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Manipulação de cadáveres
gera riscos de contaminação

RAQUEL DO CARMO SANTOS

A manipulação de cadáveres nos institutos médicos legais brasileiros requer medidas urgentes de biossegurança, uma vez que a natureza da atividade oferece risco de contaminação aos profissionais de saúde e técnicos de necropsia. O alerta foi feito pelo odonto-legista Marcus Vinícius Ribeiro de Carvalho, depois de avaliar 50 cadáveres, para detectar a presença do vírus HIV, na cidade fluminense de Volta Redonda. Em 2,4% das amostras, ele constatou a presença do agente etiológico, mesmo passadas 24 horas da morte do indivíduo.

“Não é uma porcentagem alta do ponto de vista estatístico, mas aponta para o risco que os profissionais correm sem o uso de equipamentos de segurança no processo de necropsia. Aliás, este foi apenas um dos agentes etiológicos investigados, mas poderia listar uma série de doenças que oferecem mais riscos por serem mais resistentes, entre as quais a hepatite C e a tuberculose”, salienta Carvalho, que apresentou dissertação de mestrado na Faculdade de Odontologia de Piracicaba (FOP) e foi orientado pela professora Darcy de Oliveira Tosello.

O estudo realizado por Carvalho reafirmou dados da literatura mundial que indicam a pesquisa necroscópica como fator de risco de transmissão para a equipe envolvida na execução do ato investigatório. Alguns autores conseguiram detectar HIV e hepatite C até 30 horas depois da morte do indivíduo. Ele considera ainda que essas doenças podem se desenvolver de quatro a cinco semanas na pessoa infectada. Segundo o odonto-legista, o ideal seria que as salas de manipulação de cadáveres fossem equipadas à semelhança de um centro cirúrgico. Isto porque, na prática diária, os profissionais recorrem a determinados procedimentos que necessitam de cuidados especiais. Um exemplo seria a necessidade de detectar a presença de projétil de arma de fogo. Nestes casos, explica Carvalho, o profissional precisa manipular o cadáver em vários pontos para conseguir a sua localização exata.

“Se a sala fosse equipada com raio X, este processo seria muito mais rápido e simples e não teria a necessidade de vários contatos manuais com o indivíduo”, esclarece. Em quatro corpos descritos na literatura tratava-se de usuários de drogas em que havia fragmentos de seringa no pescoço e, portanto, situação passível de ferimentos. Ou seja, este aspecto só confirma a necessidade de equipamentos de proteção.

As amostras de cadáveres, cujas análises foram feitas no IML de Volta Redonda, foram escolhidas aleatoriamente e, na maioria dos casos, tratava-se de vítimas de acidente de trânsito ou de projétil de armas de fogo. Segundo Carvalho, muitas vezes o histórico médico das pessoas é relegado a segundo plano ou não se sabe os detalhes. A maioria da amostra foi composta por homens na faixa etária de 21 a 50 anos.

 
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