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Estudo do IE mensura relevância
econômica do saneamento básico
Pesquisa mostra que setor ainda tem muito espaço para crescer

MANUEL ALVES FILHO

Estação de tratamento de água em Barueri, na Grande São Paulo: números da pesquisa indicam que segmento movimenta cerca de R$ 20 bilhões ao ano (Foto: Dilvulgação)Que o setor de saneamento básico no Brasil tem uma elevada importância social e ambiental todo mundo sempre soube. O que ninguém conhecia até agora é a relevância econômica do segmento para o país. Estudo coordenado por pesquisadores do Núcleo de Economia Industrial e da Tecnologia (Neit), do Instituto de Economia (IE) da Unicamp, cuidou de desvendar esse aspecto. De acordo com o trabalho, que contou com a colaboração de especialistas de outras instituições, entre as quais o Banco Mundial, a cadeia constituída pelos serviços de saneamento exerce considerável influência na economia brasileira, traduzida, por exemplo, na geração de empregos, na capacidade de agregação de valor e na sua eficiência econômica. “O aspecto auspicioso que acompanha essa constatação é que a atividade ainda tem muito espaço para crescer, visto que estamos distantes da universalização dos serviços, principalmente no que se refere ao tratamento de esgoto”, analisa o professor Fernando Sarti, um dos coordenadores da pesquisa.

O estudo, que levou um ano para ser concluído, foi financiado pela Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp), maior empresa do gênero no país. Conforme o professor Célio Hiratuka, coordenador do Neit e um dos orientadores do trabalho, o próprio setor desconhecia a sua realidade do ponto de vista econômico. “Alguns dados levantados pela pesquisa surpreenderam as operadoras e os demais integrantes da cadeia de serviços”, conta. Em números absolutos, informa Sarti, o segmento movimenta algo como R$ 20 bilhões ao ano. Embora expressiva, a cifra não revela, por si só, a dimensão e o impacto que a área de saneamento básico causa na economia brasileira. Para mensurar devidamente esse aspecto, os pesquisadores investigaram detidamente diversos pontos.

O primeiro desafio foi delimitar a cadeia de saneamento. Os objetivos eram definir a importância econômica do setor, identificar os elos da cadeia de fornecimento e comparar o segmento com congêneres internacionais. Os números que emergiram dessa radiografia são expressivos. De acordo com o professor Sarti, o segmento representa 0,59% do valor agregado total da economia nacional. Em 20 países tomados para comparação, esse índice ficou, em média, em 0,26%. “Ou seja, o peso desse segmento é maior no Brasil do que em economias desenvolvidas, como Japão, Reino Unido, Bélgica, Alemanha, Itália etc”, explica o docente. Já a eficiência do setor, que representa a capacidade que ele tem de gerar valor, é de 65,3% no Brasil, contra 57,4%, na média, das nações consideradas.

Os professores Fernando Sarti e Célio Hiratuka, do Neit: para coordenadores da pesquisa, cadeia de saneamento precisa superar entraves  (Foto: Antonio Scarpinetti)Ainda em se tratando de eficiência econômica, assinala o professor Hiratuka, a área de saneamento tem maior capacidade de agregação de valor que a média dos demais setores que compõem a economia brasileira. Para cada unidade de consumo intermediário, o segmento agrega outras duas. “Nos demais setores, a proporção é de um para um”, afirma o coordenador do Neit. A partir da metodologia desenvolvida para a pesquisa, os cientistas tiveram como simular os impactos diretos e indiretos da produção do setor sobre a economia, tomando alguns cenários hipotéticos. Assim, se a demanda pelos serviços sofresse um aumento de apenas 1%, seriam gerados R$ 158 milhões em valor da produção, R$ 29, 7 milhões em salários, R$ 7,4 milhões em contribuições sociais e R$ 6,9 milhões em impostos diretos e indiretos. Também geraria perto de 1,5 mil empregos, sendo 700 dentro e 800 fora do setor.

