante do que as disciplinas, que acabam se tornando obsoletas. "Tinha fama de bom aluno e alguns professores até me isolavam em dias de prova, para evitar que meus colegas colassem", conta. Mas talentos também erram: numa aula de laboratório, Jurandir quebrou a cabeça para resolver uma questão e, depois de muita discussão com o professor e alunos, conseguiu convencer a todos sobre a correção de seus cálculos. "Alguns dias depois descobri um erro de aritmética simples. Às vezes, a fama atrapalha o julgamento", admite.