Critérios
não refletem avanços
Coordenadores procuram detectar falhas
e identificar origem dos problemas
Os
cursos de pós-graduação da área
de Ciências Biológicas ficaram aquém
da expectativa para um setor de grande impacto social.
A avaliação preliminar em cima dos conceitos
concedidos pela Capes neste último triênio,
cuja maior nota foi 5 e atingiu apenas 9% dos cursos
analisados, é de que além dos ajustes
necessários nos programas, talvez alguns critérios
adotados não reflitam com fidelidade os avanços
do setor.
A
faixa de conceitos da Capes de 3 a 5 obtida para os
programas de Ciências Biológicas inquietou
os coordenadores da área na Unicamp, que já
se reuniram para detectar falhas, seja nas linhas de
pesquisa como também no detalhamento do relatório,
a fim de melhor identificar a origem dos problemas.
Embora no último triênio os programas da
área médica em geral apresentassem um
desempenho sofrível no país - 60% dos
programas obtiveram nota 1, 2 ou 3; 31%, nota 4, e apenas
9% conceito 5 , na Faculdade de Ciências
Médicas da Unicamp, os resultados ficaram entre
os melhores. A média obtida no triênio
foi de 4.12, superior ao resultado de seus pares, que
ficaram entre 3.0 e 4.0. A maioria dos programas da
FCM está consolidada, sendo 75% destes considerados
bons ou muito bons (4 e 5).
Para
José Antônio Gontijo, coordenador da pós
em Ciências Médicas, a pesquisa é
o único alicerce sólido, sobre o qual
um bom programa de pós-graduação
pode ser estruturado. A ineficiência na produção
do conhecimento e a contaminação dos programas
stricto sensu por conteúdo profissionalizante,
embora a universidade pública tenha um papel
a desempenhar no atendimento de demandas por educação
continuada, não deve comprometer a qualidade
construída em duas décadas de árduo
trabalho.
Mesmo
considerando adequados os critérios da Capes
- ele próprio faz parte do comitê técnico
-, Gontijo admite que é difícil comparar
áreas usando padrões únicos. No
caso de seu departamento, um dos ajustes já detectados
é que os programas não estavam bem direcionados
para o stricto sensu, embora atendessem, com eficiência,
a demanda por especialização e aperfeiçoamento
que existe no meio. Além disso, mesmo com uma
grande quantidade de teses, um percentual pequeno é
publicado em revistas de impacto internacional.
Na
área médica, publicações
ou mesmo participação em congressos têm
pouco valor o que, segundo o coordenador, é correto,
pois os congressos não têm mais tanto rigor
de qualidade do que é apresentado. Não
existem critérios precisos para avaliar esses
congressos que muitas vezes são mais de reciclagem
e não de geração de novos conhecimentos.
Mas esta é a grande demanda na área médica,
acrescenta.
Assim como nas demais faculdades da área, também
na Unicamp apenas cerca de 30% das teses defendidas
nos últimos 20 anos foram publicadas.
Mesmo
assim, a produção no último triênio
avaliado pela Capes foi incrementada e mais de 100 dissertações
ou teses foram defendidas no período. Esta produção
científica repercutiu em mais de 270 trabalhos
publicados em circulação internacional.Em
novembro de 2000 foi defendida a milésima tese
em nossos programas e o ritmo neste ano foi acelerado,
contabilizando até setembro mais de 200 teses
defendidas, comemora Gontijo.
O
coordenador da pós do Instituto de Biologia,
João Vasconcellos Neto, assinala que a Capes
considera a coerência e a consistência quando
avalia os programas de pós. Centrada neste princípio,
a Biologia procurou ajustar o foco e fortalecer as linhas
de pesquisa. A proposta anterior do curso levava em
consideração os projetos de pesquisa dos
professores e as disciplinas periféricas, o que
provocou uma abertura excessiva e a pulverização
da produção científica. Chegou-se
a 140 linhas o que, na verdade, deveria ser considerado
como projetos. Hoje, a pós da Biologia está
centrada em seis grandes linhas - Biologia Funcional
e Molecular, Biologia Celular e Estrutural, Genética
e Biologia Molécula, Biologia Vegetal, Ecologia
e Parasitologia. Os programas estão bem avaliados
com conceito 5, e a única exceção
deveu-se ao enfraquecimento da área a que pertence.
