ANTONIO
ROBERTO FAVA
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A
psicóloga Miriam Cruvinel: pesquisa com 169 crianças de ambos os sexos |
Sinais
de tristeza, sonolência, sentimento de culpa e de rejeição,
indisposição para atividades físicas, cansaço e irritabilidade
são alguns indicadores de que um indivíduo pode estar sofrendo de
uma doença que afeta 3,5% das crianças em idade escolar de Campinas:
a depressão infantil. E o que é ainda pior é constatar que
na maioria das vezes esses fatos passam despercebidos tanto pelos pais dessas
crianças quanto pelos professores, como conclui a psicóloga Miriam
Cruvinel, em sua dissertação de mestrado.
Ela
diz que um dos fatores mais críticos, indicando que a criança começa
a manifestar sinais de depressão, é quando seu rendimento escolar
cai e passa a não apresentar resultados satisfatórios dentro da
sala de aula. A avaliação de Miriam refere-se principalmente à
disciplina de matemática, matéria que, segundo ela, exige do aluno
mais atenção, concentração e memorização.
E são essas habilidades as mais prejudicadas na criança, quando
inicia um quadro crítico de depressão, diz.
Para
elaborar a sua pesquisa que teve apoio financeiro da Capes , a psicóloga
trabalhou com 169 crianças de ambos os sexos, de baixa renda, de uma escola
de Ensino Fundamental da região sul de Campinas, sendo 69 alunos da 3ª,
69, da 4ª e 31 da 5ª série. A pesquisa revelou que desse contingente
de alunos, 3,5% deles (seis estudantes) apresentavam a doença. Trata-se,
como ela explica, de um número baixo, mas significativo, por revelar
um mal em franca expansão, que precisa de atenção de órgãos
governamentais para impedir que o problema provoque estragos ainda maiores.
Trata-se de um índice com pequenas alterações que
pode representar o perfil da situação nacional.
O
que o estudo de Miriam tem mostrado é que tanto professores quanto os pais
de alunos revelam dificuldades (ou desconhecem a questão por completo)
para identificar, de maneira precoce, quando uma criança apresenta problemas
que possam se caracterizar um processo de depressão infantil em
casa ou na escola onde estuda.
Quase
sempre, pais e professores, confundem com outros tipos de anomalias, como a hiperatividade,
um problema mais ligado ao comportamento agitado, de impulsividade ou de agressividade
de uma criança. Muitas vezes isso é confundido com dificuldades
normais para estudar, para aprender determinada matéria, com a depressão
no seu mais verdadeiro sentido, explica Miriam.
Quando
os pais se separam Segundo a pesquisadora, autora da dissertação
de mestrado Depressão infantil, rendimento escolar e estratégias
de aprendizagem em alunos do Ensino Fundamental, apresentada semana passada na
Faculdade de Educação (FE), sob a orientação da professora
Evely Boruchovith, a depressão infantil pode provocar na criança,
ou no adolescente, pensamentos ou tentativas de suicídio, quando o seu
quadro clínico não for detectado com precisão por um especialista
da área. O pessimismo, caracterizado por pensamentos negativos e pela desesperança,
é uma outra característica na depressão.
Inúmeros
são os fatores que contribuem para que a depressão se instale na
criança. Um deles é de causa biológica, quando a criança
tem maiores possibilidades de vir a desenvolver um quadro depressivo, cujos pais
têm ou tiveram períodos de depressão. Entre os agentes
externos, como denomina a pesquisadora, o mais importante deles todos talvez
seja a separação dos pais. É quando a criança
passa a ter a sensação de abandono, de estar só e de traição,
conta Miriam.
Mas também os atritos
familiares, entre irmãos, o isolamento social, criança solitária,
rejeitada pelos amigos, além de questões escolares, associados aos
problemas econômicos dos pais, cobrança exagerada em relação
ao desenvolvimento escolar, são os fatores que mais contribuem para que
a criança venha a desenvolver um quadro de depressão aguda. No entanto,
Miriam explica que o suicídio em crianças é raro. Estreitar
os laços afetivos, estimulando-os em seu desenvolvimento psicossocial e
criar o hábito do diálogo com os filhos, podem ser boas alternativas
para evitar o problema dentro e fora de casa.
A
pesquisadora explica ainda que a depressão infantil, embora passe por um
processo de expansão, já dispõe de tratamentos eficazes.
Esse tratamento, com psicoterapia, é feito por um profissional da
área, no caso um psicólogo. A uma criança, dificilmente lhe
é indicada uma medicação, a não ser que seja uma depressão
muito severa, que chega a atrapalhar todo o andamento da vida dela. Geralmente
é uma psicoterapia, por meio da qual o foco de tratamento não seria
apenas a criança, mas também a família toda. Mesmo
porque acreditamos que parte dessa depressão ocorre em função
de fatores ambientais, onde a família está inserida, diz Miriam.
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