Olhar
de fora é bem-recebido
Dois cursos da área de Ciência
Exatas figuram no topo da excelência
O
olhar de fora para a produção acadêmica
é bem-recebido por coordenadores da pós
em Ciências Exatas, na medida em que pode impulsionar
algumas áreas. Mas é preocupante o efeito
concentrador em poucas áreas de pesquisa e o
risco de indexar esta avaliação à
decisão das demais agências de fomento.
Com seus dois cursos no topo da excelência - Física
e Química- e conceitos entre 4 e 6 nos demais,
a área de Exatas tem sua atenção
centrada nas mesmas questões que as outras: aumentar
o número de publicações indexadas,
reduzir o tempo de titulação e conseguir
um bom equilíbrio entre o quadro docente versus
o aumento crescente de alunos na pós, além
de ampliar a atuação nos comitês
avaliadores.
Desde
a sua criação em março de 1970,
os cursos de mestrado e doutorado do Instituto de Física
Gleb Wataghin da Unicamp receberam sempre nota A na
avaliação da CAPES; no biênio 1996/1997
ficou com conceito 6 e saltou agora para a excelência
internacional com a nota 7 recebida. Um dos pontos fortes
do programa, considera o coordenador Luiz Guimarães
Ferreira, é a universalidade e a qualidade de
seu corpo docente. O instituto conta atualmente com
cerca de 98 professores doutores em dedicação
exclusiva, pesquisadores ativos em suas respectivas
especialidades.
Em
função do direcionamento inicial da pesquisa
no IFGW, esses profissionais são formados para
trabalhar não só na pesquisa básica,
mas também em projetos de pesquisa aplicada.
Durante anos, a pós foi procurada, fundamentalmente,
por estudantes que pretendiam desenvolver os seus trabalhos
em física aplicada ou física experimental,
revela Ferreira.
Ao
longo da última década houve um apreciável
crescimento dos grupos teóricos, o que atraiu
também aqueles estudantes de perfil mais acadêmico
para o Instituto e levou ao amadurecimento dentro da
coexistência de diversas tendências científicas.
Acreditamos ter atingido um estado científico
que contempla tanto as necessidades tecnológicas
da nossa sociedade quanto o lado acadêmico.
A Física produz, anualmente, uma média
de 150 trabalhos em revistas indexadas de prestigio
internacional. O instituto já formou 411 doutores
e 620 mestres e atualmente há 55 estudantes matriculados
no Mestrado e 141 no doutorado.
O
Instituto de Geociências nasceu em 1980 com a
concepção multidisciplinar de abrigar
as áreas de Geografia, Geologia e Meteorologia,
agregando em seguida o segmento de Política Científica
e Tecnológica, a única no país
a revalidar diplomas do exterior. O programa de pós
começou em 1983 com a área de Geociências;
após quatros anos foi instituída a linha
de Política Científica e Tecnológica.
Hoje, os três programas têm boa avaliação,
sendo que um deles - o de Ciências e Engenharia
do Petróleo, que subiu seu conceito de 4 para
5, foi criado no ano passado com característica
interdisciplinar e é desenvolvido com a Faculdade
de Engenharia Mecânica devido a convergência
de interesses. No Brasil, existem 42 programas em Geociências,
mas Geologia, Meteorologia e Geofísica dominam
as áreas de concentração.
Para o coordenador Elson Paiva de Oliveira, o programa
mais complexo é o de Geociências, dividido
em: Educação Aplicada a Geociências,
Metalogênese, e Administração e
Política de Recursos Minerais. Tratam-se de áreas
muito inovadoras e com perfil diferenciado em relação
a outros programas do país. Embora tenha conseguido
manter o conceito 4, foi penalizada numa possível
ascensão em alguns critérios, como o de
publicações. Élson explica que
existe muita ignorância em Geociências nas
escolas de primeiro e segundo graus. Para dar conta
do aperfeiçoamento do Ensino Fundamental e Regular,
existe uma linha de pesquisa chamada Educação
Aplicada a Geociências, de bastante impacto social
e para a qual a publicação de trabalhos
da pós em revistas do tipo Ciência Hoje,
Brasil Metais, entre outras, é de fundamental
importância. O problema, segundo destaca o coordenador,
é que a comissão técnica da Capes
não tem esta visão multidisciplinar e
a indexação de publicações
não pontua tais revistas. Precisaria haver
um ajuste neste critério, pois esta linha de
pesquisa tem ação social direta na educação
informal, sugere.
