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Coordenadores criticam avaliação
Para professores, os critérios adotados pela Capes privilegiam quantidade

Padrões numéricos não avaliam suficientemente a qualidade da produção acadêmica da área de Humanas. O enquadramento de seu desempenho em tabelas pode mensurar a quantidade dos trabalhos produzidos, mas não conseguirá avaliar o novo conhecimento gerado, nem o impacto social desta produção. Esta constatação de coordenadores da área faz com que o relatório da Capes sofra mais questionamento na sua capacidade de lidar com as especificidades da área de Humanidades, do que de representantes de outros setores da Universidade.

As críticas ao sistema de avaliação não afetam, porém, a performance da área, bastante bem posicionada na Unicamp: Educação saltou de 3 para 5; os três cursos de Artes ficaram com 4; na Economia, dois deles têm conceito 5, sendo um mestrado de excelência, e os outros três cursos mantiveram o 4; no Instituto de Estudos da Linguagem (IEL), os três programas estão conceituados em nível de excelência 6- a Línguística entrou com recurso para recuperar o conceito 7; e na Filosofia e Ciências Humanas, os programas de História, Ciências Sociais e Filosofia têm conceito 6, Antropologia e Sociologia estão com 5, e os dois com conceito 4- Ciência Política e Demografia-, entraram com recurso para re-qualificação.

Para Suzi F.Sperber, coordenadora da pós-graduação do IEL, a avaliação executada por uma máquina é um sistema burro porque mecânico; pelo ser humano é falho. “Desconfio de toda e qualquer avaliação por isso. Ela cria uma ilusão de realidade, é manipulável por interesses lícitos ou não. Avaliar é uma decisão difícil: o que se avalia é o produto ou o processo? Os parâmetros serão sempre diferentes, caso se individualize um produto ou se pegue o conjunto do trabalho produzido. E o critério é o de qualidade ou de quantidade? Se existem sete itens analisados e um deles é a quantidade, o resultado será sempre em detrimento da qualidade. Infelizmente, a avaliação tem servido para lotear o dinheiro que vai para cada unidade”.

O IEL é um centro de excelência, com produções heterogêneas: alguns docentes têm mais alunos e maior trabalho de orientação; outros podem ter maior número de publicações e participação em congressos. Todos os docentes têm possibilidade de atualização e de trazer renovação para o instituto. “Não é preciso fazer o relatório Capes para verificar esta realidade. Na verdade, o tempo para preencher este relatório acaba substituindo o que poderia ser ocupado com a produção efetiva. Na minha opinião, as coordenações que se ocupam exclusivamente com essa parte substituem ingenuamente a produção pela avaliação da produção”, critica Suzi.

O primeiro curso de mestrado do IEL nasceu no começo da década de 70 em Linguística, antes da existência da graduação. A área ainda não existia no Brasil e os pioneiros trazidos pelo reitor Zeferino Vaz, equipe estimulada por Antônio Cândido, foram enviados para se aperfeiçoar na França. Na volta, aglutinaram outros profissionais afins e o curso começou vinculado ao Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH). A criação do curso acompanhava as tendências de estudo da época em que se apostava que Lingüística seria a ciência do século. Antônio Cândido, que foi o primeiro diretor do instituto, imprimiu a preocupação com os estudos em Teoria Literária na estruturação do curso. No final dos anos 80 foi criado o doutorado na área, lembra Suzi.

No IEL, os três programas estão com conceito 6, de excelência, mas o de Lingüística com nota 7 na avaliação anterior, entrou com recurso já que, assinala a coordenadora, manteve e melhorou seu desempenho e não fez nada diferente para cair na cotação da Capes. Outra perversidade do sistema apontada por Suzi, é o conhecido “fluxo” que mede o tempo de titulação, entre o ingresso do aluno na pós e a defesa de tese. Na opinião de Suzi, o conhecimento não se faz às pressas, imposto por um cronograma alheio a sua dinâmica. Universidade e educação são trabalho de médio prazo e quando se quantifica, a qualidade fatalmente será afetada. “Se isto não é óbvio, deveria ser!”, conclui a professora.

