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Tecnologia permite produção
de
sorvete de baru, fruto do Cerrado
Técnica favorece também
aproveitamento
da polpa na produção de alimentos
O
baru, um dos frutos de exploração
do Cerrado, tem seu lugar tanto na literatura científica
quanto na alimentação de muitas pessoas. Recentemente,
pelo valor nutricional cien-tificamente comprovado, sua amêndoa
é usada também para enriquecimento de merenda
escolar nos estados de Goiás, Minas Gerais e Bahia.
Mas como não só de amêndoa se compõe
o fruto, o pesquisador Bruno de Andrade Martins decidiu desenvolver
um fluxograma que favorecesse formas adequadas de despolpamento
e aproveitamento da polpa do fruto na produção
de alimentos. Martins indica alguns métodos para garantir
a entrada mais apropriada dos produtos no mercado. A mais
recente aplicação da nova tecnologia está
na produção do sorvete de baru, que será
distribuído em poucos meses pela fábrica onde
o pesquisador trabalha.
A tese
"Desenvolvimento tecnológico para o aprimoramento
do processamento de polpa e amêndoa do baru (Dipteryx
alata vog.)", defendida na Faculdade de Engenharia de
Alimentos (FEA) e orientada pelo professor Flávio Luis
Schmidt, teve como objetivo fornecer subsídios para
o aprimoramento da cadeia produtiva por meio do desenvolvimento
de tecnologias que, além do aproveitamento, melhorassem
as condições de extração e de
padronização da qualidade da amêndoa de
baru. De acordo com o pesquisador, a nova tecnologia pode
propiciar aumento real da capacidade produtiva.
Produção
artesanal
Rico em minerais, como ferro, cálcio e zinco, e ácidos
graxos insaturados, o baru atrai grande interesse das unidades
rurais por causa de sua amêndoa, pois a polpa é
considerada a parte pobre do fruto. O grande gargalo de sua
cadeia produtiva, porém, está justamente na
falta de tecnologia para a extração da amêndoa,
de acordo com Martins. A dificuldade dos extrativistas para
cortar o fruto e aproveitar a amêndoa levou o pesquisador
a desenvolver a técnica, para tornar mais eficaz e
eficiente o despolpamento, já que a polpa, por ser
muito seca, é de difícil remoção.
Durante o estudo, a hidratação facilitou o despolpamento,
segundo o autor.
Em suas
visitas a cooperativas e empresas, Martins diz ter identificado
um equipamento desenvolvido para aumentar a capacidade produtiva,
mas era um aparelho precário e que poderia causar riscos
aos operadores. Sem o equipamento, a maioria opta pela retirada
com uma foice adaptada a um cavalete.
Além
de perder grande parte dos frutos, 50% das amêndoas
são amassadas na extração, o que também
dificulta a aceitação do produto. Como a maior
parte da amêndoa tem de ser comercializada inteira,
a aceitação acaba sendo comprometida. Uma das
saídas para as unidades de produção,
segundo Bruno, é transformar as amêndoas quebradas
em farinha, cookies, barras de cereais, licores, entre outros.
No estudo,
Martins identificou que para fazer ruptura do endocarpo, são
necessários de 900 a mil quilogramas força.
O aproveitamento da polpa, que representa aproximadamente
44% do peso do fruto, é limitado e pouco aplicado em
unidades produtoras, pela forma artesanal de produção,
resultando em aproximadamente 95% de resíduos sólidos
no beneficiamento das amêndoas.
Diante
de todas essas limitações, Martins fez caracterizações
mecânicas, observando força necessária,
porcentual que amassa até romper sem estragar as amêndoas,
deformação específica, que representa
o deslocamento do equipamento, energia total de deformação
que o equipamento absorve. "Estas informações
são fundamentais para o desenvolvimento de equipamentos
de extração de amêndoas de baru",
informa.
Tomografia
A técnica de tomografia computadorizada de raios X
do baru, pouco utilizada em pesquisa com alimentos, permitiu
avanços como a inspeção interna sem invasão
ou corte do fruto, a visualização de diversas
irregularidades no endocarpo, de pontos suscetíveis
a ruptura com aplicação da força de compressão
no sentido da largura, e de folgas internas, variando de 5,46
a 5,53 milímetros.
A tese
promoveu uma revisão completa no processo de torração
das amêndoas, com a finalidade de tornar o sabor mais
agradável. O tratamento dado na torração
atualmente nas unidades ainda permite passar muitas amêndoas
cruas ou queimadas, por não ser padronizado. Durante
o estudo, temperatura e tempo adequados facilitaram a aceitação
do produto, de acordo com análise sensorial realizada
pelo pesquisador em Goiás e em São Paulo.
