"Meta é ambiciosa", diz pesquisadora
A pesquisadora Sandra Brisolla, professora associada do Departamento de Política Científica e Tecnológica do Instituto de Geociências da Unicamp, classifica como "ambiciosa" a meta do ministro de Ciência e Tecnologia, Roberto Amaral, de elevar para 50% a participação da iniciativa privada nos investimentos nacionais em pesquisa e desenvolvimento. Ela observa que não há na América Latina histórico de que as empresas contribuíram com metade dos recursos destinados a P&D. "Se o Brasil conseguir, seria um marco invejável". Segundo ela, porém, isso só seria possível se houvesse uma significativa recuperação econômica.
"O problema dos juros altos e da instabilidade econômica afeta diretamente as decisões de inovação tecnológica", afirma a pesquisadora. A recuperação da economia, segundo Sandra, depende basicamente de duas coisas: política econômica interna e situação internacional."Os passos que o governo Lula está dando estão sendo muito ditados pela situação financeira internacional", diz. "E se houver uma guerra, a situação piora", completa.
A pesquisadora considera importante o governo ter como meta o envolvimento maior da iniciativa privada nos investimentos em P&D, mas ressalta a necessidade de se criar condições concretas para que isso ocorra. "A Coréia fez isso em curto espaço de tempo, mas com uma situação econômica muito mais favorável", observa. Para ela, uma saída seria criar mais incentivos para que o empresário resolva arriscar mais nas tecnologias nacionais.
Entre as alternativas, ela diz que o governo poderia promover acordos com as empresas transnacionais instaladas no país, criando incentivos para que elas destinem ao Brasil parte de seus investimentos em P&D. "Isso poderia ser feito amarrando um pouco as condições de privilégio que elas desfrutam ao se instalar por aqui", explica. Outra medida, segundo Sandra, seria exigir que as empresas privatizadas concentrassem localmente uma parcela de seus investimentos em tecnologia, inclusive na absorção de mão de obra nacional. "A Telefônica, por exemplo, trouxe muita gente de fora".
A pesquisadora também aponta como saída a promoção de um vínculo maior entre institutos de pesquisa, universidades e empresas privadas, através de incentivos que favoreçam todos os lados. Ela destaca, porém, que esse conjunto de medidas tem de ser adotado sem sacrificar o investimento em pesquisa básica. "Foi isso que criou a possibilidade de termos pessoal especializado nas várias áreas do conhecimento".(C.L.)