Idéia vai, idéia vem, Paro, penso, reflito... Para
que tanto preconceito, tanta violência, Tanta ignorância? ...o
mundo é justo, injusto é quem vive nele, quem o destrói,
quem o estraga, mas um dia isso vai mudar Talita de Souza
Alves
Se
entre os objetivos principais do Projeto Memória, educação
não-formal: trabalho com adolescentes na Vila Costa e Silva estava
o de despertar e fortalecer o sentimento de cidadania, identidade e pertencimento
social, os organizadores do projeto podem ficar satisfeitos. Os trechos de letras
de música e poemas e os textos redigidos para a primeira edição
do Jornal da Costa e Silva, redigidos por adolescentes entre 12 e 17 anos que
participaram do projeto, demonstram que os alunos não só aprenderam
mas também deixaram aflorar a percepção que já tinham
da tão falada cidadania.
Como
avaliar um projeto capaz de reunir 72 meninos e meninas e transformá-los
em verdadeiros pensadores, escritores, líderes, compositores, pintores,
fotógrafos? Que conceito dar a uma iniciativa que transforma o tão
marginalizado e rejeitado hip hop em fonte de pensamento e, ao mesmo tempo, descobre
nele uma inesgotável fonte de conhecimento e consciência política?
O projeto Memória, educação não-formal,
iniciado em 2000 por uma equipe coordenada pela professora Olga Von Simon, diretora
associada do Centro de Memória da Unicamp, leva um grupo de adolescentes
da Vila Costa e Silva a descobrir a importância de absorver conhecimento
por meio das coisas disponíveis em seu próprio meio. Batizado informalmente
de Identidade na Quebrada, o projeto tem, entre muitos objetivos,
promover a integração social, proporcionar meios de aprendizado
profissional e de mobilização da comunidade. O
resultado da proposta se revela em fotos, jornais, apresentações,
letras de música, artigos produzidos pelos jovens durante as oficinas de
jornalismo, fotografia, informática, história oral, memória
histórica, criatividade e cidadania. Todo o material produzido pelo grupo,
segundo a professora Olga Von Simon, foi adquirido por meio de entrevistas realizadas
com moradores antigos do bairro, o que despertou nos aprendizes um interesse pelos
assuntos relativos a seu bairro. As
oficinas foram ministradas de março a junho de 2001, na Paróquia
São Benedito, por Amarildo Carnicel, Zula Giglio, José Roberto Gonçalves,
Paulo Lapa, Hélio Costa Júnior, Irene Barbosa, Alessandra Bagatim,
Maria Lucia Rangel Ricci, Ana Célia Garcia de Sales e Adriano Bueno da
Silva e Freddy. Nas palavras dos estudantes, as oficinas ajudaram-os a conhecer
melhor o bairro em que vivem e a melhorar o rendimento escolar. A
professora Olga Von Simon afirma que um dos principais objetivos era oferecer
aos adolescentes a chance de participar de atividades diferentes das desenvolvidas
na escola, num período contrário ao das aulas. O intuito de Olga
era atrair jovens estudantes negros em situação de risco, com a
possibilidade de ser expulso da escola ou atrasado em relação à
idade escolar. O interesse, porém, foi manifestado por mais de 120 adolescentes,
entre os quais 30% eram negros, a maioria era branca. Ao contrário dos
critérios normalmente adotados em outras seleções, entre
os entrevistados pela equipe, foram escolhidos os da raça negra, fora ou
em atraso na escola ou com problemas no aprendizado. Segundo Olga, a equipe privilegiou
a Vila Costa e Silva, depois, a Miguel Vicente Cury. As
oficinas privilegiaram temas associados à cultura popular, como a escola
de samba Estrela DAlva, a campeã do carnaval campineiro, espaços
de futebol, semana santa. Na opinião de Olga Von Simon, o projeto melhorou
a integração entre estudantes negros e brancos. O projeto iniciou
com 20 jovens negros que se dispuseram a percorrer todas as salas de aula convidando
os colegas a participar do projeto. Para despertar o interesse dos adolescentes,
a professora iniciou o projeto com a oficina de hip hop, por saber que é
um tema que atrai pessoas dessa faixa etária. Olga garante que uma pesquisa
sobre o hip hop revela que as raízes do hip hop vêm de jamaicanos
que vivem nos Estados Unidos. Na
opinião de Olga, a primeira etapa do projeto conseguiu valorizar a vertente
negra do bairro; desmistificar o hip hop e mostrar que o espaço da universidade
é um espaço aberto. Para a realização das oficinas,
a equipe contou com a doação de computadores da Unicamp e da Bosch
e móveis usados da Faculdade de Educação. A verba no valor
de R$ 4,5 mil concedida pelo Comitê da Cidadania dos Empregados da Caixa
Econômica Federal foi essencial para a realização do trabalho.
O sucesso da primeira etapa das oficinas estimulou o grupo a pensar em uma segunda
edição do projeto, mas a expectativa é de que outras entidades
se espelhem na iniciativa do Comitê da Cidadania, formado por funcionários
da Caixa, em apoiar o projeto.
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