Edição nº 623

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Jornal da Unicamp

Baixar versão em PDF Campinas, 27 de abril de 2015 a 10 de maio de 2015 – ANO 2015 – Nº 623

Para além da lição de casa

Unicamp cria Plano de Contingência para ampliar ações voltadas à racionalização do uso da água

adesivagens nos sanitarios, uma das medidas da campanha de esclarecimentopequena ilustracao de uma torneira e o personagem do jogo come-comeMuito antes de a crise hídrica entrar para a pauta dos governantes e integrar a relação das maiores apreensões da população brasileira, a Unicamp já se preocupava em adotar medidas voltadas ao consumo racional da água. Em 1999, por exemplo, a Universidade instituiu o Programa Pró-Água, que implementou ações de conscientização e combate às perdas. A iniciativa foi tão bem-sucedida que, atualmente, o nível de consumo da instituição é semelhante ao de 15 anos atrás, a despeito de a sua estrutura física ter registrado um crescimento de aproximadamente 40% no período. Lição de casa feita, o desafio agora é melhorar ainda mais os resultados alcançados.

Para enfrentar o atual período de escassez hídrica, a Unicamp lançou no final de fevereiro o seu Plano de Contingência, que pretende aperfeiçoar e ampliar as ações até aqui adotadas. “Queremos avançar em relação ao que tem sido feito. Para isso, vamos utilizar os métodos e tecnologias que temos hoje à disposição e que não existiam à época do Pró-Água”, explica o titular da Coordenadoria Geral da Universidade (CGU), instância responsável pela formulação do plano, professor Alvaro Crósta.

De acordo com ele, as medidas previstas no Plano de Contingência foram amplamente discutidas e receberam a colaboração de docentes, pesquisadores e trabalhadores técnicos de diferentes áreas da Unicamp. “As ações envolverão tanto o segmento acadêmico quanto o administrativo da Universidade. Um aspecto importante a destacar é que o plano não é um documento acabado. Ele sempre estará aberto a contribuições e a eventuais ajustes”, pontua Alvaro Crósta.

professor Orlando Fontes Lima Jr, assessor da CGUSegundo o professor Orlando Fontes Lima Jr, assessor da CGU, as ações previstas no Plano de Contingência estão orientadas por três vetores: conscientização, racionalização e prevenção. No contexto do primeiro vetor, adianta o docente, estão sendo desenvolvidas, pelo GGUS (Grupo Gestor Universidade Sustentável), campanhas de esclarecimento voltadas à comunidade universitária, que incluem, entre outras medidas, a distribuição de folhetos explicativos e a adesivagem das louças e metais sanitários. “Nós também já iniciamos a realização de uma série de seminários e workshops, nos quais especialistas da Universidade e de outras instituições, inclusive estrangeiras, estão discutindo a problemática da escassez de água”, elenca Lima Jr.

Jose Marcos Pinto da Cunha, assessor da CGUNo último dia 13 de março, por exemplo, foi realizada a primeira edição do evento “Refletir – Encontro Permanente sobre vivência e gestão na Unicamp”. Na oportunidade, integrantes da comunidade universitária assistiram a palestras e participaram de oficinas nas quais foram discutidos temas relativos ao consumo racional da água, mas também questões sobre economia de energia elétrica, reciclagem de materiais e consumo consciente. “A experiência foi muito exitosa. As pessoas se envolveram e se sentiram estimuladas a trocar experiências e a colaborar com o esforço da Universidade em busca da sustentabilidade”, avalia o também assessor da CGU, professor José Marcos Pinto da Cunha.

Quatro dias depois da realização do Refletir, a Universidade promoveu o Fórum Sustentabilidade Hídrica: Perguntas, Desafios e Governança, organizado pelo Fórum Pensamento Estratégico (Penses). Durante dois dias, especialistas do Brasil e do exterior debateram as diferentes implicações da escassez de água. “Pretendemos seguir nessa linha, sempre fomentado a reflexão sobre os problemas e as possíveis soluções para eles. O objetivo é contribuirmos para a formulação de projetos que beneficiem tanto a Universidade quanto a sociedade de modo geral”, afirma Alvaro Crósta.

Outra ação promovida pelo GGUS foi a Semana da Água, que ocorreu entre 23 e 27 de março, cuja programação contou com diversas ações, entre as quais exposições, palestras e atividades no sistema educativo da Unicamp – envolvendo crianças, pais e professores –, além do lançamento da campanha de conscientização “Eu e a Água na Universidade”.

No contexto da racionalização, informa Lima Jr, estão previstas diversas iniciativas, entre elas a perfuração de novos poços para a extração de águas subterrâneas. Atualmente, a Unicamp dispõe de quatro poços em operação e pretende dobrar o número. “Nós estamos elaborando estudos de viabilidade nesse sentido, inclusive em relação à área que foi acrescida ao campus de Barão Geraldo, adquirida no ano passado pela Unicamp”, diz. Outra frente que será trabalhada ainda mais fortemente, conforme o assessor da CGU, é a água de reúso, algo que já acontece hoje.

Paralelamente, a instituição pretende ativar a sua Estação de Tratamento de Água (ETA), que foi construída para funcionar experimentalmente e dar suporte às pesquisas na área. “Na prática, nós estamos deflagrando a terceira fase do Programa Pró-Água, que já proporcionou importantes ganhos para a Universidade em termos da racionalização do consumo”, esclarece Lima Jr. A nova etapa prevê, entre outras intervenções, a continuidade da troca de torneiras e bacias sanitárias por modelos que controlam o fluxo da água e o uso de dispositivos (redutores de pressão e aeradores) que reduzem a saída de água das torneiras, sem comprometer o conforto do usuário.

Alvaro Crosta, coordenador-geral da unicampPor fim, mas não menos importante, estão as ações destinadas à prevenção. O Plano de Contingência estabeleceu a criação do Comitê de Crise e a mobilização de uma força-tarefa para o cumprimento de ações emergenciais, caso a crise hídrica se intensifique nos próximos meses, quando do início das estações seca do ano. “A nossa filosofia de trabalho é a seguinte: esperar pelo melhor, mas preparar-se para o pior”, destaca Alvaro Crósta. Além de todas essas ações e diretrizes, há diversos outros trabalhos em andamento e que deverão ser intensificados a partir das determinações do Plano de Contingência.

A Prefeitura Universitária segue executando traba-lhos voltados à redução de perdas de água, como a operação caça-vazamentos e a manutenção dos prédios da Universidade. “Nosso propósito é o de dar uma resposta rápida aos problemas”, assegura o titular do órgão, professor Armando José Geraldo. O Plano de Contingência da Unicamp para enfrentar a crise hídrica foi anunciado menos de um mês depois de uma reunião realizada em São Paulo, da qual participaram reitores e vice-reitores das universidades públicas do Estado de São Paulo.

Na ocasião, os dirigentes divulgaram um documento com propostas para enfrentar o atual momento. O objetivo das universidades é estimular o consumo racional de água no âmbito das instituições, mas também desenvolver métodos e técnicas que contribuam para a formulação de políticas públicas na área de saneamento básico, de nodo a beneficiar a população em geral.