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Jogo milenar africano auxilia
no aprendizado de matemática
RAQUEL
DO CARMO SANTOS
O
mancala, jogo milenar africano, foi empregado junto a crianças
com dificuldades no aprendizado da matemática com bons resultados.
Em sua dissertação de mestrado apresentada na Faculdade de
Educação (FE), a psicóloga Letícia Pires Dias comparou dois
grupos de crianças com e sem dificuldades na disciplina e
constatou, por meio de estatísticas, uma evolução no cumprimento
das etapas pelos participantes. “Cada vez mais o jogo é introduzido
nos contextos escolares por despertar o interesse pelo conhecimento
de forma lúdica”, explica a psicóloga.
O mancala basicamente requer
capacidades da matemática e promove, nos jogadores, o desenvolvimento
de proporção, estratégia, visão espacial e criatividade. À
semelhança do xadrez, ele tem embutido em sua dinâmica raízes
filosóficas e serve, ainda, para entender a cultura de outros
povos, neste caso, de nações africanas. Por isso, a escolha
da modalidade Kalah para analisar o desempenho das crianças
diante das regras e estratégias apresentadas pelo brinquedo.
No Brasil, ele é pouco conhecido, mas na África é largamente
utilizado por crianças e adultos, inclusive desenhando o tabuleiro
na areia ou na terra.
O estudo, orientado pela professora
Rosely Palermo Brenelli, envolveu 24 crianças – 12 em cada
grupo – pertencentes a uma escola pública do interior paulista.
Os voluntários, de 9 a 10 anos de idade, foram indicados pela
professora de matemática e desafiados a jogar as partidas
com a própria psicóloga. As primeiras sessões foram destinadas
à explicação de todas as regras do jogo e ensaios para o aprendizado
da dinâmica que envolvia as partidas. “Elaboramos dois roteiros
de questões que apliquei antes e durante as partidas e analisamos,
justamente, os conhecimentos prévios aritméticos, a exploração
das regras, antecipação das jogadas e justificação das estratégias
por parte de cada aluno. Todas as sessões foram gravadas e
analisadas posteriormente”, explica.
Ao comparar os dados estatísticos,
a psicóloga constatou que o grupo de crianças sem dificuldades
na matemática tomavam consciência mais rápido dos erros e
o nível de complexidade das decisões foi melhor. Pelas estatísticas,
o desempenho deste grupo no que diz respeito às regras foi
superior. “O grupo B, constituído por crianças sem problemas
com a matemática, como era de se esperar, apresentou respostas
mais bem elaboradas em relação às regras, às estratégias e
à antecipação”, explica.
Por outro lado, na comparação
da primeira partida com a oitava, verificou-se uma melhoria
significativa das crianças com dificuldades em matemática
em relação às estratégias. Com estes resultados, Letícia acredita
que o Mancala constitui uma nova forma de avaliação e de intervenção.
Trata-se, segundo ela, de um instrumento de apoio eficaz que
desperta o interesse pelo conteúdo aritmético implícito no
jogo. Em depoimentos informais, a psicóloga pode perceber
que as crianças com dificuldade em fazer perguntas em sala
de aula conquistaram uma maior espontaneidade para manifestar
e explicitar suas dúvidas, assim como melhoraram na organização
do material didático.
“A intervenção com o jogo
pode favorecer a tomada de consciência e tornar os erros observáveis.
Não se trata de oferecer a resposta pronta, mas sim levar
a criança a questionar e justificar as suas respostas”, explica
a psicóloga que acredita ser uma aprendizagem para a vida
e não só de conteúdo escolar. Pode-se transmitir, por exemplo,
conceitos éticos como jogar limpo, ordenar os pontos de vista
com o colega e outros aspectos que ultrapassam o limite curricular.
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