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Pesquisas usam concentração
de hormônio para mensurar estresse

Raquel do Carmo Santos

 

A fisiologista Márcia Carvalho Garcia com o equipamento de coleta de saliva: pessoa de baixa renda está mais sujeita ao estresse (Fotos: Antoninho Perri/Reprodução)Pesquisa desenvolvida no Instituto de Biologia (IB) apontou que pessoas das classes D e E possuem maiores concentrações de cortisol – um dos principais hormônios relacionados ao estresse – em comparação a níveis encontrados em executivos de uma multinacional na região de Campinas. As avaliações de executivos do sexo masculino e feminino foram realizadas pelos pós-graduandos Aglécio Luis de Souza, Geruza Perlato Bella e Márcia Carvalho Garcia. O grupo avaliou 80 voluntários. Trata-se do primeiro estudo do gênero feito em um país em desenvolvimento. As pesquisas foram realizadas no Laboratório de Estudo do Estresse do IB e orientadas pelas professoras Regina Célia Spadari e Dora Maria Grassi-Kassisse.

Uma das justificativas para o resultado, segundo aponta Márcia, seria a maior exposição a situações de risco a que está submetida a população de mais baixo status socioeconômico. Tese de mestrado de Aglecio Luiz de Souza, derivada da linha pesquisa, indicou ainda que este segmento da população apresentou alto grau de morbidade psiquiátrica e de hábitos relacionados a riscos para a saúde tais como tabagismo e alcoolismo. Isto não quer dizer, no entanto, que os executivos não possuam concentrações de cortisol acima do limite estabelecido.

A fisiologista Márcia Carvalho GarciaMárcia explica que número expressivo de executivos apresentou alterações no ritmo circadiano de cortisol, ou seja, as concentrações foram altas durante o período noturno e baixas pela manhã, quando o normal seria justamente o contrário. Em geral, as concentrações pela manhã são mais elevadas e ao final do dia diminuem, chegando quase a zero próximo da meia-noite. “Em muitos casos, as elevadas concentrações estavam relacionados à insônia, tarefas fora do experiente normal e reuniões ao longo da tarde”, explica.

Para medir o nível de cortisol nestes indivíduos, Márcia utilizou uma técnica nova que consiste na coleta de saliva para análise de concentrações de cortisol. Ela colheu amostras nos períodos matinal, vespertino e noturno, durante a execução das rotinas gerais e em dias considerados pelos próprios executivos como dedicados ao descanso.

A técnica de coleta da saliva, além de mais fácil de ser realizada e aceita pelos participantes, também evita o estado de estresse a que são submetidas as pessoas no caso do exame sanguíneo. Esta mesma técnica serviu de base para testes em jogadores profissionais de basquete, em temporadas de competição e também em estudantes de cursinho pré-vestibular durante os exames de disputa de vagas. No caso dos jogadores de basquete, Márcia analisou as concentrações de cortisol no período de 18 jogos durante campeonato realizado entre os meses de março e maio.

Ela constatou que antes do início e ao final do jogo, as concentrações salivares de cortisol estavam elevadas. Ao longo do campeonato, Márcia observou uma diminuição da concentração salivar do hormônio. Nos estudantes, a análise contemplou sete meses no ano. Os resultados indicaram que nos meses de junho e novembro os níveis do hormônio eram maiores em relação até mesmo ao período do exame vestibular. “Este resultado pode estar relacionado com o momento de inscrição das universidades, pois consiste no período em que o estudante tem que escolher a universidade e a carreira que irá seguir”.


 
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