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Muito longe da rodovia que
perdoa
Engenheiro civil avalia segurança
em trechos
de 11 estradas da região de Campinas
O
engenheiro civil e especialista em segurança viária
José Luiz Fuzaro Rodrigues adaptou para 11 trechos
de rodovias do Estado de São Paulo a técnica
chamada Auditoria de Segurança Viária. Largamente
utilizada na Europa, Estados Unidos e em outros países
desenvolvidos, a técnica é, segundo Fuzaro,
muito eficaz em encontrar e quantificar problemas potenciais
de segurança nas vias auditadas.
Com o intuito de verificar a
aplicabilidade
do uso da auditoria de segurança viária no Brasil,
Fuzaro tomou como base rodovias de pista simples que estão
tanto sob jurisdição do Estado quanto sob concessão
privada. E, também, rodovias de pista dupla com quatro
e seis faixas de rolamento, sob jurisdição do
Estado, de concessionárias e do Dersa que é
uma empresa de economia mista.
Para o engenheiro, foi muito
interessante poder comparar as estradas tanto por tipo de
rodovia como por tipo de administração. De acordo
com sua avaliação, as rodovias sob concessão
estão realmente em melhores condições
de segurança do que as estradas mantidas sob a administração
do Estado. Temos que considerar que as rodovias mais
novas, implantadas mais recentemente, estão em melhores
condições de segurança do que as mais
antigas. Os projetos mais recentes e as novas implantações
demonstram que houve uma evolução, avaliou
Fuzaro. A pesquisa resultou em dissertação orientada
pelo professor Cássio Eduardo Lima de Paiva.
Para o especialista, todo projeto
antes de ser implantado deveria passar por fases de auditoria
de segurança viária, seja qual for o seu tamanho.
A auditoria busca analisar os projetos sob a ótica
da segurança. Procura encontrar nos projetos quaisquer
elementos que possam se constituir num risco para o usuário,
um gerador de acidentes do futuro. E essa técnica
pode ser usada em rodovias em operação e foi
o que eu fiz aqui. Peguei a técnica e apliquei-a em
rodovias do Estado de São Paulo, afirmou.
Para exemplificar, Fuzaro apontou
um problema que as pessoas podem verificar no seu dia a dia
e que em várias oportunidades é veiculado nos
noticiários: um acidente no qual o veículo cai
numa ribanceira e, em decorrência disso, muitas pessoas
morrem. Trata-se de um problema ocasionado pela falta
de segurança. Quando se tem uma declividade muito alta,
necessita-se de uma proteção lateral para que
o veículo não saia fora da pista e caia num
precipício, disse.
Existem também os chamados
objetos fixos, como pilares, postes e árvores. Caso
haja uma colisão de um veículo junto a esses
objetos, acontece uma desaceleração muito forte
e isso pode ser fatal para os ocupantes do automóvel.
Esse tipo de perigo deve ser removido. Caso não
possa, é preciso colocar uma proteção,
alertou Fuzaro.
Portanto, prosseguiu o especialista,
a auditoria busca todas essas nuances, desde aquilo que é
mais claro e visível até aquele problema que
o técnico observa que pode causar ou agravar um acidente.
Por isso são chamados problemas potenciais de segurança.
Por exemplo, a deficiência de sinalização
pode levar o usuário a se confundir e executar uma
manobra insegura. Às vezes, adjacente à pista,
um degrau muito alto pode levar o veículo a se descontrolar
e até capotar. São problemas que a auditoria
vai procurar. A preocupação da segurança
é evitar acidentes e, quando vierem a acontecer, minimizar
seus efeitos, ressaltou.
Dificuldades
No
Brasil, de um modo geral, há uma dificuldade de comunicação,
de divulgação de normativas. Toda norma, quando
publicada, demora a ter uma ampla divulgação,
um amplo conhecimento e também uma fiscalização
maior. Encontramos dificuldades na divulgação
das normas e isso entra também no processo de conhecimento
dos próprios técnicos, disse.
No entanto, ela traz uma contribuição
muito importante e, dela, Fuzaro destaca dois aspectos. O
primeiro, feito no início do trabalho, é que
a auditoria é uma técnica que chama de proativa.
Normalmente, o que se faz na abordagem tradicional é
cuidar ou tratar de pontos críticos de acidentes. Isso
significa que os acidentes têm que ocorrer para que
se identifique aquele local perigoso. Tem que haver um histórico
de acidentes, uma estatística. Isso é o que
faz normalmente a análise estatística,
disse.
A auditoria é uma técnica
proativa porque não necessita de um histórico
de acidentes. Aplicando a auditoria, é possível
de antemão verificar onde estão os problemas
potenciais e minimizá-los. Se isso ocorrer na fase
de projeto, evita a implantação de itens inseguros.
Se for na fase de rodovias existentes, a identificação
de problemas de segurança ajuda a melhorar o planejamento
das intervenções. Ou seja, conhecendo de antemão
onde estão os problemas e quantificando-os, a auditoria
pode ajudar a planejar melhor os investimentos.
