Mapeamento, a salvação da lavoura
MANUEL ALVES FILHO
Um trabalho desenvolvido pelo Centro de Pesquisas Meteorológicas e Climáticas Aplicadas à Agricultura (Cepagri) da Unicamp, em parceria com a Embrapa/CNPTIA e outros centros de pesquisas do Brasil, poderá dar significativa contribuição ao esforço para a erradicação da fome no país, meta prioritária do governo de Luiz Inácio Lula da Silva. Trata-se do Zoneamento de Riscos Climáticos para a Agricultura Nacional, programa que indica, a partir de um recorte regional, os locais onde culturas como arroz, feijão, milho, trigo, soja, café, maçã e algodão podem ser cultivadas com risco mínimo de eventuais prejuízos causados por chuva, seca ou geada. Também recomenda aos agricultores o momento exato do plantio e as variedades dos produtos que devem ser utilizadas. Graças ao planejamento proporcionado por essa ferramenta, somado a outros fatores, a produção agrícola brasileira experimentou recentemente um expressivo salto de produtividade: passou de 70 milhões de toneladas para 97 milhões de toneladas de grãos ao ano, sem a ampliação da área cultivada.
De acordo com o diretor-associado do Cepagri, professor Hilton Silveira Pinto, o Zoneamento de Riscos Climáticos, cuja coordenação nacional está sob a responsabilidade técnica da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e do próprio Cepagri, faz parte de um amplo projeto voltado ao desenvolvimento da agricultura brasileira, que conta ainda com uma outra iniciativa: o Monitoramento Agrometeorológico do Brasil. Como o nome sugere, o programa acompanha o comportamento do clima e alerta os produtores de forma antecipada sobre a ocorrência de geadas ou chuva de granizo, para ficar em apenas dois exemplos. Somadas, as duas ferramentas provêm o Ministério da Agricultura de dados fundamentais para fazer a previsão da safra nacional.
O diretor do Cepagri explica que o Zoneamento Agrícola, que começou a ser implantado em 1996, conta com o suporte de 20 centros de pesquisa espalhados pelo Brasil. São pelo menos 60 Ph.Ds trabalhando diretamente no programa, além de inúmeros técnicos e pós-graduandos. Para estabelecer as áreas de riscos, os especialistas lançam mão do geoprocessamento. Eles levam em consideração variáveis como o histórico climático, os tipos de solo e as variedades das culturas. "Nós cobrimos praticamente todo o Brasil. Estão de fora somente a Amazônia e parte do Nordeste, regiões que têm pequena participação na produção agrícola brasileira", esclarece Silveira Pinto.
Desde que o programa foi criado, afirma o professor da Unicamp, a agricultura nacional obteve uma série de avanços. Ele calcula que a eliminação das áreas menos produtivas e o uso de variedades mais adequadas foram responsáveis por um aumento de produtividade da ordem de 20%. Além disso, o país passou a economizar um montante significativo de recursos, sobretudo os destinados ao seguro rural. Até 1995, portanto antes do advento do Zoneamento e do Monitoramento Agrícola, o governo, por meio do Proagro, desembolsava uma média de R$ 150 milhões ao ano e tinha uma dívida acumulada de R$ 8 bilhões nesse segmento. Hoje, o dispêndio com a perda de safra em razão da chuva, do vento ou da seca está em torno de R$ 500 mil anualmente.
Os ganhos não param por aí. A partir dos dados acumulados nos últios seis anos, o programa foi responsável pela abertura de novas frentes agrícolas. Atualmente, ruralistas estão obtendo bons resultados com a plantação de café em Rondônia, experiência jamais tentada anteriormente. O projeto é tão eficiente, que uma das condições para obter empréstimo agrícola junto ao Banco do Brasil é estar incluído e seguir as recomendações do Zoneamento de Riscos Climáticos. "Não existe experiência semelhante no mundo. Toda vez que apresentamos o programa em congressos internacionais, nossos colegas estrangeiros ficam surpresos", comemora o diretor do Cepagri.
Apesar do sucesso obtido até aqui, Silveira Pinto afirma que o programa ainda pode ser aperfeiçoado. Segundo ele, é preciso incluir novas culturas. O sorgo, por exemplo, deve ser a próxima, em razão da sua importância econômica. Outra variável a ser considerada, diz, são as doenças e pragas. "Santa Catarina já faz isso em relação à maçã e tem obtido excelentes resultados", revela. Por fim, o professor da Unicamp acha que é indispensável o conhecimento mais detalhado sobre os vários tipos de solo existentes no Brasil. Atualmente, são analisados apenas três deles. Informações sobre o Zoneamento Agrícola e o Monitoramento Agrometeorológico podem ser obtidas na home page do Cepagri ou na da Rede Nacional de Agrometeorologia