RECRUTANDO
DOCENTES
A
qualidade da pesquisa feita numa universidade depende
essencialmente dos pesquisadores que nela atuam
e do ambiente institucional propício à
pesquisa científica. Portanto, uma das questões
centrais é a forma com que a universidade
contrata seus docentes. Nos próximos anos,
com o crescente número de aposentadorias
e com a expansão esperada e desejada no número
de alunos de graduação, haverá
a necessidade de fazer novas contratações
em número expressivo. Existem riscos e oportunidades
neste processo de renovação do corpo
docente.
A
questão estratégica mais importante
para uma política de contratações
tem a ver com a pergunta: que espécie
de universidade gostaríamos de ter daqui
uma ou duas décadas? Ou, ainda, que
espécie de universidade podemos construir
para dar o maior retorno à sociedade, levando
em consideração os recursos disponíveis
e as limitações conjunturais?.
O
problema extrapola a simples questão de uma
sistemática de substituição
de docentes ou em função das necessidades
da carga didática. Ele inclui:
1)
a identificação de temas de relevância
científico-tecnológica que não
estão sendo desenvolvidos apropriadamente
na instituição;
2)
a prospecção de temas relevantes para
o desenvolvimento social e cultural da região
e do país que não estejam sendo abordados
na instituição;
3)
a elaboração de uma política
para a correção dessas deficiências.
Hoje sabemos contratar jovens doutores que irão
desenvolver suas pesquisas nos diferentes grupos
ou laboratórios existentes nas unidades e
institutos com um razoável grau de eficácia.
Ou seja, sabemos preencher quadros no início
de carreira. Essas contratações resultam,
geralmente, de solicitações de grupos
de trabalho já consolidados. Com freqüência,
referem-se à incorporação de
elementos oriundos da própria equipe proponente.
Entretanto,
a Universidade Brasileira não tem sabido,
via de regra, contratar docentes com um número
significativo de anos de experiência em temas
que sejam de interesse para a universidade e para
a sociedade. Em outras palavras, não sabemos
atrair potenciais líderes acadêmicos
para iniciar novos grupos de pesquisa. Só
conseguimos oferecer um salário, o que geralmente
não constitui atrativo suficiente. Esta característica
do sistema de contratação, assim como
as considerações que seguem, não
são patrimônio só da Unicamp,
mas do conjunto das universidades públicas
brasileiras.
Como
resultado desta política (ou da falta de
política), há o sério risco
de congelarem-se tematicamente algumas unidades
de ensino e pesquisa. Nas últimas duas décadas,
apesar de terem surgido inúmeras novas áreas
de pesquisa, a criação de novos grupos
de pesquisa na Unicamp deveu-se, muitas vezes, a
divisões internas de grupos já existentes.
É obvio que não poderemos ambicionar
ter todas as especialidades numa Universidade, mas
a escolha de quais dentre elas serão desenvolvidas
não deveria ser obra do acaso, mas sim de
um planejamento estratégico. Para ter uma
instituição dinâmica, capaz
de acompanhar a par e passo o desenvolvimento técnico-científico
e artístico internacional e servir melhor
a sociedade que a sustenta, é essencial aperfeiçoar
o processo de atração e fixação
de novos pesquisadores na Universidade.
Uma
das maneiras possíveis para atrair pesquisadores
de grande potencial seria o oferecimento de um enxoval,
negociado institucionalmente. Tal enxoval incluiria
recursos para custear as pesquisas por alguns anos
incluindo verbas para equipamentos, material de
consumo, viagens, bolsas e, porque não, até
mesmo um benefício salarial suplementar,
nos moldes da bolsa de produtividade do CNPq. É
instrutivo observar que a competição
entre as instituições para atrair
os melhores pesquisadores, prática saudável
que é corrente de uma maneira ou de outra
nos países mais desenvolvidos, é praticamente
inexistente em nosso país. Herança
de uma época ainda recente, quando o número
de boas instituições era muito reduzido,
a imobilidade que caracteriza a carreira do pesquisador
no país requer novos mecanismos capazes de
promover maior fluidez ao sistema.
A
contratação temporária por
um período de alguns anos terminando num
concurso público para efetivação
é um mecanismo adequado desde que, aqui novamente,
as bancas, tanto de seleção inicial
como de concurso, tenham forte participação
externa e sejam definidas por critérios puramente
acadêmicos. Esta sistemática evita
a estabilidade precoce, verdadeira camisa de força
para a capacidade criativa da universidade.
De
qualquer modo, o essencial é manter vivo
o objetivo de contratar os melhores pesquisadores,
tendo em vista os objetivos institucionais, o que
requer uma intensa e permanente tarefa de conscientização.
Contratações não devem ser
feitas apenas para repor aqueles que se aposentam
ou pedem demissão, nem apenas para cobrir
necessidades de carga didática. A definição
dos departamentos ou unidades que fazem jus a uma
vaga deve ser feita com base em propostas bem fundamentadas
contemplando os aspectos de pesquisa e ensino. Tais
propostas devem ser analisadas por comissões
com forte participação de membros
externos à universidade, cuja indicação
deve ter critérios exclusivamente de mérito
e competência.
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