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Ingestão de cervejas pode suprir
carência de folatos, aponta estudo
Pesquisa da FEA revela que 3 tipos
da bebida são fontes de vitamina B9
ISABEL
GARDENAL
Pesquisa
desenvolvida na Faculdade de Engenharia de Alimentos (FEA)
revela que três tipos de cerveja produzidos no país são
uma fonte de vitamina B9, graças à presença dos folatos,
compostos equivalentes ao ácido fólico. O estudo aponta
que o consumo de 350 ml da bebida por dia poderia trazer benefícios
à saúde humana, no combate às anemias, doenças cardiovasculares
e malformações fetais, com aporte de cerca de 20% de folatos
para o organismo. Uma latinha, portanto, seria um bom parâmetro
para ingestão, conclui a engenheira de alimentos Ana Cecília
Poloni Rybka, que defendeu recentemente sua tese de doutorado
sobre o assunto na FEA. A pesquisadora, porém, faz algumas
ressalvas: grávidas não devem beber cerveja com álcool
e pessoas adultas devem fazer uso moderado da bebida, caso
não haja restrição médica. A Agência Nacional de Vigilância
Sanitária (Anvisa) recomenda o consumo de 400 microgramas
de folatos por dia, também presente em outros alimentos.
Orientada pela professora
Helena Teixeira Godoy, a tese de Rybka avaliou, entre outros
pontos, os folatos em três tipos de cerveja conhecidas no
mercado: a pilsen normal e a não-alcoólica, e a malzbier.
Foi ainda foco de sua atenção a capacidade antioxidante e
de fenólicos totais, um dos responsáveis pela qualidade dos
alimentos. Mas, além de comparar as cervejas, ela também investigou
as latas e garrafas para decifrar se haveria diferença entre
os teores desses compostos nos diferentes tipos de embalagem.
No estudo, foram analisadas
cinco marcas da cerveja pilsen, cinco de cerveja sem álcool
e outras cinco de cerveja malzbier. Entre uma marca e outra,
a engenheira de alimentos, graduada pela FEA da Unicamp, chegou
a algumas diferenças de teor, inclusive no caso das cervejas
com a mesma marca, e isso em diferentes lotes. “É que estes
compostos vêm de um processo de fabricação particular,
tanto em termos de fermentação como de escolha dos próprios
ingredientes. E isso com certeza possui grande variação.”
Um dos resultados mais marcantes
para Rybka ficou por conta da notável diferença na capacidade
antioxidante e dos compostos fenólicos. Na malzbier, relata,
esta capacidade foi bem mais pronunciada do que na cerveja
pilsen, principalmente na sem álcool. De acordo com ela, o
resultado mostra que a princípio, comparativamente, ela seria
melhor para a saúde, mas acredita que outras avaliações devam
acontecer para investigar mais detalhadamente cada achado.
Teor alcoólico
Com relação ao teor alcoólico, a pesquisadora afirma que existem
diferenças entre os três tipos de cerveja, no entanto são
suaves, não obstante notarem-se algumas especificidades na
composição de álcool em todas as marcas. De maneira geral,
a pilsen tem 4,5% de teor alcoólico e a malzbier um pouco
mais, por volta de 5%. “O teor alcoólico entre a pilsen e
a malzbier é praticamente o mesmo, apesar de eu não ter feito
uma avaliação do efeito do álcool no organismo. Fato é que
álcool é álcool e que a sua ingestão em maiores quantidades
muito dependerá da resposta de cada um, diante de fatores
como sensibilidade, absorção, se comeu antes de beber, além
de parâmetros biométricos como peso, idade e sexo, para metabolizar
o álcool mais rapidamente.”
O objetivo da engenheira de
alimentos foi verificar primeiramente os benefícios que a
cerveja poderia trazer. Isso porque muitas pesquisas atualmente
comprovam o valor dos compostos fenólicos do vinho e a importância
do consumo de uma a duas taças médias por dia. Segundo ela,
ter ido nessa direção colaborou para estimular, mediante diversos
trabalhos publicados sobre cerveja na literatura internacional,
novos trabalhos acerca da cerveja brasileira, já que são poucos
os estudos comparativos até hoje. “Somado ao fato da cerveja
ser a bebida alcoólica mais consumida no país (o Brasil é
o quinto maior mercado de cerveja do mundo), é interessante
saber o que as pessoas estão consumindo.”
O
consumo per capita da cerveja no Brasil não é muito alto –
57,4 litros por habitante em 2008, se comparado a países como
a República Tcheca, com 158, e a Alemanha, com 117,7, ambos
os dados obtidos em 2003 da Brewers of Europe, Alaface e Sindicery.