Já se a demanda pelos serviços crescesse 10%, seria gerado R$ 1,5 bilhão em valor da produção, R$ 296 milhões em salários, R$ 73 milhões em contribuições sociais, R$ 69 milhões em impostos diretos e indiretos e algo como 14,5 mil empregos. “Esses dados referem-se apenas à produção. Se considerarmos a questão do investimento, que implica na capacidade de expansão do setor, os impactos seriam ainda maiores. Nas simulações que fizemos, apuramos que para cada R$ 1 bilhão investido no segmento, seriam gerados 42 mil empregos, R$ 1,6 bilhão de valor da produção, R$ 800 milhões de valor agregado e R$ 76 milhões em impostos diretos e indiretos”, acrescenta o professor Sarti.

Segundo o economista, além de produzir impactos positivos na economia e ainda ter muito espaço para crescer, o setor de saneamento também se destaca por não pressionar as importações, visto que todos os insumos são encontrados no próprio país. “Se existe uma atividade que pode ser considerada estratégica para o Brasil, esta sem dúvida é a de saneamento básico. Além de ajudar a alavancar a economia e gerar emprego e riqueza, ela traz enormes ganhos ambientais e de saúde pública. Se tudo o que foi projetado pelos governos estaduais, municipais e federal for de fato investido nesse segmento no período de 2008 a 2011 [perto de R$ 48 bilhões], serão criados 2 milhões de novos empregos e promovida uma ampliação significativa da qualidade de vida da população”, estima Sarti.

Desafios
Mas para que o setor de saneamento básico possa avançar tanto em termos produtivos quanto de investimentos, o Brasil precisará superar alguns entraves, apontam os pesquisadores do Neit. O primeiro deles, observa o professor Sarti, é a falta de engenharia. Ademais, há carência de profissionais qualificados no mercado para atuar nessa atividade. Outro problema refere-se à escolha dos operadores. Por ser um setor com grande potencial de rentabilidade, o saneamento básico corre o risco de atrair empreendedores que estão interessados somente em obter a remuneração do investimento em um curto espaço de tempo, o que inviabilizaria projetos de longo prazo. “Isso é extremamente preocupante, pois o setor de saneamento requer investimentos de longo prazo, para que a infraestrutura acompanhe adequadamente o crescimento da demanda. O risco que corremos é que eventuais aventureiros ingressem no setor, fiquem por pouco tempo e se retirem deixando muita coisa por fazer”, adverte.

Um terceiro aspecto igualmente importante, continua o professor Hiratuka, está na definição de uma política tarifária que permita o crescimento do setor, mas que não exclua as famílias de baixa renda do acesso aos serviços, dado que são as que mais sofrem com a falta de saneamento, notadamente no que se refere à coleta e tratamento de esgoto. “Certamente vamos precisar promover uma revisão tarifária, visto que as famílias com renda de até três salários mínimos não poderão pagar uma conta igual às das famílias mais abastadas. Precisaremos definir um sistema de subsídio cruzado, de forma a financiar a expansão do segmento e impulsionar o avanço rumo à universalização dos serviços. Trata-se de uma questão de justiça social”, pontua. Atualmente, perto de 30% dos domicílios brasileiros não recebem fornecimento de água. Outros 60% não contam com rede coletora de esgoto. Registre-se que no Brasil cerca de 80% das doenças e 65% das internações hospitalares estão relacionadas em alguma medida com a falta de saneamento básico.

Sabesp
A Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp), financiadora do estudo coordenado pelos pesquisadores do Núcleo de Economia Industrial e da Tecnologia (Neit), do Instituto de Economia (IE) da Unicamp, é uma empresa de economia mista, que tem como principal acionista o governo do Estado de São Paulo. Atualmente, a Sabesp atua em 366 municípios paulistas, que abrigam uma população de 26 milhões de habitantes.

A Sabesp produz cerca de 100 mil litros de água por segundo. Somadas, as redes de distribuição de água e de coleta de esgoto da empresa seriam suficientes para dar duas voltas em torno da Terra. O patrimônio líquido da companhia, que emprega 17 mil trabalhadores, é de US$ 4 bilhões. De acordo com a pesquisa coordenada pelo Neit, caso a Sabesp mantenha os investimentos projetados para o período de 2008 a 2010, de cerca de R$ 5 bilhões, o impacto para a economia de São Paulo seria significativo. Isso proporcionaria uma arrecadação de impostos diretos e indiretos da ordem de R$ 683 milhões e geraria 6,5 mil empregos, para ficar em apenas dois exemplos.

 


 

 
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