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Ultrassom avalia resistência de materiais
Inovador, equipamento portátil
foi desenvolvido
por empresa filha da Unicamp
ALESSANDRA DE FALCO
Especial para o JU
O
aparelho nacional de ultrassom US-Lab, por meio da análise
da velocidade de propagação de ondas, consegue classifi car
e inspecionar a estrutura de materiais, entre os quais madeiras,
concreto e compósitos. O equipamento, desenvolvido por uma
empresa filha da Unicamp, a Agricef (Soluções Tecnológicas
para Agricultura), em parceria com a Universidade, tem ainda
a vantagem de ser portátil, facilitando o levantamento em
campo. Na análise de uma viga de madeira, por exemplo, são
posicionados dois transmissores – o emissor do ultrassom
em um ponto e o receptor em outro. O transmissor emite um
sinal e o som é propagado de uma ponta a outra, gerando
como dado um tempo que permite determinar uma velocidade
que pode ser associada à resistência da estrutura ou do
material. O equipamento permite associar, assim, uma velocidade
que, para cada tipo de material, é a ideal para determinados
usos. Para chegar até a curva de calibração do equipamento
de ultrassom, são realizados ensaios destrutivos com vários
corpos de prova ou peças estruturais e, adicionalmente,
estudos de correlação, partindo de normas brasileiras e
de teorias estatísticas.
“Na avaliação de árvores localizadas em
áreas urbanas, por exemplo, com o USLab é possível identificar
se alguma está oca, se há um buraco interno, muitas vezes
provocado por ações de cupins, o que é um indício de que
aquela árvore, se não retirada do local, poderá cair com
a ação de ventos fortes”, afirma Efraim Albrecht Neto, sócio-diretor
da Agricef. A análise do ultrassom pode justificar a derrubada
da árvore. A ferramenta está sendo utilizada com êxito em
pesquisas em universidades e por empresas do ramo de construção,
mas também pode ser usada por companhias do ramo florestal,
para avaliações de árvores nativas ou por prefeituras para
análise de árvores urbanas. No Laboratório de Ensaios Não
Destrutivos (LabEnd) da Feagri (Faculdade de Engenharia
Agrícola) da Unicamp estão sendo realizadas pesquisas com
o uso do ultrassom, sob orientação da professora Raquel
Gonçalves, desde a iniciação científica até o doutorado.
“Foi ela quem incentivou a criação da ferramenta pela Agricef,
já que no passado utilizava equipamentos importados dos
Estados Unidos e da Alemanha, que não atendiam as necessidades
de forma satisfatória. Eles não eram dedicados para a análise
de materiais não homogêneos, como madeira, concreto e compósitos,
que têm, em sua composição, poros e espaços. Estas características
dificultam a propagação do som e a consequente medição da
velocidade”, revela Domingos Guilherme Cerri, pesquisador
colaborador na Feagri.
“O
setor florestal brasileiro é carente de tecnologia e, em
grande parte, isso ocorre porque as tecnologias importadas,
além de serem inacessíveis do ponto de vista financeiro,
muitas vezes apresentam grandes problemas para serem aplicadas
às nossas espécies. Isso faz com que o apoio a empresas
nacionais seja de fundamental importância para a transferência
de tecnologia ao setor”, destaca Raquel. Com as inovações
realizadas pela Agricef, as barreiras foram vencidas.
Durante anos, um protótipo foi testado e
melhorado a partir do seu uso no LabEnd e o produto final
já está sendo comercializado. Ainda segundo a professora
da Feagri, o US-Lab apresenta ótimo desempenho em aplicações
na madeira e no concreto, que são materiais muito atenuantes
e que exigem, para obtenção de bons resultados, equipamentos
de grande potência. “Temos utilizado o equipamento em aplicações
florestais (árvores vivas), em peças estruturais de madeira
(grandes seções transversais e grandes comprimentos) ou
de concreto e, também, em peças menores, usuais em laboratórios,
denominadas de corpos de prova. Isso é possível porque o
aparelho permite a utilização de transdutores de diferentes
frequências. O equipamento também já foi testado no laboratório,
em pesquisas com outros materiais como borracha, PVC e compósitos,
com resultados muito adequados e promissores”, completa
Raquel.
Cincos aparelhos foram vendidos recentemente,
inclusive para a Universidade Estadual Paulista (Unesp),
Universidade de Brasília (UnB) e Universidade Estadual de
Londrina (UEL). A Construtora Carvalho, de Aracaju-SE, utiliza
o USLab para oferecer aos seus clientes laudos das estruturas
de seus edifícios. Com a ferramenta, a empresa tem mais
subsídio para provar com dados a qualidade de uma viga de
concreto, por exemplo, que antes era analisada de forma
apenas visual. A Fibria, empresa que desenvolve produtos
fl orestais, também comprou a ferramenta para ser utilizada
numa parceria com a Universidade de São Paulo (USP) que
usa o equipamento em pesquisas realizadas com a orientação
do professor Juliano Fiorelli, da Faculdade de Zootecnia
e Engenharia de Alimentos (FZEA) da USP de Pirassununga.
