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Escola pública recebe 520 computadores
4/3/2010
– O movimento One Laptop per Child (OLPC – Um Computador
por Criança, em português) está chegando a Campinas, por meio
de uma parceria com o Núcleo de Informática Aplicada à Educação
(Nied) da Unicamp. Um lote de 520 computadores portáteis (à
direita)doados pelo OLPC acaba de desembarcar na Universidade,
para posterior entrega aos alunos da Escola Municipal Padre
Emílio Miotti, localizada na Vila União, periferia de Campinas.
De acordo com o professor José Armando Valente, pesquisador
do Nied e professor do Instituto de Artes, os estudantes deverão
utilizar as máquinas em sala de aula no segundo semestre deste
ano. “No primeiro semestre, vamos acompanhar a instalação
da estrutura necessária à operação dos laptops e formar professores
e alunos para trabalhar com os equipamentos. Posteriormente,
vamos verificar quais os impactos dessa tecnologia do ponto
de vista pedagógico”, informa.
Valente explica que, neste
momento, os laptops estão sendo patrimoniados e em seguida
serão cedidos em comodato à Padre Emílio Miotti. Simultaneamente,
a escola está promovendo uma reforma física e providenciando
a instalação da estrutura necessária (rede elétrica e wireless)
para a operação dos computadores. “O passo seguinte será preparar
professores e estudantes para trabalhar com os equipamentos.
Vamos treiná-los em conjunto, pois entendemos que uns têm
muito a aprender com os outros. Assim que as máquinas estiverem
sendo utilizadas em sala de aula, vamos acompanhar as mudanças
que essa tecnologia trará para as atividades pedagógicas,
por meio de um projeto financiado pelo CNPq [Conselho Nacional
de Desenvolvimento Científico e Tecnológico]”, detalha o pesquisador
do Nied.
Na visão de Valente, a chegada
da informática ao ambiente da sala de aula deverá provocar
mudanças no currículo escolar, historicamente baseado em recursos
como lápis e papel. “Penso que ocorrerá uma passagem de uma
realidade para outra. De posse do computador, a criança poderá
acessar, via internet, dados estatísticos atualizados, mapas
geográficos animados e uma série de outras informações sobre
variados assuntos. Isso deve causar uma transformação na dinâmica
do ensino. O professor terá necessariamente que estar preparado
para isso. Imagine a seguinte situação: o professor passa
uma informação que pode, eventualmente, ser contestada pelo
aluno com base no que ele está acessando naquele momento em
um dado site. O educador terá que saber lidar com isso”, exemplifica.
Ainda segundo Valente, ainda
não está definido se os alunos da Padre Emílio Miotti poderão
levar os laptops para casa. A decisão caberá à direção do
estabelecimento de ensino. “É o tipo de resolução que dependerá
do envolvimento da comunidade local. Embora não seja comercial,
o computador pode ser alvo de cobiça de terceiros, o que pode
comprometer a segurança das crianças. A princípio, a autorização
para que as máquinas sejam levadas para as residências dos
estudantes pode contribuir para o processo de inclusão digital
de seus familiares, visto que eles também passarão a ter contato
com esse tipo de tecnologia”, pondera.
O pesquisador do Nied acrescenta
que o processo de acompanhamento dos impactos do uso do computador
em sala de aula exigirá um grande esforço por parte do Núcleo.
“Vamos precisar de um número elevado de pessoas para desenvolver
diversas atividades. Nesse aspecto, gostaríamos de convidar
professores e alunos de diferentes áreas da Unicamp para se
juntarem ao projeto. Graças ao financiamento do CNPq, temos
como fornecer bolsas a parte dos interessados”, avisa. O contato
pode ser feito pelo telefone 19-3521-7350. Valente destaca,
ainda, a importância do apoio fornecido pela Prefeitura de
Campinas para o desenvolvimento das ações. “A Secretaria Municipal
de Educação está empenhada em nos oferecer as melhores condições
possíveis para a realização do nosso trabalho”, completa.
Fundado pelo cientista norte-americano
Nicholas Negroponte, o movimento OLPC tem por objetivo assegurar
que todas as crianças em idade escolar do mundo em desenvolvimento
sejam capazes de interagir efetivamente com seu próprio laptop,
de tal forma que elas, suas famílias e suas comunidades possam
aprender livremente e aprender como aprender. A OLPC foca
o desenho, a produção e a distribuição dos laptops do
tipo XO.
