Pediatra investiga desenvolvimento de bebês
que nascem pequenos para a idade gestacional
RAQUEL DO CARMO SANTOS
Bebês
que nascem pequenos para a idade gestacional – ou PIG,
como também são chamados pelos especialistas – possuem
desenvolvimento neurológico distinto daqueles nascidos
com peso e medida normais no primeiro ano de vida. A investigação
foi feita pela pediatra Maura Mikie Fukujima Goto, da Faculdade
de Ciências Médicas (FCM), que avaliou 33 bebês PIG,
comparando-os com outras 62 crianças que constituíram
um grupo controle. Pela pesquisa, orientada pela professora
Maria Valeriana Leme de Moura Ribeiro, o desempenho global
dos bebês PIG não apresentou diferenças significativas
que pudessem ser consideradas como atraso no desenvolvimento,
mas houve diferenças em pontuações específicas de algum
tipo de atributo em relação aos do grupo controle.
“O objetivo foi verificar se, nos primeiros meses de vida, estas crianças apresentariam algum tipo de distúrbio que caracterizasse um desenvolvimento diferenciado de bebês que nasceram com tamanho adequado. Não podemos afirmar que os bebês PIG possuem problemas neurológicos no primeiro ano de vida. Mas, o estudo demonstra que é evitar problemas nas idades futuras dessas crianças, uma vez que foi constatado que o desenvolvimento é distinto em relação aos bebês normais”, explica a pediatra.
Os bebês PIG são assim denominados por sofrerem algum tipo de restrição de crescimento já no útero materno. Mães fumantes durante a gestação, com hipertensão arterial ou com quadro de desnutrição podem ocasionar o nascimento de um bebê PIG. Ao contrário do que se pode imaginar, o pequeno para idade gestacional não necessariamente nasce com baixo peso ou prematuro. Mas, a grande maioria dos bebês PIG são também baixo peso, ou seja, nascem com menos de 2,5 quilos.
No Brasil, como não há avaliação rotineira da idade gestacional em todas as maternidades, as estatísticas identificam com maior freqüência os bebês de baixo peso e não os nascidos PIG. Os de baixo peso representam 10% dos nascidos vivos. “Trata-se de um número preocupante e um indicativo de que também se deveria atentar para os bebês PIG logo ao nascimento”. Na literatura, explica Maura, vários trabalhos indicam problemas neurológicas em crianças que nasceram pequenas. Mas, poucos estudos focam a avaliação no primeiro ano de vida da criança. “Tanto na fase intra-uterina quanto nos primeiros meses de vida, as estruturas cerebrais são desenvolvidas em uma velocidade alta, por isso decidi avaliar o desempenho dos bebês ao longo de um ano e tentar detectar alterações que possibilitassem uma intervenção o mais cedo possível”, argumenta. O estudo contemplou avaliações, através da escala americana Bayley de desenvolvimento infantil, desde o nascimento com medidas mensais até o terceiro mês e, depois, no sexto e nono meses. A última avaliação ocorreu ao completar um ano de vida.
A pediatra explica que quanto mais cedo a criança puder sofrer uma intervenção, melhor será o seu desenvolvimento nas idades subsequentes. Mesmo não tendo identificado nenhuma diferença significativa no desempenho global no primeiro ano de vida dos bebês PIG, Maura acredita que a pesquisa serve de referência para se atentar para o período mais crítico da criança em que o cérebro está se desenvolvendo. Uma sugestão é ampliar o tempo de avaliação nos próximos trabalhos sobre o assunto. Neste sentido, seria interessante ressaltar a importância da vigilância do desenvolvimento nessas crianças consideradas com algum risco, uma vez que as alterações podem surgir em idades maiores, como, por exemplo, no período de alfabetização. A pesquisa faz parte dos estudos desenvolvidos pelo Grupo Interdisciplinar de Avaliação do Desenvolvimento Infantil (Giadi), que é coordenado pela neurologista Vanda Maria Gimenes Gonçalves.