Em relação às
normas, a auditoria ajuda a aprimorar o processo de projetos
porque, ao identificar problemas que não foram vistos
anteriormente, ela eleva o nível de preocupação
com a segurança. Pode ajudar nos projetos seguintes,
não permitindo que ocorram os mesmos problemas.
Fuzaro lembra que a última
pesquisa feita pelo Instituto de Pesquisa Econômica
e Aplicada (Ipea) mostra que os acidentes no Brasil custam
anualmente R$ 28 bilhões para a sociedade. Isso considerando
que o número oficial de mortos é de 34 mil por
ano. No entanto, sabe-se que esse número é bastante
superior ao oficial porque, quando se consideram aqueles que
falecem nos hospitais e são cruzados esses dados com
as seguradoras devido a mortes em acidentes, as estatísticas
apontam para cerca de 50 mil mortos. Essa quantia de
R$ 28 bilhões na verdade é muito maior. Portanto,
quando se conseguir trabalhar reduzindo os problemas de acidentes
não só em número, mas também
em severidade pode-se ter uma redução
significativa desse custo para o país, analisou
Fuzaro.
Porém, não é
em todo lugar que são realizadas boas estatísticas
então às vezes fica-se sem saber onde
é necessário investir para melhorar a segurança.
Seria mais eficaz fazer a auditoria desde a fase de concepção
de projeto, até o detalhamento, passando por uma auditoria
de segurança viária por meio da qual seriam
eliminados potenciais problemas.
Concentrei minha pesquisa
na região de Campinas porque tem todos os tipos de
rodovias com uma representatividade boa. A verdade é
que em todas as rodovias, com mais ou menos, encontramos problemas
de segurança. Obviamente, as mais novas têm uma
quantidade menor, porém eles existem.
Poucos projetos são auditados
no Brasil e os especialistas estão trabalhando com
as normas existentes. E, de acordo com elas, os olhos da segurança
viária nem sempre estão atentos a todos os problemas.
Para Fuzaro, o tema ainda incipiente no país quando
comparado com países mais avançados, caso dos
Estados Unidos e Austrália e de nações
europeias, onde o nível de preocupação
é muito superior ao nosso. As soluções
de projetos adotadas por eles são, no que diz respeito
à segurança, bem superiores às nossas.
As normas brasileiras ficaram desatualizadas por muito tempo
em relação ao que se faz nos países mais
desenvolvidos, garantiu.
Atualmente, o Brasil tem trabalhado
para atualizar essas normas. A Associação Brasileira
de Normas e Técnicas (ABNT) publicou um 2007 uma norma
que dá diretrizes para os projetos de dispositivos
de contenção viária, ou seja, trata-se
de procedimento bastante recente. É uma primeira norma
que trouxe uma preocupação maior e aproxima
o Brasil dos países mais desenvolvidos, no entanto,
ainda estamos distantes deles. É necessário
tempo para se incorporar essa cultura de segurança
viária, afirmou.
A identificação
dos problemas pode contribuir para aprimorar o processo de
projeto porque traz à tona essas considerações
quanto à segurança da via e ajuda a incorporar,
nos novos projetos, as soluções mais eficazes
e modernas de segurança.
Imprudência
Fuzaro fez questão de
ressaltar que nem sempre a imprudência é um componente
único de um acidente. Muitas vezes existe um cruzamento
disso com problemas na via, com falhas de fiscalização.
Qual é a responsabilidade da via?, indagou
Fuzaro, que também é o coordenador da comissão
de estudos de segurança viária da ABNT. Na ocorrência
de um acidente, a responsabilidade da via é minimizar
as consequências. Não é porque uma
pessoa cometeu um erro, seja por imprudência, desatenção
ou cansaço, que precisa pagar esse erro com a morte
ou acidente grave. O papel da rodovia é
ser o que chamamos de rodovia que perdoa. Esse
é um conceito que vem da Europa e Estados Unidos e
significa que a estrada deve estar preparada para
acomodar os erros humanos, advertiu.
Para ele, o motorista sempre
cometeu e vai continuar cometendo erros. A rodovia deve ser
desprovida de elementos que sejam perigosos ou agravem os
acidentes. Ela deve prevenir. Hoje já existem amortecedores
de impacto, dispositivos vistos tipicamente em bifurcações
aonde o impacto de veículo é amortecido por
um sistema. São coisas que hoje podem ser usadas
nas rodovias e nós estamos vendo no Brasil o início
da implantação de dispositivos mais modernos
e seguros. A auditoria tem que buscar todas essas nuances
da segurança e permitir que essa rodovia seja aquela
que perdoa , concluiu Fuzaro.
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Publicação
Dissertação de mestrado: Aplicações
da técnica de auditoria de segurança viária
em segmentos rodoviários no estado de São Paulo
avaliação crítica e reflexões"
Autora: José Luiz Fuzaro Rodrigues
Orientador: Cássio Eduardo Lima de
Paiva
Unidade: Faculdade de Engenharia Mecânica
(FEM)
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