O objetivo neste caso é avaliar o módulo elástico dinâmico
de compósitos de cimento, reforçados com fibras vegetais
e poliméricas, e também de compósitos à base de resíduos
agro-industriais. “A principal vantagem do USLab é a possibilidade
da avaliação não-destrutiva dos materiais. Nós trabalhamos
com compósitos de cimento desenvolvidos pelo Laboratório
de Construções e Ambiência da FZEA/USP, que são produzidos
com polpa de eucalipto branqueada e não branqueada, fornecidas
pela Fibria, parceira nos projetos de pesquisas”, destaca
Fiorelli.
Convênio com Unicamp
gera
oportunidades para graduadas
Após o período de incubação, empresas como a Agricef,
que não ocupam mais um espaço físico na Unicamp, têm a
possibilidade de manter o vínculo com a Universidade,
a partir de convênio estabelecido com a Incubadora de
Empresas de Base Tecnológica da Unicamp (Incamp). O objetivo
é impulsionar ainda mais o desenvolvimento tecnológico
dessas empresas, que passam a ser associadas da incubadora.
Este convênio possibilita o acesso a editais, pesquisas,
eventos, linhas de fi nanciamento e aos laboratórios da
Universidade. A relação entre os profi ssionais da Agricef
e professores e laboratórios da Faculdade de Engenharia
Agrícola é um exemplo. “Ao longo dos anos, a Agricef vem
contratando engenheiros formados pela Feagri que desenvolvem
projetos em parceria com vários docentes”, lembra Raquel
Gonçalves, responsável pelo Laboratório de Ensaios Não
Destrutivos da Feagri.
As empresas associadas também podem utilizar a sala
de reunião na incubadora para conversar com prospects.
Elas também recebem um selo que pode ser utilizado em
materiais institucionais como atestado desta parceria
com a Unicamp. “É um diferencial ter o crivo da Unicamp.
Em todos os projetos de que participamos e orçamentos
que enviamos, há sempre uma atenção especial para a relação
com a Universidade, o que colabora para nossas conquistas”,
exalta Efraim Albrecht Neto, sócio-diretor da Agricef.
A incubadora promove diversos eventos para estreitar a
relação com as associadas, como cafés tecnológicos e missões
internacionais e nacionais. “É comum recebermos empresas
na Incamp interessadas em conhecer o trabalho das incubadas
e das associadas, assim como trazemos empresários relacionados
aos projetos desenvolvidos para facilitar esse encontro
e possibilitar parcerias, acordos e até contratos. Os
contatos iniciais são estabelecidos via telefone ou por
meio do próprio site da Incamp. Enfim, cumprimos também
o papel de deixar as empresas bem informadas sobre os
acontecimentos mais atuais na área de tecnologia, de terem
acesso ao conhecimento gerado na Unicamp”, revela Davi
Sales, gerente da Incamp.
Este convênio possibilita também à incubadora manter-se
informada sobre a atuação das graduadas no mercado, suas
aquisições ou mesmo que projetos e produtos desenvolvidos
pensados em parceria entre as empresas e a Universidade,
como é o caso do USLab. “Considero que seja de grande
importância, para o nosso país, iniciativas como essas,
nas quais a Universidade e empresas de base tecnológica
se unam e cuja consequência é a criação de equipamentos
e tecnologias nacionais”, afirma Raquel. As associadas
assinam o convênio, que estabelece uma taxa anual simbólica,
pois esta é uma forma de continuarem ligadas à Unicamp.
Elas também apresentam à Universidade outras empresas
que podem oferecer seus serviços à Instituição. Atualmente,
existem 6 empresas associadas à Incamp e 9 incubadas,
estas que pagam royalties de 1% à Unicamp sobre seus faturamentos
brutos, a partir do 25 mês de incubação ou após o segundo
mês de saída da incubadora, já graduadas, durante o dobro
do tempo em que ficaram incubadas. Estes royalties são
reinvestidos na própria Incamp, em estrutura, profissionais
de apoio, consultorias e manutenções.
O edital para a incubação na Incamp fica disponível no
site: www.incamp.unicamp.br
e a seleção funciona em fluxo contínuo. É preciso preencher
um formulário online com o plano de negócio e pagar a
inscrição no valor de R$ 550. Por tudo isso, é muito importante
a dica de Efraim, da Agricef: “É preciso preparo para
se candidatar, mostrar o investimento em algo novo, já
que os critérios de seleção são rigorosos. Este é um diferencial
da Incamp. Planos de negócio com projetos que já têm aporte
financeiro de fundações de amparo à pesquisa, como foi
o caso da Agricef, também têm grandes chances”. Atualmente,
a Incamp tem espaço físico para 9 empresas, mas é possível
se candidatar e não ser residente, ou seja, ter estrutura
própria, mas contar com todo o auxílio da incubadora.
Com a finalização da construção do Parque Científico da
Unicamp, obra iniciada no mês de maio, a Incamp terá um
espaço no local para incubar 50 empresas.
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