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Jornal da Unicamp
Baixar versão em PDF Campinas, 09 de setembro de 2013 a 15 de setembro de 2013 – ANO 2013 – Nº 574Telescópio
Sambaquis são descobertos na Amazônia boliviana
Uma equipe internacional de pesquisadores, liderada por Umberto Lombardo, da Universidade de Berna, na Suíça, descobriu que pelo menos três das “ilhas de floresta” existentes na região de Llanos de Moxos, na Amazônia boliviana, são, na verdade sambaquis: montes de conchas de animais aquáticos, ossos e carvão, erguidos por ação humana há cerca de 10 mil anos. Essas “ilhas” são elevações do solo cobertas por árvores, que se destacam em meio à vegetação baixa da região.
“Centenas de ‘ilhas de floresta’ (...) espalham-se por Llanos de Mochos”, descrevem os autores em artigo publicado no periódico online PLoS ONE. “Pouco se sabe de sua origem: sua existência já foi atribuída a processos naturais, como a formação de cupinzeiros e erosão (...) Embora seja provável que algumas dessas ilhas tenham origem natural e outras sejam obra de povos do Holoceno tardio, este artigo informa a descoberta de três ilhas que são, de fato, sambaquis antropogênicos do Holoceno médio e inferior”. O Holoceno é a época geológica atual, que teve início há 11,7 mil anos.
Os sambaquis bolivianos contêm uma camada antiga, feita principalmente de conchas de caramujos, e uma camada superior de matéria orgânica, que contém cerâmica, ferramentas feitas de osso e ossos humanos. Entre as duas, há uma fina camada de argila queimada e terra. Datação por carbono 14 indica que seres humanos chegaram à região 10,4 mil anos atrás. Os sambaquis foram crescendo ao longo de 6 mil anos.
Perdão é mais fácil em relacionamentos longos
É mais fácil perdoar uma traição se ela acontece depois de um longo período de relacionamento. Já traições cometidas logo no início da relação são tratadas de modo mais impiedoso. É o que indica o resultado de uma série de experimentos realizada por pesquisadores dos Estados Unidos, divulgado no periódico PNAS.
Para testar o efeito da duração do relacionamento na reação à traição, os pesquisadores convidaram voluntários a participar de um jogo pela internet, no qual um dos parceiros recebia US$ 8 e tinha a opção de entregar ou não o dinheiro ao outro.
Se a doação fosse feita, a verba era triplicada – chegando a US$ 24 – e o segundo jogador tinha a opção de dividir o prêmio meio a meio, ou ficar com tudo para si. Sem que os voluntários soubessem, no entanto, o jogador responsável por decidir o que fazer com os US$ 24 era um robô, programado para trair a confiança do parceiro humano logo no início do experimento, ou apenas mais adiante.
De acordo com os resultados obtidos, a probabilidade de o jogador humano voltar a confiar no robô, após a traição, aumentou de modo proporcional ao tempo prévio de interação leal. Um segundo experimento, envolvendo o uso de imagens de ressonância magnética funcional, mostrou que traições cometidas em diferentes momentos da relação são processadas por diferentes regiões do cérebro: quando a quebra de confiança ocorre no início do relacionamento, ela é tratada por áreas vinculadas à resolução de problemas e à análise racional; já quando ocorre num estágio mais avançado, são ativadas áreas do cérebro ligadas a hábitos automáticos.
“Essa noção é apoiada pela literatura, que implica que, ao longo do tempo, pessoas tendem a criar modelos mentais de seus colegas que dão base para um processo habitual de tomada de decisões, e que fazem com que desvios, como quebras de confiança, sejam vistos como exceções”, escrevem os autores.
Preocupação com dinheiro reduz capacidade mental
Fazendeiros se saem pior em testes de inteligência imediatamente antes da colheita – quando estão com pouco dinheiro – e melhor logo após a safra, quando a perspectiva financeira também é mais positiva. Além disso, pessoas pobres induzidas a pensar sobre questões financeiras e, depois, submetidas a testes de inteligência têm resultados piores do que o de pessoas em boa situação, testadas sob as mesmas condições. Os experimentos que produziram esses resultados são descritos na edição de 30 de agosto da revista Science, no artigo “Poverty Impedes Cognitive Function” (“Pobreza Dificulta a Função Cognitiva”), assinado por pesquisadores dos EUA e Canadá.
“Sugerimos que isso acontece porque preocupações relacionadas à pobreza consomem recursos mentais, deixando menos para outras tarefas”, escrevem os autores. “Os pobres têm de administrar uma renda incerta, fazer malabarismos com despesas e aceitar situações difíceis. Mesmo quando não estão tomando decisões financeiras, essas preocupações podem estar presentes e causar distrações”, prosseguem, mais adiante.
