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Pesquisa mensura eficiência energética
em pontos estratégicos da Universidade
Dados mostram que
medidas adotadas
geraram economia de
energia
JEVERSON
BARBIERI
A
Pesquisa realizada em pontos estratégicos da Unicamp avaliou
a eficiência energética, tanto do ponto de vista da conservação
quanto da qualidade, objetivando reduzir o consumo de energia
elétrica no sistema de iluminação, responsável por grande
parte da carga em prédios públicos. Foram instalados medidores
e analisadores de consumo e de qualidade de energia elétrica
nos prédios da Diretoria Geral da Administração (DGA), do
Ciclo Básico II (PB), da Faculdade de Engenharia Elétrica
e de Computação (Feec) e do Hospital da Mulher/Caism. Ao mesmo
tempo, foi feita a substituição das luminárias convencionais
(opacas, com dois reatores eletromagnéticos e quatro lâmpadas
de 40W) por luminárias de tecnologia superior (refletoras,
com um reator eletrônico e duas lâmpadas fluorescentes de
32W). O resultado comprovou que as luminárias e lâmpadas com
nova tecnologia são mais eficientes no que diz respeito ao
consumo de energia elétrica e também proporcionam a mesma
qualidade de iluminação. Essa pesquisa resultou na dissertação
de mestrado do aluno Caio Gomes de Oliveira, orientado pelo
professor Fujio Sato e co-orientado pelo professor Ernesto
Ruppert Filho, ambos da Feec.
Dados obtidos através de medições
de consumo e de qualidade de energia no Bloco F da Feec, que
compreende salas de aulas, anfiteatros, Empresa Junior, Centro
Acadêmico e banheiros, mostram que no período entre 2004 e
2007 houve uma redução anual de 32% no valor gasto com energia
elétrica. “É um valor muito significativo se pensarmos que
o gasto anual, somente desse bloco, passou de quase R$ 18
mil para R$ 12 mil”, analisou o professor Ruppert, coordenador
substituto do Projeto Ecogera.
Destinado a avaliar a eficiência
e a geração de energia elétrica por meio de um programa de
uso racional e de exploração de fontes alternativas de energia,
o Ecogera é financiado pela Financiadora de Estudos e Projetos
(Finep) e administrado pelo Núcleo Interdisciplinar de Planejamento
Energético (Nipe). Ainda em execução, o projeto envolve, além
da Feec, pesquisadores e alunos da Faculdade de Engenharia
Mecânica (FEM), da Faculdade de Engenharia Química (FEQ) e
da Faculdade de Engenharia Agrícola (Feagri) e tem como coordenador
geral o professor Luís Cortez, da Feagri.
Obtidos os primeiros resultados,
foi feito um rearranjo nos medidores da Feec, que passaram
a cobrir 67% da área física da faculdade. O trabalho realizado
por Oliveira estimou que, se todo o sistema de iluminação
da faculdade fosse substituído nos moldes do que foi feito
no bloco F, a economia anual poderia chegar à ordem de R$
134 mil. E seria mais expressiva ainda com a implantação da
conservação de energia nos sistemas de ar condicionado e de
informática. Ruppert observou que o avanço tecnológico na
produção de lâmpadas e luminárias favoreceu essa economia
e prosseguem as pesquisas no sentido de melhorar ainda mais
essa tecnologia. “Hoje, temos luminárias feitas com dispositivos
semicondutores (lâmpadas de LED) que apresentam uma eficiência
muito maior, mas como é uma tecnologia nova, ainda é muito
cara, distante da nossa realidade”, disse.
Além
dos dados obtidos na Feec, Oliveira monitorou também os dados
do Caism. Os resultados apresentados apontaram para uma economia
significativa de energia com a mudança da iluminação. “Houve
um aumento de qualidade porque nós aumentamos o nível de iluminação
de cada sala. Consequentemente, houve uma diminuição na conta
de energia elétrica porque houve uma redução dos kilowatts
gastos”, afirmou Ruppert.
Outra parte bastante importante
do trabalho foi a observação da qualidade da energia, principalmente
no Caism. Considerável parte das cargas são não-lineares e
produzem harmônicos na rede, que são componentes de freqüência
diferentes de 60Hz de alimentação. Essa diferença pode, por
exemplo, causar problemas nos equipamentos médicos do hospital.
“Não detectamos que tipo de problema poderia ocorrer lá, mas
detectamos que existem harmônicos”, observou Ruppert. Para
ele, esses resultados – levando em conta o estado atual da
pesquisa na área – são importantes porque auxiliam em pesquisas
futuras sobre esse tipo de problema.