O processo
de torração em torrador rotativo, para maior
aceitação, pode ser controlado pela cor, segundo
Martins. Ele desenvolveu um estudo de parâmetros durante
a torração para entender o que acontece com
relação à variação de cor
com temperatura, perda de massa, crocância e textura
da amêndoa. "A aceitação é
boa, positiva. As pessoas gostaram muito. O sabor lembra amendoim
torrado. Crua é como feijão, porém, não
é aconselhável, pois possui fatores antinutricionais
que interferem na absorção de nutrientes pelo
organismo", informa.
A oportunidade
de aplicar a tese na atividade de torração dentro
de uma empresa permitiu melhorar o tempo de torração
de 5 quilos a cada uma hora e meia para 15 quilos a cada 15
minutos. Mas com a tecnologia encontrada nas empresas seria
preciso esperar a extração de uma semana para
chegar a 15 quilos, pois a produção é
de apenas 2 a 4 quilos por dia. Uma das propostas da tese,
segundo Bruno, é desenvolver um equipamento que permita
aumentar a produtividade com segurança.
Durante
a pesquisa também foram analisadas as formas de acondicionamento
da amêndoa, barreira para umidade, luz e oxigênio.
A partir do estudo da isoterma da amêndoa, ele concluiu
que, para a manutenção de sua qualidade e estabilidade,
é fundamental a utilização de sistemas
de embalagem que a protejam da umidade e do oxigênio,
de forma a preservar por maior tempo a qualidade inicial,
evitando perda de crocância e alterações
no sabor.
Para Martins,
os resultados obtidos na tese fortalecem as bases agroecológias,
com o aumento da produção e padronização
da qualidade, aliando inovações tecnológicas
e promovendo a sustentabilidade e a valorização
da biodiversidade nativa do Brasil. "O trabalho preza
muito pelo desenvolvimento social e econômico e pela
preservação da biodiversidade brasileira",
afirma o pesquisador.
Funcionalidade
De acordo com a literatura, o baruzeiro é uma planta
promissora devido a seu múltiplo uso. Além da
utilização popular como alimento, ele também
serve como forrageiro, madeireiro, melífero e aplicações
ornamentais e medicinais (antirreumático, tônico
e regulador menstrual). A árvore apresenta potencial
de aplicação em projetos que conciliam a preservação
dos recursos naturais com rentabilidade econômica por
garantir renda extra em época de seca.
O baru
hoje representa fonte de renda para a população
de diferentes regiões do país. Conforme alguns
estudos, o fruto é carro-chefe de diversas pequenas
iniciativas de agronegócio nos estados de Goiás,
Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Tocantins, Minas Gerais e
Distrito Federal. Em alguns casos, a produção
dessas atividades apresentou potencial de crescimento, mas
acabou encontrando dificuldades para alcançar mercados,
segundo o pesquisador.
Ele acrescenta
que, em estudo realizado anteriormente por outros pesquisadores
com 170 famílias rurais no Assentamento Andalucia,
em Nioaque, em Mato Grosso do Sul, foi demonstrado que o baru
aponta como uma importante alternativa para a produção
sustentável. Além de aumentar a renda familiar
com cultivo e beneficiamento do baru, o estu-do propiciou
a melhoria da qualidade de vida, aumento da auto-estima e
do bem-estar social, estimulando a cooperação
e o interesse da população envolvida.
Ficha técnica
Pertencente à família Leguminosae Faboideae
e com o nome científico Dipteryx alata Vog., o baru
também é conhecido popularmente por barujó,
castanha-de-ferro, castanha-de-burro, chimoré, coco-feijão,
cumarurana, cumaru, cumbaru, cumbary, fruta-de-macaco, emburena-brava,
feijão-coco, pau-cumbaru, pau-cumaru, garampara, meriparagé,
almedro e "tonka beans". Além de ocorrer
no Cerrado brasileiro, o baruzeiro pode ser encontrado nas
cercanias do complexo do Pantanal e em países vizinhos,
como Paraguai e Bolívia.
Publicação
Tese "Desenvolvimento tecnológico para
o aprimoramento do processamento de polpa e amêndoa
do baru (Dipteryx alata vog.)"
Autor: Bruno de Andrade Martins
Orientador: Flávio Luis Schmidt
Unidade: Faculdade de Engenharia de Alimentos (FEA)
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