Difícil ajuste
“O perfil da nossa pós-graduação não se ajusta
ao gabarito de avaliação da área de Economia da Capes. E isto porque, em poucas palavras, procuramos man-
ter nossa tradição de centro crítico, que busca compreender os graves desafios do desenvolvimento econômico e social brasileiros. A complexidade desta temática não propicia a busca de respostas rápidas o que eleva o tempo de titulação na maioria dos casos. E, acima de tudo, procuramos desenvolver a autonomia intelectual em nossos alunos”, considera Waldir Quadros, coordenador da pós do Instituto de Economia. Ele acrescenta que, pela natureza de escola pública, procura-se incorporar o maior número possível dos inúmeros candidatos que procuram a Unicamp, recusando o perfil de um pequeno núcleo de elite que, na verdade, é o que mais se ajusta ao gabarito em questão.

A Economia oferece 5 programas de pós e o mais tradicional é o de Teoria Econômica, criado em 1974. Os outros 4, criados no final dos anos 90, são da área de Economia Aplicada: um doutorado e três mestrados
(Desenvolvimento Econômico, Espaço e Meio Ambiente, História Econômica e Economia Social e do Trabalho). No programa de Teoria Econômica, a pós da Unicamp ficou em segundo lugar na avaliação nacional (o maior conceito foi 6), ao lado de outros centros de excelência acadêmica como a USP, por exemplo. Na área de Economia Aplicada, o mestrado de Desenvolvimento Econômico, Espaço e Meio Ambiente teve o conceito máximo e os demais também ficaram com o segundo lugar. Já o Doutorado, por ser mais recente, só teve um ano de avaliação e permaneceu com o seu conceito de criação.

“Com base em nosso relatório, seria lícito reivindicar um 6, mas não vamos recorrer. Temos tradição de longos trabalhos de titulação, não queremos apertar os alunos para que apressem suas conclusões. Elas devem amadurecer, pois os temas são ambiciosos e os alunos, em geral, têm grande inserção em cargos públicos e esta experiência acaba revertendo em maior conhecimento”. Quadros argumenta que identificar a natureza do conceito 5 e não 6 nem é tão difícil: os trabalhos do instituto têm historicamente prazos mais dilatados, pelo seu perfil de aprofundamento; o número de publicações é menor em relação aos pares pois são priorizados os trabalhos de maior fôlego, todos de alto impacto acadêmico, mas que não elevam a produtividade nos relatórios. “Nossa pós não constrói uma carreira acadêmica baseada em papers”, argumenta.

Mas este perfil dos últimos 15 anos, com o estoque de “passivos que acumulamos”, terá que ser ajustado. “A pró-reitoria criou mecanismos corretos para que isto ocorra, sem afetar a qualidade dos trabalhos produzidos pela pós da Economia”. O coordenador acrescenta que será feito um esforço para aumentar o número de publicações frente à exigência da área na Capes, onde o livro vale menos que um artigo publicado em revista indexada. “Mas continuaremos a tentar resistir em participar de congressos de baixo nível, encontros burocráticos, sem debate de nível, só para contabilizar pontos no relatório”.

Na área de Economia Aplicada um problema adicional re-
fere-se à própria estrutura dos Programas, que provocou uma dispersão da produção docente ao contar com um Doutorado desvinculado de 3 mestrados isolados. O coordenador destaca que esta distorção resultou de uma reformulação que a Capes introduziu na proposta original do instituto. De todo modo, o corpo docente está amadurecendo uma proposta de estrutura mais racional para ser encaminhada à Capes.

Os problemas comuns à Unicamp também afetam a Economia: encolhimento do quadro docente frente a uma produção e demanda crescentes; perda de talentos devido aos salários (o instituto perde cerca de 20% de seu quadro para cargos no Estado). Esta perda para o mercado é mais que numérica, assinala Quadros, pois houve muito investimento na formação desses profissionais. A Economia da Unicamp sempre foi um centro de excelência com perfil crítico. “Isto tem um preço. Nossa fase atual é de resistência”, observa.

Os pontos fortes da pós da Faculdade de Educação estão na abrangência de áreas, diversidade de tópicos, flexibilidade do programa, com o acolhimento de docentes universitários de todo o país, avalia a coordenadora Ana Luiza Bustamante Smolka. O programa de pós-graduação foi criado em 1975 em Educação, expandindo progressivamente para as cinco áreas de concentração. Em 1994, foi criada uma nova área interdepartamental em Educação Matemática, nos níveis de mestrado e doutorado.

O salto no conceito- de 3 para 5- na avaliação da Capes é resultado de um número crescente de teses e da transformação de áreas de concentração departamentais em áreas de concentração temáticas, de natureza interdisciplinar e definidoras de diferentes campos de investigação, reunidos em vários grupos de pesquisa com interesses afins, conclui.

 

 

 

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