Com relação aos medidores
adquiridos, Ruppert disse que são equipamentos importados
de uma empresa canadense e são muito confiáveis, uma vez que
eles possuem a capacidade de avaliação da qualidade de energia
elétrica, através do processamento digital dos sinais de corrente
elétrica e de tensão adquiridos por eles. Eles registram os
distúrbios ocorridos e analisam as distorções harmônicas nas
formas de ondas de tensões e de correntes elétricas. Uma possível
e aplicável solução para atenuação das correntes harmônicas
geradas por estas cargas seria a instalação de filtros ativos
nas cargas, uma vez que as magnitudes das correntes vistas
pelos medidores não são muito elevadas. Oliveira simulou a
atuação de um filtro ativo aplicado aos dados reais medidos
para os mesmos pontos de medição e obteve respostas satisfatórias,
com uma boa diminuição das correntes harmônicas, mostrando
que a instalação de um filtro ativo em um dos pontos de medição
pode render bons resultados.
Ruppert ressaltou que o sistema
de medidores e de analisadores de consumo e de qualidade de
energia elétrica permitiu verificar a ocorrência de elevações
e diminuições instantâneas de tensão em diversos pontos da
instalação elétrica, tanto da Feec quanto do Caism. Isso permite
identificar problemas possíveis de ocorrerem durante procedimentos
médicos ou trabalhos que dependam da manutenção de energia
elétrica a níveis de tensão aceitáveis.
Medidas
O coordenador acrescentou ainda que a instalação desse sistema
em todas as entradas de energia elétrica das diversas unidades
da Unicamp permitiria uma melhor avaliação do consumo de cada
uma delas, permitindo a adoção de medidas de economia de energia
aplicáveis, como também permitiria avaliar a qualidade da
energia elétrica que cada uma delas recebe a cada instante.
A Unicamp, segundo Ruppert, tem unidades e núcleos que se
envolvem com esse assunto, mas não de uma maneira não unificada.
“Desde o apagão de 2001, a
Universidade se posiciona com relação à conservação e qualidade
de energia. Existe até intenção de ter medidores desse tipo
em toda a Universidade de modo que cada unidade possa medir
seu consumo e se responsabilizar por ele, porque a economia
de energia só é feita quando pesa no bolso. Passando a conta
de energia para cada unidade, certamente todos irão se preocupar
com ela. Medidas no sentido de eliminar desperdícios já foram
tomadas na Universidade como com a água, após a instalação
de torneiras que se fecham automaticamente. Falta acontecer
com a energia elétrica. Já existe intenção da Pró-Reitoria
de Desenvolvimento Universitário (PRDU) de atuar nesse assunto,
no entanto, fazer isso tem um custo”, comentou.
Na previsão do coordenador,
o mundo, em breve, vai se ver apertado com a questão energética.
“Já é conhecido que tudo o que podemos conseguir com energia
alternativa é aproximadamente 20% da necessidade do mundo
e numa certa hora teremos que usar energia nuclear em todos
os lugares para produção de energia elétrica. Economizando
energia agora, a instalação de centrais nucleares será postergada.
E todos sabemos que, apesar de ser boa e não poluente, a energia
nuclear é perigosa e gera resíduos”, argumentou.
Para concluir, Ruppert ressaltou
a importância da união entre ele e o professor Sato no desenvolvimento
da pesquisa e, também, da dissertação de mestrado. “Na época
eu não tinha aluno para orientar e o professor Sato ia começar
um outro trabalho com o Caio. Decidimos então trabalhar juntos”,
disse. O professor Sato tem uma vasta bagagem trazida de empresa
concessionária de energia elétrica, no caso a CPFL, tanto
de visualização de uma instalação elétrica como de cabines
de força e de faturamento de energia elétrica. Isso facilitou
muito o trabalho de instalação dos medidores e o monitoramento
e análise dos dados obtidos. Além disso, observou Ruppert,
o trabalho desenvolvido pelo aluno, que se dedicou a pesquisar
a bibliografia e aprender os conceitos de eficiência e qualidade
de energia em tempo reduzido, foi fundamental porque soube
muito bem colher e analisar os dados. “Trata-se não apenas
de um excelente aluno, mas de um ótimo profissional que hoje
trabalha na Petrobrás. Vale ressaltar que para os esclarecimentos
de alguns detalhes da rede elétrica da Unicamp, este projeto
contou com a colaboração do engenheiro Vicente José da Costa
Vale, da Coordenadoria de Infraestrutura (Cinfra), órgão da
PRDU”, finalizou.
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