Valente conta que o Nied está
envolvido em outro projeto voltado ao uso de laptops em sala
de aula, batizado de Um Computador por Aluno (UCA), este coordenado
pelo Ministério da Educação (MEC). Por meio do Uca, outra
escola municipal de Campinas, cujo nome ainda não foi definido,
também receberá cerca de 500 máquinas. Ao todo, 350 estabelecimentos
de ensino do país participarão da experiência. “Com os
dados que obteremos desse outro projeto, teremos como estabelecer
comparações sobre os resultados alcançados nas duas iniciativas”,
diz. (Manuel
Alves Filho)
Geromel recebe Honoris Causa
da Universidade Paul Sabatier
8/3/2010
– Em dezembro de 1976, o jovem estudante José Cláudio Geromel,
(à direita) então com 24 anos, deixou o Brasil em direção
à França, mais especificamente à cidade de Toulouse. Depois
de ter concluído a graduação e o mestrado na Unicamp, sua
meta era realizar o doutorado de estado no Laboratório de
Automação e Análise de Sistemas (LAAS), unidade ligada ao
Conselho Nacional de Pesquisa Científica daquele país. Na
última semana, 34 anos depois da viagem às plagas francesas,
Geromel, docente da Faculdade de Engenharia Elétrica e de
Computação (FEEC), recebeu uma correspondência do presidente
(reitor) da Universidade Paul Sabatier. A missiva informava
ao cientista brasileiro, um dos mais renomados em sua área
de atuação, que a instituição acabara de lhe conferir o título
de Doutor Honoris Causa, atendendo a uma proposta do LAAS.
A entrega da honraria a Geromel
ocorrerá no próximo dia 23 de junho, em Toulouse. Antes, no
dia 2 do mesmo mês, o professor da Unicamp ministrará uma
das conferências plenárias na Conferência Internacional Francofônica
de Automática. “Imagine, um brasileiro abrindo um evento científico
com este título”, diverte-se o cientista, demonstrando um
desapego que lhe cai muito bem, mas que destoa das contribuições
que tem feito ao longo das últimas três décadas ao desenvolvimento
da ciência em sua área de atuação. Sobre a concessão do título
Honoris Causa por parte da Universidade Paul Sabatier, Geromel
também evita manifestações de arroubos, embora abra o sorriso
para falar sobre o assunto. “Evidentemente, recebi a notícia
dessa honraria com muita alegria. Penso que é um grande reconhecimento
ao trabalho que venho realizando ao longo da minha carreira”.
Mais do que uma satisfação
pessoal, Geromel considera que o título também confere visibilidade
à Unicamp e, mais especificamente, ao grupo de pesquisa que
ele coordena na FEEC. “Aliás, esse trabalho que realizo com
os estudantes me traz grande satisfação. Gosto de trabalhar
com os jovens porque eles demonstram grande entusiasmo com
os desafios propostos. Aliás, tenho tido muita sorte. Meus
alunos são excelentes. Além disso, a cada ano que passa percebo
que os que chegam estão cada vez mais bem preparados”, avalia.
Atualmente, o cientista tem desenvolvido estudos com a colaboração
de uma estudante de doutorado (Grace Deaecto) e dois alunos
de pós-doutorado (Rubens Korogui e Alim Gonçalves). “Minhas
pesquisas se concentram mais no campo teórico. Embora reconheça
que a ciência aplicada tem grande relevância, este não é exatamente
o foco do meu trabalho”, explica.
Retornando ao assunto da concessão
do título de Doutor Honoris Causa por parte da Universidade
Paul Sabatier, Geromel, que já cumpriu a função de pró-reitor
de Pós-Graduação da Unicamp, revela a expectativa de reencontrar
alguns de seus contemporâneos nessa sua volta a Toulouse.
“Eu mantenho relações com alguns colegas de lá, mas perdi
o contato com outros. Na França, vivi um período importante
da minha vida, graças ao incentivo do professor Yaro Burian
Júnior, que me orientou no mestrado aqui na Unicamp e achou
por bem me mandar para continuar meus estudos no LAAS”. Mas
o que um cientista que alcançou reconhecimento internacional,
produziu inúmeros artigos científicos [alguns dos quais frequentemente
citados em outras obras] e que mereceu a honraria máxima de
uma importante instituição de ensino e pesquisa da França
ainda pode aspirar? Com a palavra, o próprio Geromel, filho
de uma modesta família de Itatiba, cidade vizinha a Campinas:
“Espero continuar trabalhando mais uns tempos da mesma forma”.
Votos sejam feitos.
(Manuel Alves
Filho)
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