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Engenharias têm ótimo desempenho
Mesmo com programas de excelência, área sofre com falta de professores

Desempenho exemplar e dificuldade em contratar novos professores são o que as Engenharias da Unicamp têm em comum. Como as demais unidades do campus, a aposentadoria de professores tem afetado em variado grau o desenvolvimento de cada curso, levando-os a exibir certa preocupação mesmo com alta produtividade. Preocupante, pois existe um padrão estabelecido como ideal pelos comitês de área da Capes, de 4 a 6 alunos de pós por professor, média que muitos institutos já superaram. Além das restrições orçamentárias para novas contratações, quando elas são liberadas é difícil nesta área conseguir profissionais de alto nível que queiram vincular-se em regime de dedicação integral, com o salário exclusivo de docente. O mercado de trabalho nas empresas fica, sempre, mais atrativo. As vantagens que o serviço público oferecia no passado, como aposentadoria em tempo menor e benefícios, têm minguado gradualmente, fato que reduz o poder da atração profissional acadêmica nas áreas tecnológicas.

Ariovaldo V.Garcia, coordenador da pós da Engenharia Elétrica, espera não contar com estas dificuldades para preencher as pelo menos 4 vagas de docentes que abriu com a aposentadoria e morte de professores da faculdade. “Cerca de 30 a 40% dos doutores do país saem da Unicamp e, diante da performance de seu programa, considerado de excelência internacional, conceito 7, segundo a Capes, o interesse em integrar nossa equipe deve aumentar”. Garcia acrescenta que o Brasil tem bastante reconhecimento na área e a Unicamp sempre foi a nota máxima entre os pares. A pós na Elétrica abrange todas as 6 áreas de concentração e já tem 28 anos. “Tem ótima repercussão no exterior o que permite publicar em revistas indexadas e manter intercâmbio com instituições conceituadas”.

A pós da Faculdade de Engenharia de Alimentos também tem saltado estes obstáculos com eficiência: tem dois programas de excelência internacional - conceito 7 - em Ciência de Alimentos e Engenharia de Alimentos, e nota 5 em Tecnologia de Alimentos, e Alimentos e Nutrição. O mestrado em Ciência de Alimentos é o mais antigo, conta Miriam Dupas Hubinger, coordenadora da pós.

Começou na Unicamp em 69 e, em 75, ampliou para o doutorado. Já a Engenharia de Alimentos foi o primeiro que abriu nesta área no Brasil e, até hoje, enfrenta poucos e novos concorrentes, ainda em formação. “Na verdade, funcionamos como unidade de aperfeiçoamento e treinamentos para formar professores para outras faculdades no país”. No ano passado, foram 102 teses nos quatro programas. O total de alunos na pós está em 545 com 61 docentes credenciados.

Miriam acrescenta que além deste papel fundamental na formação de recursos humanos, os pontos positivos que fazem o programa manter seu alto conceito são as publicações em revistas internacionais e as linhas de pesquisa bastante atuais dentro da vanguarda do setor. “Na Engenharia, o índice de publicação é de 5,3 por docente por ano e, na Ciência de Alimentos, 3, ambos excelentes patamares na área”. A coordenadora acrescenta que os dois programas mantêm vários convênios e intercâmbios internacionais, além de estreita cooperação com programas de pesquisa e treinamento de universidades na Europa e Estados Unidos. Com empresas, no Brasil o vínculo mais forte é com a Rhodia e a Sadia.

