O geógrafo Hélio Caetano Farias traçou o mapa das privatizações realizadas no Brasil na década de 1990. Seu objetivo, na verdade, foi estudar as articulações realizadas entre o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) e as empresas transnacionais de consultoria para compreender o uso do território brasileiro. Segundo Farias, os dados sobre as privatizações estavam dispersos e tornou-se necessário o levantamento das informações para analisar a atual proposta desenvolvida pelo banco.
Os mapas e tabelas elaborados foram obtidos a partir dos relatórios de atividades do Plano Nacional de Desestatização, de 1992 a 2006. Pelo mapa, apenas no setor siderúrgico, o valor das vendas, mais as dívidas transferidas de cada empresa, somam mais de U$ 8 milhões. Farias identificou ainda o envolvimento de, pelo menos, sete empresas de auditoria externa. De acordo com o geógrafo, foi intensa a participação de grandes empresas de consultoria no conjunto das privatizações, entre as quais a KPMG, Price Waterhouse & Coopers, Booz-Allen & Hamilton, Ernst & Young e Arthur D. Little.
Farias apresenta suas conclusões na dissertação de mestrado apresentada no Instituto de Geociências (IG), orientada pela professora Adriana Maria Bernardes da Silva. Ele acredita que o vigoroso processo de privatização coordenado pelo Banco – com o aval das empresas de consultorias – tem ampliado a desigual geração e apropriação de riqueza e intensificado o uso corporativo do território.
Para o geógrafo, a preocupação do BNDES, a partir da década de 1980, de equilibrar as contas externas, marginalizou a idéia de integração do território nacional, com a formação do mercado interno e com a correção das disparidades territoriais. “Em substituição o contexto atual é marcado pelas políticas econômicas preconizadas pelos centros hegemônicos, em especial o Fundo Monetário Internacional e Banco Mundial”, critica.
Hélio Farias destaca ainda que a história do BNDES se confunde com a história da integração do território e da industrialização nacional, baseadas na política de superação do subdesenvolvimento. “Criado em 1952, o Banco tornou-se, desde então, imprescindível aos principais projetos ou planos nacionais das mais diversas orientações”, destaca.