Na opinião do sociólogo Moysés Moreira Santos, os sindicatos que representam os trabalhadores em transporte rodoviário de carga no Brasil deveriam exercer um papel mais ativo nas discussões de interesse dos caminhoneiros, entre as quais segurança, locais de pernoite, jornada e condições de trabalho. Santos observa que o segmento é marcado hoje pela disputa de entidades que assumem o papel de representantes dos trabalhadores.
“O número alarmante de acidentes nas estradas com transportadores de cargas indica que a situação precisa ser revista. É necessário promover campanhas unificadas para que os resultados comecem a aparecer. O setor precisa se mobilizar nacionalmente”, defende.
Na cidade de São Paulo, por exemplo, Santos identificou quatro sindicatos diferentes que dizem representar os transportadores, o que dificulta a promoção de campanhas conjuntas. Segundo o sociólogo, a história se repete em outros grandes centros urbanos. “Cada sindicato discute os problemas de sua região e não debate as questões de maior urgência para os trabalhadores. A situação da jornada de trabalho é uma delas. Muitos motoristas passam mais de 16 horas ao volante. Vencidos pelo cansaço, eles acabam provocando acidentes terríveis”, declara. Moysés Santos apresentou dissertação de mestrado sobre o tema no Instituto de Economia (IE), sendo orientado pelo professor Paulo Eduardo de Andrade Baltar. O sociólogo analisa no trabalho as transformações ocorridas no transporte de cargas rodoviário no país na década de 1990, período em que ocorreram importantes mudanças na economia brasileira. No Brasil, o transporte rodoviário é o mais importante meio para conduzir todos os tipos de produtos e materiais. Segundo cálculos feitos por Santos, 68% do transporte de cargas é feito nas rodovias.
De acordo com o sociólogo, na década de 1990 o setor passou por uma reestruturação. “O período coincide com a implantação das agências reguladoras e de um modelo institucional descentralizado. Houve uma fragmentação das atividades”, explica. O conceito de multimodalidade, ou seja, a integração entre os meios de transporte passou a integrar a pauta das grandes empresas. “Com a crise em vários setores, as novas idéias começaram a surgir”.
As grandes empresas optaram pela racionalização dos trabalhos e investiram fortemente em informática e logística para melhorar os processos em toda a cadeia, desde o carregamento até o recebimento da carga pelo destinatário. “Elas se adequaram ao novo cenário, garantindo um modelo condizente com suas necessidades”.
Por outro lado, observa o autor da pesquisa, os trabalhadores autônomos não conseguiram acompanhar essas transformações. “Ao mesmo tempo em que as empresas investiram em tecnologia, elas acabaram optando pela contratação de autônomos ao invés de manterem uma grande frota”. Com isso, Santos conclui que as empresas patronais conseguiram se adequar às transformações, enquanto os autônomos e empregados continuaram trabalhando em condições precárias. Neste ponto, o sociólogo atribui as dificuldades da categoria à proliferação de sindicatos específicos.