Química prepara
profissionais para todo país
É um programa relativamente novo que ainda não sofre baixas por conta de aposentadoria, mas que já se consolidou, na avaliação do relatório da Capes, “como o programa de maior impacto na área para a formação de recursos humanos em todo o país”. Repetindo a performance do biênio anterior, o programa de pós da Engenharia Química recebeu conceito 6, reflexo do bom trabalho que os 49 professores conseguem com os seus atuais 390 alunos. Mas o instituto já formou 377 mestres e 119 doutores até o final do ano passado, ao mesmo tempo em que seu corpo docente desdobra-se também para atuar concomitantemente na graduação, que obteve nota A no Provão.
A coordenadora da pós da Engenharia Química, Ana Frattini Fileti, ressalta que o perfil do programa de sua faculdade é bastante diferente dos seus pares no Brasil. “Metade dos alunos é bolsista e a outra metade é composta de estudantes vinculados às indústrias; já o perfil dos outros cursos é de atender principalmente bolsistas”. Ana acrescenta que o programa é focado em atender a demanda de aperfeiçoamento do mercado e, por conta disto, desenvolve inúmeros projetos conjuntos com indústrias do porte da Rhodia, Petrobrás, Votorantin, com o Pólo Petroquímico de Camaçari, entre outras.
Outro aspecto que Ana Fileti considera importante destacar é o fato de que metade dos bolsistas é da Fapesp, tendo reduzido sua dependência de recursos federais. Entretanto, é necessário que as agências federais retomem os investimentos para que toda a demanda do programa seja suprida. “Todos os docentes dão aulas, orientam alunos, participam de projetos e congressos, além de ocuparem cargos em organizações nacionais, como o professor Rubens Maciel Filho, presidente da Associação Brasileira de Engenharia Química, além de cuidar da edição da revista Brazilian Journal of Chemical Engineering “. A coordenadora lista estas atividades para comparar com o perfil de atividades de sua concorrente direta - a Coppe (Coordenação dos Programas de Pós-Graduação em Engenharia), da Universidade Federal do Rio de Janeiro - que tem conceito 7 e se dedica exclusivamente a atividades de pós. “Na estrutura de avaliação da Capes, é quase impossível chegar ao nível da Coppe uma vez que, na Unicamp, temos uma das maiores cargas didáticas, temos uma graduação com conceito A, o que acaba pulverizando os trabalhos dos professores e reduz o tempo voltado exclusivamente para publicações e pesquisa”. Mesmo assim, conclui a coordenadora, estamos com índice bastante elevado de publicações.

Agrícola tem programa enxuto
Elevado número de alunos, grande demanda por parte de docentes de outras universidades e representatividade junto aos órgãos oficiais, como o assento que tem na presidência da Sociedade Brasileira de Engenharia Agrícola. Mesmo com apenas seis outros cursos entre os pares na área, não foi considerada, na visão da comissão avaliadora da Capes, satisfatória o bastante para manter o conceito anterior de 5. Diferente de outras áreas, nenhum curso de Engenharia Agrícola obteve conceito superior a 5. Para Raquel Gonçalves, coordenadora da pós, o programa foi penalizado justamente onde residem algumas de suas virtudes, como o enxugamento das linhas de pesquisa. “Esta definição interna foi fruto de um debate exaustivo e maduro de 5 anos e não é justo que o programa seja, agora, penalizado exatamente por isto”.

Raquel considera que existiram erros de interpretação no recente relatório e sua faculdade já encaminhou recurso para tentar reverter o conceito 4 obtido. Já houve, inclusive, uma discussão pessoal com membros da Capes para a defesa de autonomia na adoção do número ideal de linhas de pesquisa que o Programa deve ter, diante do que considera importante. Na área de Engenharia Agrícola, a Unicamp não dispõe, atualmente, de nenhum representante na comissão técnica da Capes. Todos os demais programas são federais, com características bastante diferenciadas em termos, inclusive, do número de linhas de pesquisa.

