Unicamp
Jornal da Unicamp
Baixar versão em PDF Campinas, 09 de setembro de 2013 a 15 de setembro de 2013 – ANO 2013 – Nº 574Do berçário ao correio virtual
Funcionária da FCA, em Limeira, desenvolve projeto institucional de comunicaçãoJovem não lê mais e-mails acadêmicos. A menos que esteja esperando um convite ou uma resposta deveras atraente. Essa constatação, em 2012, levou uma equipe de funcionários da Faculdade de Ciências Aplicadas (FCA) de Limeira a criar um perfil de sua área acadêmica no Facebook. Como o plano de trabalho de Karina Venâncio, desde que ingressou na FCA em 2011, era justamente a parte de atendimento e comunicação, coube a ela desenvolver a página e ‘fazer funcionar’ a comunicação, definindo meios de abordagem, publicações e captura de conteúdo. Foi assim que conseguiu “laçar” os alunos para estabelecer uma comunicação eficaz com a galera desta chamada era da tecnologia.
A inquietação jovial de quem há muito tempo já era adepta da comunicação por rede social não suportou a demora ou a falta de retorno a e-mails. “Havia dificuldade. Tinha problema em comunicar coisas com prazo. Era muito difícil. Como não podemos mandar para e-mail pessoal e pouquíssimos acessavam e-mail da faculdade, muitas vezes, os alunos ficavam sem receber informações importantes. Conhecendo um pouco do perfil desses jovens internautas, encaminhei a proposta de criação deste perfil a seu superior, que rapidamente apoiou a ideia. “Garanto que a resposta é rápida, e as informações são eficazes. Em poucos minutos, sei quem leu, por meio da ferramenta ‘curtir’ ou por comentários e compartilhamentos”, acrescenta a funcionária.
Karina explica que o aluno da FCA tem um perfil diferenciado por, muitas vezes, trabalhar no período contrário da sala de aula e, neste caso, o novo sistema de comunicação favorece esses alunos. “Já aconteceu de um professor não poder vir para a aula no período noturno e nós conseguirmos evitar que o aluno viesse de seu trabalho, em outra cidade, para uma aula que não aconteceria”, relata.
Ela declara que, muitas vezes, por não conseguir falar por telefone, principalmente em períodos de pico, os alunos tinham de se enfileirar na secretaria de graduação para pedir uma simples informação, por exemplo, sobre lista de documentos. Depois da criação do perfil, Karina recebe alguns pedidos também da área administrativa para atender de forma mais rápida os estudantes.
O projeto, intitulado “Consolidação de perfil no Facebook da Área Acadêmica para a comunicação de assuntos acadêmicos”, faz parte de um Plano de Comunicação envolvido pelo Planejamento Estratégico da FCA. Em agosto, o trabalho recebeu o Prêmio Paepe 2013 pela comissão local da FCA. “Foi bom para mim, fiquei contente de ter ganhado porque a iniciativa de criar o perfil no Facebook facilitou a vida de muitas pessoas, inclusive da equipe da área acadêmica da FCA.”
Um dos principais motivos para apresentar o projeto à faculdade foi a lista de aprovados no vestibular de 2012 para os cursos de Limeira. “As informações para candidatos são vinculadas no site da FCA, mas na página do Facebook, adicionamos veteranos e ingressantes, assim que confirmam matrícula. Hoje está tudo na página e qualquer pessoa pode solicitar amizade. Lá, procuramos veicular todas as informações de interesse de alunos e candidatos. Desde documentação para matrícula até dados para inscrição em intercâmbio, palestras, prazo para entrega de trabalhos e outros compromissos. As informações para ingressantes permanecem no site da FCA”.
A página acabou beneficiando também alguns professores, em caso de mudança de datas e prazos, com urgência. Hoje, parte da relação de “amigos” na página gerenciada por Karina é formada por docentes. Até o momento, o número passa de 2.400 pessoas. O que leva a crer que a página tem atendido não somente a comunidade interna. “Na FCA temos 2.100 alunos, o que mostra que a página atrai o interesse do público externo. Isso acaba fazendo com que este perfil seja uma prestação de serviços para a sociedade e também desperte o interesse de futuros alunos”, salienta Karina.
Karina não arrisca afirmar se as redes roubaram espaço dos e-mails entre jovens de um modo geral, mas quem convive com essa geração conectada sabe da preferência por bate-papos. “Não sei se roubou, mas começamos a entrar neste espaço. Não podemos ignorar; temos de avançar cada vez mais. No princípio, eles apenas podiam curtir, mas ainda não achamos suficiente, e decidimos criar o perfil para que pudessem interagir”, acrescenta.
