Na
tentativa de preservar uma das últimas áreas de restinga
da Bahia, a bióloga Clara Sampaio Dias de Souza fez um levantamento
da riqueza das espécies de plantas aquáticas e palustres
– áreas que ficam alagadas no período chuvoso – existentes
no local e disponibilizou-o em chave interativa pela Internet
(www.ib.unicamp.br/plantkeys).
A restinga, objeto de estudo da bióloga, está localizada
no Sul do Estado da Bahia, no município de Maraú, próximo
a Itacaré, pólo turístico da região. Restingas são ecossistemas
com diferentes estratos vegetacionais (arbóreo, arbustivo
e herbáceo), que fazem parte do bioma Mata Atlântica. Lá,
segundo Clara, “a melhoria das condições de acesso tem despertado
a preocupação, uma vez que a urbanização pode gerar impactos
ambientais desastrosos”, destaca.
A bióloga foi orientada pela professora Maria do Carmo
E. Amaral e alega que, no intuito de melhorar as condições
de vida das famílias moradoras do município, o governo promove
a urbanização local, o que no futuro pode acarretar a degradação
do ambiente, já que seria mais fácil o acesso à área e o
consequente estabelecimento de novos moradores.
Pelo estudo, desenvolvido no Instituto de Biologia (IB),
as plantas existentes nas áreas palustres são muito importantes
para a manutenção do ambiente e a continuidade do ciclo
da água. Por serem áreas abertas, sem árvores e com apenas
alguns arbustos, as áreas palustres são procuradas inicialmente
para construções.
“Aos olhos da população que chega ao lugar, muitas espécies
podem parecer vegetação descartável ou mato, mas não é assim.
Existem plantas fundamentais que evitam a subida das águas
em níveis maiores”, explica. Além disso, revela, espécies
de orquídeas e bromélias podem ser encontradas na Restinga
de Maraú.
A baixa densidade populacional também é uma característica
que deveria ser preservada. Segundo Clara, a região é turística
e isto gera, entre outras situações, um aumento da população
no verão. “A população pode dobrar em determinadas épocas,
principalmente pela localização próxima a Itacaré e Ilhéus”,
destaca.
Clara lembra que muito deste tipo de vegetação já foi perdida
pela degradação. Em sua opinião, no Nordeste do país esse
cenário é ainda pior onde não há áreas de preservação que
compreendam restingas em suas delimitações. As coletas do
estudo foram realizadas entre 2006 e 2008. Foram identificadas
86 espécies, sendo que a família Cyperaceae, cujas plantas
são muito semelhante às gramíneas, representou 19 espécies
em 11 gêneros.