O Brasil consome sim e demonstra um potencial de crescimento
de venda, ainda por ser melhor explorado. Mesmo assim, na
opinião da pesquisadora, o que acontece é que algumas pessoas
consomem muita cerveja, outras bebem pouco e outras ainda
não bebem. Conforme ela, não adianta num final de semana a
pessoa beber de quatro a cinco garrafas de cerveja e achar
que está suprida com folato. “Não é assim que funciona. A
pessoa teria que beber um pouquinho periodicamente para conseguir
esta manutenção e gozar seus efeitos benéficos. A intenção
da minha pesquisa, contudo, não foi incentivar a bebida e
sim avaliar o quanto de vitamina está presente nela.”
O folato da cerveja, sugere
a pesquisadora, deveria ser visto como uma fonte auxiliar
à obtenção de vitamina B no organismo. Tanto que, ao avaliar
também a cerveja pilsen sem álcool, a autora da tese comentou
que ela poderia trazer esses benefícios. “A curva de álcool
presente em estudos de outros autores aponta que, ao ingerir
um pouco da bebida, ela pode até fazer bem. Agora, ultrapassando
o limite, já começa a causar mal à saúde, trazendo complicações
na absorção das vitaminas, no funcionamento do metabolismo
e podendo causar doenças do fígado, perda do equilíbrio, falta
de memória e outras implicações psicológicas importantes”,
enumera.
Algumas cervejas “sem álcool”
não deixam de ter álcool em sua composição – até 0,37% a cada
100 gramas. “Mais interessante é ingerir a cerveja 0% de álcool,
que também é encontrada no mercado”, diz Rybka. Ela imagina
que esta tendência decorre das campanhas brasileiras sobre
os malefícios do álcool para o cidadão comum, para as gestantes
e para os motoristas, que acabaram contribuindo para a qualidade
da cerveja. A pesquisadora também realça que a malzbier apresentou
uma capacidade antioxidante maior que a pilsen e a sem álcool.
“Esta cerveja tem semelhanças com o vinho rosé. Já a cerveja
pilsen é mais ou menos equivalente ao vinho branco”, compara.
Rybka constata na tese que
a cerveja pode fazer parte do consumo diário de folatos e
que é útil também para a capacidade antioxidante. Não encontrou,
na maioria das avaliações, diferenças de armazenamento da
cerveja em latas ou em garrafas. Ao acompanhar a vida de prateleira,
quanto aos folatos, analisou a cerveja assim que ela foi fabricada
e durante os seis meses posteriores à fabricação, que é o
tempo máximo de prateleira da maioria das cervejas brasileiras.
“Avaliei-as de dois em dois meses e percebi que, quando recém-fabricada,
ela teve maior quantidade de vitamina. Esta queda, todavia,
não foi intensa”, conta. Em países europeus, onde a tradição
da cerveja é maior, a vida de prateleira pode chegar a um
ano.
Composição
A cerveja pilsen, a mais vendida no Brasil, leva em sua receita
cevada malteada, água de boa qualidade, lúpulo (que dá à cerveja
sabor e aroma, atuando como um conservante natural e auxiliando
na formação da espuma) e fermento (para promover a fermentação).
A partir daí podem ser colocados adjuntos, que são outras
fontes de carboidratos como o milho, os cereais e o trigo.
Também podem ser agregados os conservantes e os antioxidantes.
No caso da malzbier,
adiciona-se caramelo aos compostos básicos. Além dele, o malte
em geral é um pouco mais tostado. Atualmente existem diversos
tipos de cerveja e são 180 estilos reconhecidos. Pilsen e
malzbier são apenas dois tipos analisados, além da pilsen
sem álcool. Na Bélgica e na Alemanha, a maioria das cervejas
tem cor escura, passa por alta fermentação e é mais encorpada.
Vários estudos no exterior,
acentua Rybka, já relatavam a presença de folatos na cerveja
e a sua capacidade antioxidante. O que foi novo no seu estudo
foi o comparativo entre os três tipos de cerveja brasileira,
posto que a formulação nacional é um pouco diferente: aqui
se utilizam muitos adjuntos, porque deixam a cerveja mais
leve e mais barata. “Fabricar cervejas fortes e com alto teor
alcoólico são mais apropriadas para o clima frio. Mas é claro
que existem pessoas que gostam, pois as intenções de consumo
são muito amplas.”
A pesquisadora informa
que no Laboratório de Análises de Alimentos da FEA, ligado
ao Departamento de Ciência de Alimentos, são utilizados equipamentos
que avaliam amostras para saber o quanto do composto de interesse
está presente ali, como a cromatografia líquida de alta eficiência,
por exemplo. “Como disse, não fiz aqui nenhuma avaliação in
vivo para ver se as pessoas absorvem esta vitamina ou estudar
o efeito do álcool. Também não foi minha proposta fazer crítica
ou apologia ao uso da cerveja. Foi, antes, ver o quanto a
cerveja tem de vitamina e compostos fenólicos.”
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