O compromisso com a informação se intensifica a cada dia de trabalho e afasta a possibilidade de se tornar na prática uma tecnóloga em gestão ambiental, área na qual se formou em 2011, mas que Karina não tem mais a pretensão de ter como rotina de trabalho. Na verdade, o curso foi procurado quando viu frustradas as tentativas de cursar biologia. “Não deu para cursar biologia, optei por algo que parecia próximo. Mas não é igual”.
Aperfeiçoamento
Karina não sabe se frequentaria outro curso de graduação hoje, mas pensa em se especializar em comunicação para desenvolver cada vez melhor seu trabalho e aprimorar o atendimento a alunos. “Cada vez mais, o perfil das gerações mais novas exige essa incursão nas redes sociais e no mundo da tecnologia. Para estarmos próximos dos alunos, temos de buscar uma linguagem na qual eles se sintam à vontade. Por isso pretendo me aperfeiçoar nessa área para melhorar cada vez mais o processo de trabalho e facilitar a vida dos estudantes.”
A menina que entrou na Unicamp antes mesmo de falar mamãe, pelas portas do berçário do primeiro campus de Limeira, onde se abrigam a Faculdade de Tecnologia e o Colégio Técnico de Limeira (Cotil), agora, apesar da timidez, pode conversar com todo o público da FCA ou quiçá do mundo. Este é um dos papéis que, apesar da necessidade de questionamentos, acabou por incluir num processo de comunicação antes muito restrito, pessoas anteriormente excluídas. É o caso da área acadêmica da FCA, que corria o risco de “omitir”, involuntariamente, informações a alunos impossibilitados de checar e-mails o tempo todo. “Neste mundo globalizado, em que a maior parte dos celulares permite que o usuário se informe onde está, não dá mais para ficar se excluir”, acrescenta.
Os primeiros passos de Karina no universo acadêmico foram proporcionados pela mãe, Dorothi Macedo Venâncio, funcionária do Cotil há quase 30 anos. Foi ela também que, num momento difícil para Karina na Prefeitura de Limeira, onde trabalhou antes de entrar na Unicamp, aconselhou-a a prestar concurso público para a FCA. Ao assumir, em 2011, Karina se surpreendeu com a organização do campus. “Tudo ainda era novo, e o quadro de funcionários é formado por muitos jovens. Além disso, nossas sugestões são ouvidas sempre que possível. Na prefeitura não tinha benefícios como temos aqui.”
Além da falta de plano de carreira, oportunidade melhor de salário oferecida pela Unicamp, Karina deixou a área de saúde de Limeira com certo sentimento de impotência diante das necessidades dos usuários do sistema público de saúde. Um acontecimento pessoal também a fez sentir que, em seu caso, aquela não seria uma área propícia. Na época em que precisava dar “afirmações negativas” a pacientes com doenças graves, como afirmar que um exame ou o próximo atendimento demoraria, ela perdia uma prima querida para um câncer, aos 27 anos, deixando um bebê. “Eu não tinha mais condições psicológicas para continuar ali e dizer a uma pessoa com necessidade de atendimento que o processo é demorado. O urgente significava um mês. Aquela situação não me fazia bem. Eu falava aquilo que eu não queria. Trabalhar com pessoas doentes sem poder ajudar, suga-nos. Foi uma fase muito difícil.”
Hoje, a creche virou república. Limeira ganhou mais um campus, e Karina cresceu, habita esse novo espaço e vai se casar em breve. Vai recomeçar a história de Dorothi, que trouxe Karina e seus dois irmãos, Adrien e Diego, pela mão, do berçário até a graduação. Sobre a Karina, aquela que se contenta facilmente com situações novas, aceita os propósitos da vida, trabalha das 14 às 23 horas em prol da formação acadêmica de 2.100 alunos e no período da manhã encontra tempo para ajudar a família, buscar a sobrinha na escola, ir para a academia e ainda resolver os trâmites do matrimônio que se aproxima, ela diz ter “pouco” a dizer. Até porque, muitas vezes, o muito pode ser descrito em poucas palavras.
Comentários
Que texto bonito, Maria Alice
Que texto bonito, Maria Alice! Obrigada! E, Karina, mais uma vez, parabéns pela dedicação! :)