O
CUSTO BRASIL NA PESQUISA
Como
dito anteriormente, a UNICAMP vem conseguindo um
crescimento contínuo de sua produção
acadêmica. Isto é também verdade
para outras universidades públicas paulistas
e de outros estados. O aumento da produção
científica está associado ao crescimento
da pós-graduação e ao financiamento
da pesquisa pelas agências governamentais
de fomento, particularmente no Estado de São
Paulo, onde a FAPESP proporciona financiamentos
de grande monta de forma estável, através
de julgamentos cuidadosos por pares, feitos com
base no mérito científico.
Esta
realidade poderia sugerir que a situação
na UNICAMP, assim como em outras boas universidades
públicas de nosso país particularmente
as estaduais paulistas não seja muito
diferente das boas universidades de países
mais desenvolvidos e que os principais desafios
já tenham sido superados. Porém, quando
analisamos nossos índices de produtividade,
constatamos que ainda estamos longe dos números
daquelas universidades, principalmente no que se
refere ao impacto de nossas publicações.
Quais
seriam as razões desta disparidade? O que
dificultaria nossas pesquisas e comprometeria nosso
desempenho? Que problemas preocupam o jovem pesquisador
que realiza um produtivo estágio de pós-doutorado
no exterior, no momento de seu retorno ao Brasil?
Sabe-se que uma parcela de produtivos pós-doutores
brasileiros perde o brilho ao retornar à
instituição de origem. Alguns produzem
ciência de qualidade somente nos períodos
que passam no exterior. É fato também
que pesquisadores seniores muitas vezes temem retornar
ao Brasil apesar de tentadoras promessas de emprego
vitalício em nossas melhores universidades.
Não
é difícil para um pesquisador brasileiro,
com passagens por boas universidades do exterior,
enumerar uma série de problemas, na sua maioria
de natureza administrativa e de infra-estrutura,
que dificultam nossas atividades de pesquisa. Elas
representam o equivalente ao que se convencionou
chamar, nas empresas, de custo Brasil.
Neste caso, trata-se de dificuldades de organização,
de cultura institucional e de infra-estrutura.
A
universidade é uma instituição
relativamente jovem no Brasil. Isto é verdade
não apenas para a UNICAMP, que nasceu na
década de 60, mas também para as nossas
mais antigas universidades, onde a capacidade de
fazer ciência de forma mais disseminada e
sistemática tem, salvo raras exceções,
uma história de não mais que trinta
anos. Ainda na sua adolescência, portanto,
nossas instituições universitárias
se ressentem de algumas opções que
fizeram em relação à forma
de governo e que já deram mostras de inadequação.
A falta de uma clara distribuição
de responsabilidades, com a conseqüente diluição
excessiva dos processos decisórios, fenômeno
conhecido por democratismo, associado
a um certo corporativismo, dificulta tanto a cobrança
de desempenho quanto a valorização
do mérito na manutenção e reposição
de nossos quadros. Não há limites
precisos quanto às exigências em relação
às obrigações e competências
esperadas de seus servidores. Isto gera uma situação
de marasmo funcional. O resultado final
é que a produtividade acadêmica está
muito mais relacionada, em todos os níveis,
a iniciativas e ações individuais
que a uma cultura institucional.
A
carência de apoio técnico e administrativo
competente transforma o docente em uma espécie
de curinga, que tem que se ocupar de tarefas para
as quais não está preparado e que
nada acrescentam à sua atividade acadêmica.
Contabilista das prestações de contas
junto à universidade e às agências
de financiamento, o docente é ainda administrador
de pessoal, prefeito de campi, gerente de hospitais
universitários e de setores de apoio como
informática, audiovisual, bibliotecas e biotérios.
No dia-a-dia do docente existem comissões
e mais comissões que fazem longas reuniões
onde o principal resultado é agendar a data
da próxima reunião e cuja função
poderia ter sido cumprida por um competente funcionário
técnico-administrativo ou de apoio científico
ou didático com o aval de um Chefe de Departamento
ou Diretor de Instituto.
De
maneira geral, a infra-estrutura dos laboratórios
é precária devido principalmente ao
crescimento não planejado de nossas instituições
e à falta de uma manutenção
adequada. Como exemplo, pode-se citar redes elétricas
inadequadas para suportar a demanda de equipamentos
científicos que, com o tempo, amontoam-se,
tornam-se ineficientes e com vida útil mais
curta, o que implica em grandes prejuízos
para o andamento das pesquisas experimentais e desperdício
de recursos públicos. O longo tempo gasto
na importação de materiais de consumo
e equipamentos pode representar verdadeiro marca-passo
de nossas pesquisas.
Certamente,
um oportuno, desejado e factível salto de
qualidade dependerá também da solução
destes problemas de infra-estrutura e, sobretudo,
de organização.
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