Os
livretos para a escola e a popularização
de pesquisas através de publicações
consideradas de segunda linha para a Capes são
veículos importantes de difusão do conhecimento
na área e Élson considera que deveriam
ser valorizados na avaliação. O tempo
de titulação do pós-graduando do
Instituto está bom, mas, alerta o coordenador,
com as condições desfavoráveis
do mercado de trabalho é natural que o aluno
segure seu prazo até o final da bolsa, como recurso
de sobrevivência.
Na
Ciência da Computação, cujo mestrado
começou em 1977 e o doutorado somente 19 anos
depois, o conceito Capes manteve a nota 5, mas a comissão
técnica havia sugerido 6, o que a direção
não homologou. O coordenador Neucimar Jerônimo
Leite analisa que o item publicação foi
o responsável por parte desta decisão.
Temos áreas muito dinâmicas, como
redes e arquitetura de computadores, o que dificulta
as publicações de fôlego, que são
mais demoradas e facilmente superadas neste setor.
Mas, no triênio avaliado pela Capes, houve um
esforço extra para aumentar o número de
publicação, o que se conseguiu: trabalhos
de mestrado foram aceitos em grandes periódicos
e cresceu a participação em congressos.
Como o doutorado é relativamente novo, o número
de teses - 14 no total - e de 43 alunos, não
é grande, o que pesou também no relatório
Capes, avalia Leite.
O
coordenador adianta que o departamento deve iniciar
uma discussão das formas de aumentar a atração
pelo doutorado. O valor da bolsa é pouco
atraente em relação aos salários
pagos no mercado de trabalho e, pela qualidade do curso
de graduação, praticamente todos os nossos
alunos, quando se formam, já estão empregados.
Um
salto para a excelência
O Instituto de Química foi criado com o foco
na pesquisa e o último relatório da Capes
coroou este trabalho. A coordenadora da pós,
Solange Cadore, comemora a subida do conceito 5 para
7 como resultado de um esforço do corpo docente
para melhorar em todas as áreas, seja no aprendizado
em preencher corretamente o relatório da agência,
como no empenho em aumentar o número de publicações,
um dos itens de maior peso na Capes. Todas as informações
do relatório devem estar atreladas às
linhas de pesquisa, para evitar que não haja
perda dos dados fornecidos.
Solange diz que o programa de pós de Química,
que tem 4 áreas de concentração,
é o maior do Brasil com 450 alunos e 81 docentes.
Todos os professores são credenciados para a
pós e o número de iniciação
científica explode positivamente por conta desta
política. A demanda é muito grande na
Química - para o mestrado do próximo
ano temos 110 inscritos para a média de 30 aprovados
normalmente-, mas o tempo de titulação
deve ser ajustado pois, hoje, está em 32 meses.
Mas existem particularidades em algumas áreas
da Química que exigem este tempo maior.
Solange teme que, em médio prazo, como os demais
cursos de pós no país estão procurando
reduzir
seu tempo de titulação, o desempenho do
IQ possa ser afetado.
Um problema que o programa apresentou na avaliação
anterior, de excesso de linhas de pesquisa, foi resolvido.
Muitos docentes misturavam projeto com linha de
pesquisa; hoje temos quatro grandes áreas de
concentração e, dentro delas, existe a
diversificação em linhas. A coordenadora
acrescenta que está nos planos do instituto criar
uma área de educação, já
que o aluno sai daqui um bom pesquisador, porém,
muitas
vezes, sem o preparo adequado para atuar como professor.
A pós-graduação da Matemática
foi criada há 25 anos e os conceitos 6 em Matemática
Pura e 5 em Matemática Aplicada refletem o reconhecimento
no desempenho do corpo acadêmico, em número
de 30 para cada uma das três áreas de abrangência,
onde se inclui Estatística, que só tem
o mestrado e recebeu conceito 4. O coordenador José
Mário Martinez diz que a dificuldade atual enfrentada
por sua área é o escasso número
de vocações para a pós-graduação
em Matemática, registrado nos últimos
anos.