Unicamp Hoje - O seu canal da Noticia
navegação


- A evolução de
..um paradigma

- Um país com ciência

- Ciência e inovação

- Qualidade e
..relevância

- Publicar ou
..não publicar

- Recrutando
..docentes

- "Custo Brasil"

- Considerações
.. finais

CIÊNCIA E INOVAÇÃO

Um engano que se propaga nos dias atuais é a crença de que o produto da ciência é o invento, ou a inovação tecnológica. Neste sentido, propala-se a idéia de que, para sairmos do marasmo, devemos inventar e inovar mais, a exemplo do que acontece na Coréia. Por trás desta afirmação, está a ilusão de que a exportação de produtos com maior valor tecnológico agregado conseguirá pagar a enorme dívida social que o país tem com a população marginalizada há séculos. Entretanto, uma rápida navegação na Internet com a palavra chave “patentes” indica que há países, como os países nórdicos, por exemplo, cujo alto nível de bem-estar e desenvolvimento pouco tem a ver com o número de patentes que registram anualmente.

Existem países periféricos, inclusive na América Latina, com uma estrutura social bem menos perversa do que a nossa, que não possuem um sistema de pós-graduação e pesquisa tão sofisticado quanto o brasileiro. Em outras palavras, a desigualdade social e o abandono das classes menos favorecidas no Brasil não são conseqüência direta da falta de investimentos em laboratórios ou do atraso na formação de pesquisadores. Uma rápida análise da natureza dos graves problemas estruturais que hoje afligem a sociedade brasileira indica que eles não requerem uma ciência de ponta para a sua solução.

A ciência e a tecnologia que possuímos neste momento poderiam, num contexto social menos perverso, dar conta da maioria destes problemas básicos de forma satisfatória.
No entanto, o Brasil não pode deixar de fazer pesquisa. Mais ainda, não pode deixar de incrementar sua capacidade de pesquisa, dados os desafios do mundo contemporâneo. Cabe aqui uma reflexão sobre a importância da pesquisa no contexto brasileiro. É evidente que a pergunta “que tipo de pesquisa?” merece ser amplamente debatida.

A pesquisa será essencial para enfrentarmos os problemas que o século XXI nos apresenta em todos os campos. Mesmo na área da Saúde, onde uma grande parte dos problemas atuais da população brasileira se resolveriam com saneamento, alimentação e bom senso, o novo século nos desafia com os “novos dramas” das doenças emergentes, dos germes oportunistas resistentes a fármacos, das doenças degenerativas da crescente população idosa e das múltiplas implicações da terapia gênica. Seria suicídio o país se auto-condenar a uma posição de cliente ignorante em relação à nova ciência e tecnologia, pois clientes ignorantes pagam mais caro, compram mal e são mal-atendidos.

A situação é ainda mais premente no campo das ciências humanas. Os tremendos problemas sociais que enfrentamos requerem não apenas vontade política e mudanças econômicas, mas também compreensão das circunstâncias e dos fatores do atraso. Olhar a realidade de maneira objetiva e científica é condição necessária, mas não suficiente. Pseudo-soluções simplistas apenas perpetuam a frustração e o desânimo.

Um país que possua ciência, não medida pela fração do PIB que investe na parafernália científica, mas no sentido acima descrito, é um país que sabe e pode. Ele é capaz de antecipar problemas, pois sabe mais sobre ele mesmo do que os outros países, o que é característico da superação do subdesenvolvimento. Assim sendo, ele está mais bem aparelhado na busca de soluções que permitam superar dificuldades de natureza econômica, tecnológica, ou social.


 
© 1994-2002 Universidade Estadual de Campinas
Cidade Universitária "Zeferino Vaz" Barão Geraldo - Campinas - SP
E-mail: iimprensa@obelix.unicamp.br