Uma
aplicação de governo eletrônico para a TV digital foi desenvolvida
pela engenheira da computação Lara Schibelsky Godoy Piccolo
em dissertação de mestrado apresentada no Instituto de Computação
(IC). A partir do protótipo é possível, por exemplo, que
a população opine sobre o desempenho de uma administração
municipal. Mas nada impede, segundo Lara, que a interatividade
proposta seja usada para outros setores como educação, comércio
e bancos.
A importância do estudo desenvolvido pela engenheira da
computação reside justamente em identificar algumas das
principais questões que um designer encontrará ao projetar
uma interface de usuário para a população brasileira. Ela
identificou alguns parâmetros importantes como escolha de
fontes, combinação de cores, tamanho da tela e design. “Como
a regulamentação da TV digital não está pronta, existem
muitas perguntas a serem respondidas, mas o projeto segue
na proposta de avaliar o interesse da população em experimentar
a interação na TV”, destaca Lara, que teve a orientação
da professora Maria Cecília Calani Baranauskas.
A pesquisa contemplou ainda uma segunda etapa de testes
que foram realizados no município de Barreirinhas, no Maranhão.
Cinco grupos, totalizando 30 pessoas entre crianças, adolescentes,
adultos e idosos tiveram a oportunidade de manusear o sistema
pelo controle remoto da TV, respondendo às questões e opinando
sobre a administração municipal. A idéia, revela Lara, foi
criar um ambiente em que as pessoas pudessem se manifestar
para que a interatividade fosse caracterizada de maneira
coletiva.
Barreirinhas foi a cidade escolhida para o estudo por fazer
parte de um projeto de sistema de TV interativa, financiado
pela União Européia, que visa estabelecer uma integração
entre Itália e Brasil. O município, que dá apoio aos turistas
que visitam os Lençóis Maranhenses, possui um dos índices
de desenvolvimento humano mais baixos do país, e receberá
apoio operacional para a produção de conteúdo para TV digital.
A engenheira da computação observou ao longo da pesquisa
que a interatividade da população foi surpreendente. Um
dos integrantes mais velhos do grupo, um senhor de 86 anos,
se mostrou bastante motivado em participar da experiência
e não demonstrou nenhum tipo de resistência em relação à
tecnologia. Até mesmo os voluntários que não sabiam ler
quiseram se expressar com o auxílio de outros.
Lara acredita que o efeito deve-se ao fato de que a TV
já está incorporada na cultura do brasileiro e, por isso,
a interatividade deverá acontecer de forma natural, ao contrário
do que ocorre com o computador. Para que isso aconteça,
as interfaces de usuário para a TV interativa devem ser
projetadas levando em conta as necessidades de grande parte
da população, que não tem familiaridade com a tecnologia.
Para a pesquisadora, elas devem ser simples, convidativas
e auto-explicativas.