“Outra característica de nosso programa, que indiretamente acabou sendo criticada, é o trabalho conjunto com vários Institutos de pesquisa como, por exemplo, o IAC (Instituto Agronômico de Campinas), Ital (Instituto de Tecnologia de Alimentos), CATI (Coordenadoria Assistência Técnica Integral), Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisas Agrícolas) ou o Cepagri (Centro de Ensino e Pesquisa em Agricultura) e CPQBA (Centro Pluridisciplinar de Pesquisas Químicas, Biológicas e Agrícolas), da própria Unicamp. Este tipo de parceria, que advém, inclusive, de nossa localização geográfica, atrai pesquisadores externos com interesse em serem incorporados ao curso para orientação de alunos, participação em disciplinas e projetos, o que indiretamente provoca alguns prejuízos, uma vez que acaba sendo vista pela comissão como dependência externa”. Na verdade, tais atributos, elogiados e estimulados em outras áreas, na Agrícola foram criticados.

Para Raquel, o trabalho de conseguir agrupar cerca de 40 linhas de pesquisa em 5 grandes grupos foi uma posição amadurecida da faculdade. O parecer da comissão avaliadora da Capes propôs que as temáticas se desdobrassem em várias linhas; já a posição da faculdade é que os temas devem desabrochar e crescer até que se consolidem em linhas sólidas, e esse processo de amadurecimento exige um tempo, ao invés de se estabelecer a partir de uma orientação burocrática. A coordenadora acrescenta que, de maneira semelhante ao que hoje ocorre com suas linhas de pesquisa, o programa já foi criticado anteriormente pela existência da área de Sociologia Rural que hoje não só é aceita como ocupa lugar de reconhecida importância no cenário nacional. O mestrado na faculdade começou em 1978 e o doutorado em 1993, contando atualmente com 36 docentes plenos e aproximadamente 300 alunos.

A Faculdade de Engenharia Civil sentiu-se durante um longo tempo como “o patinho feio” da área, pois seu campus ficava em Limeira, o que dificultava a convivência com as demais engenharias. A coordenadora da pós, Maria Lúcia Galves, diz que a mudança para Campinas melhorou o ânimo e com a aprovação do doutorado pela Capes, o que acaba de acontecer, a faculdade ganhou um novo alento. “Quebrou-se o círculo vicioso de ver os nossos alunos de mestrado migrarem para outras universidades”. Maria Lúcia acrescenta que esta foi uma importante conquista também, pois significa o reconhecimento da melhora do curso de mestrado, que subiu para 4.

Rigor nos ajustes
Precisão cirúrgica na adaptação do programa de pós aos requisitos do relatório da Capes colocou a Engenharia Mecânica no maior programa do país, com índices crescentes de produtividade e pronto para ser checado por qualquer indicador. O coordenador, Euclides de Mesquita Neto, assegura que a manutenção do conceito 6 é fruto de um longo trabalho durante a história da faculdade e de bastante empenho do corpo docente. Os cursos de mestrado e doutorado na Engenharia Mecânica são bem antigos –1974 e 1975- e encontram-se consolidados.

Apesar da redução do número de professores, de 55 em 1996/97 para os 50 atuais, o contingente de alunos no período só cresceu: o mestrado saltou de 93 para 215 e o doutorado, de 146 para 247. Tem ainda mais 445 alunos especiais, o que representa uma elevação de 25% no contingente do público atendido pela pós.
O coordenador salienta, também, que o programa conseguiu um excelente desempenho na redução de mais de 10% no tempo médio de titulação e os docentes têm sido firmemente orientados para que o índice permaneça. Em sua opinião, o que falta para atingir o topo do conceito 7 é maior inserção internacional, mas já se têm as pré-condições necessárias.

O excesso de alunos por orientador é, também, uma questão a ser enfrentada e o objetivo de sua gestão é ganhar a disputa dos melhores alunos com o mercado de trabalho. “Nossos alunos saem muito bem preparados e, conseqüentemente, são inseridos rapidamente na vida profissional”. Menos de 10% deles continuam na universidade para a pós-graduação e o novo programa de acelerar o mestrado, como desdobramento da iniciação científica, pode ajudar a melhorar o poder de atração dos melhores alunos para a pesquisa, conclui Mesquita Neto.


 

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