Em comentário que acompanha o artigo principal, Kathleen Vohs, da Universidade de Minnesota, cita o chamado “modelo de recursos limitados do autocontrole”, segundo o qual o exercício de autocontrole é como o uso intenso de um músculo: provoca cansaço e requer algum tempo de recomposição.
Em declaração ao jornal The Washington Post, o economista Sendhil Mullainathan, de Harvard, um dos autores do estudo, disse que o efeito da pobreza na capacidade mental equivale ao de passar uma noite inteira acordado. “Imagine seu estado depois de uma noite em claro. Ser pobre é assim, só que todo dia”. Os autores sugerem que esse estresse cognitivo acaba impedindo que muitas pessoas pobres tomem as decisões que poderiam ajudá-las a melhorar de vida.
Ganhador de Nobel vira senador vitalício na Itália
O físico Carlo Rubbia, que dividiu o Nobel de 1984 com Simon Van deer Meer pela descoberta dos bósons W e Z, é um dos quatro novos senadores vitalícios da Itália, nomeados no fim de agosto pelo presidente Giorgio Napolitano. Outro cientista nomeado para a uma vaga vitalícia foi a especialista em células-tronco Elena Cattaneo, da Universidade de Milão.
Aos 51 anos, a pesquisadora é bem mais jovem que Rubbia e que a média histórica dos senadores vitalícios. Ela vem tomando posições firmes contra o uso de terapias “alternativas” baseadas em células-tronco, que em tempos recentes começaram a ganhar apoio popular e político na Itália, embora ainda sejam vistas com desconfiança pela ciência.
A Constituição italiana permite que o presidente nomeie até cinco senadores vitalícios, que devem ser pessoas de “alto mérito social, científico, artístico ou literário”.
Bactérias do intestino humano transmitem obesidade a ratos
Camundongos que receberam um transplante de bactérias intestinais de seres humanos obesos ganharam mais peso e acumularam mais gordura corporal que os animais infectados com bactérias de humanos magros, diz artigo publicado na edição de 6 de setembro da revista Science.De acordo com os autores do estudo, os animais que vieram a se tornar obesos não consumiam mais alimento que os que ficaram magros. Nessa etapa do estudo, os dois grupos foram alimentados com uma mesma dieta padronizada.
Quando os dois grupos de camundongos foram postos em contato – o que permitiu que eles se contaminassem uns dos outros – os animais obesos passaram a ter um perfil mais saudável, enquanto que os magros não foram afetados. Mudanças na formulação da dieta, no entanto, alteraram o resultado: quando alimentados com uma ração criada para simular a comida americana “típica”, de muita gordura e pouca fibra, os camundongos com as bactérias intestinais de obesos não conseguiram se beneficiar da companhia dos colegas magros.
Fuligem da indústria derreteu os Alpes no século 19
Partículas de fuligem podem ser a solução para um pequeno mistério da ciência climática: por que as geleiras dos Alpes começaram a se retrair a partir de 1865, reduzindo-se a áreas menores que as registradas nos 500 anos anteriores, ao mesmo tempo em que as temperaturas medidas na Europa caíam?
De acordo com pesquisa publicada no periódico PNAS, o fato histórico que melhor se correlaciona com a regressão das geleiras é o aumento brutal na queima de carvão para fins industriais, a partir de 1850, inundando a atmosfera com fuligem – minúsculas partículas de cor escura. Como qualquer pessoa que já tenha ficado no sol vestindo uma camisa preta sabe, cores escuras são muito eficientes para absorver calor.
Ao pousar na neve, a fuligem acelera o derretimento e expõe o gelo por baixo ao ar e aos raios do sol.
Para estabelecer a correlação entre a fuligem e o grande derretimento, os pesquisadores, liderados por Thomas Painter, do Laboratório de Propulsão a Jato da Nasa, analisaram núcleo de gelo extraídos dos pontos mais elevados diversos glaciares europeus, para então deduzir como a fuligem teria se depositado nas geleiras mais baixas. Uma simulação de computador mostrou que, quando o efeito da fuligem era levado em conta, a retração das geleiras no século 19 deixava de ser surpreendente.
Animais venenosos podem estar por trás de fobia de furos
Tripofobia é o nome dado ao medo visceral de padrões formados por buracos ou furos – como o interior de um chocolate aerado, ou uma colmeia: na internet, há vários sites dedicados ao problema, incluindo catálogos de imagens que desencadeiam a reação.
Em artigo publicado no periódico Psychological Science, os pesquisadores britânicos Geoff Cole e Arnold Wilkins argumentam que a tripofobia, na verdade, é apenas a exacerbação de uma reação natural, talvez de raiz evolutiva, à aparência de vários tipos de animais venenosos, como certas espécies de cobra ou escorpião. De acordo com nota distribuída pelo periódico, Cole acredita que “todas as pessoas têm tendências tripofóbicas. Mesmo quem não sofre da fobia considera imagens tripofóbicas desconfortáveis”.