Destaques do Portal da Unicamp na última semana
Sobrinha de Tarsila relembra momentos passados com a tia
20/2/2008 - A enfermeira Maria Clara Estanislau do Amaral, da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Unicamp, carrega em sua árvore genealógica o Amaral, sobrenome bastante comum no Brasil. Mas é sobrinha-neta da artista plástica Tarsila do Amaral, que marcou profundamente a pintura brasileira moderna. Igualmente marcou a vida de Maria Clara que, mesmo insistindo em dizer que não é artista, reproduziu muitas telas da tia, a quem muito admirou.
A conversa com Maria Clara acontece em parte também pela exposição Tarsila Viajante, que pode ser visitada até 16 de março na Pinacoteca do Estado (na Praça da Luz, 2), em SP. A mostra assinala um momento importante na compreensão do legado de Tarsila. Abaporu, sua obra mais conhecida, que está comemorando 80 anos, inspirou o Manifesto Antropófago de Oswald de Andrade, seu ex-marido.
A enfermeira da Unicamp conta que o encontro delas quase sempre ocorria durante visitas familiares. Em uma delas, em que acompanhou a mãe, Maria Clara recorda-se que tinha por volta de 12 anos e Tarsila, já idosa, estava acamada. “Tinha um delicado lenço lilás na cabeça, cobrindo parte dos cabelos grisalhos, mantendo a franja à mostra”, relembra. Cansada da conversa dos adultos, resolveu percorrer o apartamento de Tarsila. No corredor, informa, ficou extasiada diante de vários quadros da artista, que hoje bem reconhece nas exposições e nos livros. Tarsila usava formas geometrizadas, cores vibrantes e “pintura lisa”, sem marcas de pincel.
Tarsila - Sobre a obra da tia, ela opina que sempre foi feita com capricho. Demorava bastante. Lamenta não ter tido muita consciência da grande artista que era sua tia pois, segundo ela, na família havia outros talentos para as artes. A própria mãe de Tarsila era uma grande compositora e pianista. Também Tarsila, em dado momento, ficou com muita dúvida se seria artista plástica ou pianista.
Mesmo não se apercebendo muito da importância da artista, Maria Clara sentia a reverência das pessoas para tratarem com ela. “Mas não era sisuda. Era amável e sempre a vi sorrindo”, acentua. A última lembrança da tia foi em uma exposição num salão na Avenida Angélica. “Eu a cumprimentei e ela estava sentada numa cadeira-de-rodas”, comenta.
Nascida em Capivari, SP, Tarsila faleceu em 1973. Maria Clara herdou dela alguns pincéis e algumas caixas de aquarela. Seu tio Guilherme ficou com um piano, o mesmo que a sobrinha viu no apartamento da Albuquerque Lins, em São Paulo. A prima Tarsilinha participou diretamente da reconstrução da história da tia famosa, escrevendo o livro Tarsila por Tarsila. Maria Clara tem outra irmã que trabalha na Unicamp, a botânica Maria do Carmo.
O que mais desperta a atenção dela é que Tarsila conseguiu resgatar através da arte sua infância perdida nas fazendas onde viveu, como a São Bernardo, em Capivari, e a Santa Tereza, em São Pedro. “A coisa mais linda foi o ‘caipirinha’ que ela levou para sua obra. Foi o mesmo que cheguei a ver na fazenda da família e no trajeto do trem da Sorocabana: aquelas charmosas casinhas coloridas e imagens bucólicas”, afirma.
Admiradora de arte, Maria Clara acredita que o desenho enriquece suas aulas da graduação. “Fico mais didática, pois os alunos aprendem melhor vendo imagens”, diz. Ela freqüentemente é chamada para fazer arte por onde anda. Fez até um mural didático ilustrando os diversos métodos anticoncepcionais e o logotipo do Hospital Amigo da Criança do Caism. “Temas de educação em saúde precisam ser esteticamente apresentáveis para chamar a atenção”, avalia. Maria Clara dá andamento a sua pesquisa de doutorado e comenta que a enfermagem absorve muito o seu tempo. “Mas foi o que escolhi - o ser humano e a relação com ele.”
Exposição - A mostra Tarsila Viajante reúne 40 pinturas e mais de uma centena de desenhos, alguns inéditos, feitos pela artista durante algumas viagens ao exterior e ao Brasil. Foram incursões que tiveram uma forte influência sobre seu trabalho e na constituição de seu repertório visual. “Tarsila Viajante” assinala as obras, mas também o processo de criação da artista. A obra atualmente integra o acervo do Museo de Arte Latinoamericana de Buenos Aires, arrematada em um leilão em 1995 e que será a próxima parada da exposição. A mostra, desde janeiro em SP, atraiu cerca de 25 mil pessoas.
Veja notas detalhadas