A Parasitologia, que entrou com recursos contra o conceito
3 recebido, incluía outras duas áreas-
de imunologia e microbiologia- que foram transferidas
para Genética, reduzindo a massa crítica
do curso que tem hoje um pequeno número de docentes.
O
baixo contingente de professores é, inclusive,
um risco à extinção de cursos e
um problema generalizado hoje na Unicamp, com o aumento
das aposentadorias e a falta de renovação
de quadros. Vasconcellos alerta sobre a necessidade
de uma política decisiva para fortalecer estas
e outras áreas. O coordenador diz que em sua
gestão houve um empenho em melhorar as condições
físicas do instituto, com a construção
de novas salas de aula e investimento na centralização
administrativa, o que consumiu R$ 500 mil. Atualmente
são 700 alunos em mestrado e doutorado, e 264
docentes credenciados junto à pós.
Vasconcellos acrescenta, ainda, que é possível
melhorar o perfil da avaliação preenchendo
corretamente o relatório de forma a que cada
coordenador consiga retratar, com fidelidade, a qualidade
de sua área. O esforço de sua área
também deve centrar-se em atender alguns critérios
de valorização adotados pela Capes, que
é o fluxo de 30% ao ano para defesas de tese
e incremento na apresentação de trabalhos
em congressos e publicações em co-autoria
de alunos.
Reitor
destaca esforço coletivo
nível
de excelência dos cursos de pós-graduação
da Unicamp não foi conquistado por acaso. Ao
contrário, ele foi cuidadosamente construído
ao longo dos anos, graças à participação
ativa de docentes, alunos e funcionários. A opinião
é do reitor Hermano Tavares, que também
ressalta o apoio decisivo dos órgãos de
financiamento para a obtenção desse resultado.
A pós-graduação brasileira
nasceu há aproximadamente 35 anos e hoje se consolida
como uma das mais importantes dos países em desenvolvimento.
Isso se deve à forma inteligente com que os programas
têm sido conduzidos pelas instituições
de ensino públicas como a Unicamp, em conjunto
com as agências de fomento.
O
reitor salienta, ainda, a destacada contribuição
da Fundação Coordenação
de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível
Superior (Capes) e do Conselho Nacional de Desenvolvimento
Científico e Tecnológico (CNPq) para a
pós-graduação brasileira, por meio
da formulação de políticas para
o setor. De acordo com Tavares, as atividades de pós-graduação
implantadas nas últimas três décadas
sempre estiveram ligadas de forma indissociável
ao desenvolvimento da pesquisa. Pesquisa e Pós-graduação
permitem, a um só tempo, a formação
de quadros altamente qualificados e o avanço
da ciência e da tecnologia no país. Isso
cria oportunidades por meio da busca inteligente de
talentos, diz. Atualmente, o sistema brasileiro
oferece 1.500 programas de mestrado e doutorado, sendo
que a maioria deles já está consolidada.
De
acordo com o reitor, a Unicamp tem, a partir de agora,
duas importantes missões na área da pós-graduação:
continuar avançando o nível de qualidade,
alem de ajudar a criar condições para
que os conhecimentos gerados em seus cursos sejam incorporados
pelo setor produtivo, de forma que este disponibilize
para a sociedade o resultado das pesquisas e torne o
país mais competitivo no mercado internacional.
Temos que fazer um trabalho contínuo para
o aprimoramento da sociedade. A criação
dos fundos setoriais por parte do governo federal, em
áreas que o país julga ter futuro, soma-se
aos nossos esforços.
Os
bons resultados alcançados pela Unicamp na avaliação
da Capes é, no entender de Tavares, conseqüência
da preocupação constante que a Universidade
tem com o aprimoramento de suas atividades de ensino
e pesquisa. Conforme o reitor, eles confirmam a premonição
do professor Zeferino Vaz, fundador da Universidade,
de que a instituição seria povoada por
cérebros que ajudariam a formar novos cérebros.
É isso o que a Unicamp vem fazendo com
sucesso inquestionável. Toda a comunidade acadêmica
está de parabéns pelos serviços
que estamos prestando à sociedade.