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Reitor saúda 120 alunos de escolas
públicas na aula inaugural do ProFIS
Projeto piloto da Universidade
prioriza o mérito e a inclusão social
O
reitor Fernando Costa recepcionou 120 alunos de escolas públicas
de Campinas para a aula inaugural do Programa de Formação
Interdisciplinar Superior (ProFIS), no último dia 22, no Centro
de Convenções. Selecionados por meio das notas do Enem, os
jovens receberão dois anos de sólida formação nas principais
áreas do conhecimento, antes de escolher um dos cursos regulares
da Universidade. Com este projeto piloto, a Unicamp aposta
em uma modalidade diferenciada e inovadora de acesso à graduação,
baseada na inclusão social e no mérito.
Ao saudar
os alunos, Fernando Costa recorreu a duas experiências pessoais
para ilustrar os maiores objetivos do ProFIS: promover a inclusão
e oferecer uma formação geral antes da especialização. “Nasci
e cresci na pequena Santa Rita do Passa Quatro, onde fiz o
grupo escolar, o ginásio e o colegial em escola pública. Ingressei
na universidade sem precisar de cursinho, assim como três
amigos, filhos de pedreiro, que também ingressaram em universidades
públicas de qualidade. Na década de 60, a escola pública permitia
que alunos concorressem à universidade, gerando grande mobilidade
social”.
Segundo
o reitor, no correr do tempo, com a universalização e o sucateamento
do ensino médio, esta possibilidade ficou cada vez mais difícil
para alunos que não possuem condições socioeconômicas de arcar
com um curso preparatório para o vestibular. “As universidades
públicas brasileiras são muito competitivas e excluem muita
gente capaz, mas que não teve a chance de frequentar uma boa
escola. O ensino médio, não só público como privado, precisa
melhorar muito, o que exige uma política de estado e grande
investimento, principalmente em salários para os professores”.
Na
opinião de Fernando Costa, o incremento de qualidade no ensino
médio resolveria, inclusive, muitos problemas do ensino superior
no Brasil. “Apenas 13% dos jovens entre 18 e 24 anos estão
nas universidades, quando a média chega a 80% na Coreia do
Sul, 60% nos Estados Unidos e 40% em países europeus. Menos
de 25% dos brasileiros estão em universidades públicas e 75%
nas privadas, proporção que é inversa mesmo em um país altamente
capitalista como os Estados Unidos, que tem mais de 70% dos
alunos em instituições estaduais e municipais. Mas tudo isso
não impede que o Brasil tenha ótimas universidades, nem que
uma universidade proponha soluções que possam ser expandidas
para as demais”.
Outra
experiência pessoal do reitor da Unicamp vem do seu pós-doutorado
em medicina na Universidade de Yale, onde prevalece uma tradição
centenária de recepção aos ingressantes. Ao ler depoimentos
de pessoas ilustres que lá se formaram, chamou sua atenção
como elas enalteciam o aprendizado de outras ciências, além
da medicina, em seu processo de formação. “Na minha área,
enquanto eu trabalhava no laboratório ou no ambulatório, os
alunos discutiam economia, características arquitetônicas
de um edifício, história medieval. Aqui, o curso é extremamente
profissionalizante e condensado, sobrando pouco tempo para
leitura e convívio”.
Fernando
Costa explicou aos alunos das escolas públicas que tais preocupações,
compartilhadas com seus pares, levaram à criação do ProFIS.
“Pensamos que devemos dar oportunidade para que se tornem
ótimos técnicos – médicos, engenheiros, físicos e biólogos
–, mas com acesso a todo o conhecimento que a Unicamp produz.
Vocês poderão conversar com especialistas de todas as áreas
e depois escolher a sua especialidade. Estou certo de que
esses anos serão os melhores de suas vidas”.
Cultura
científica
A aula inaugural foi ministrada pelo professor Marcelo Knobel,
pró-reitor de Graduação e um dos principais mentores do ProFIS.
Ele falou sobre cultura científica, mostrando como a ciência
está embutida no cotidiano das pessoas e a importância de
sustentar um pensamento crítico. Antes, confessou-se emocionado
com a presença dos alunos das escolas públicas no primeiro
dia de aulas no campus. “É um momento histórico para a Unicamp
e para as universidades brasileiras. Estamos fazendo uma aposta
em um programa diferenciado e que traz elementos novos, capaz
de mudar a perspectiva do ensino superior no Brasil”.
O professor Francisco Magalhães
Gomes, coordenador do ProFIS, informou que os estudantes participarão
de inúmeras atividades ao longo da semana dos calouros. “Preparamos
palestras com professores de todas as áreas do conhecimento
e também com profissionais dos órgãos que prestam algum tipo
de auxílio aos alunos, como SAE, DAC e Cecom. Haverá visita
a uma usina de reciclagem dentro do Trote da Cidadania e,
na manhã do domingo, um encontro para apresentar o programa
aos pais. As atividades começam efetivamente na próxima semana,
com aulas teóricas na parte da tarde; de manhã, eles colocam
a mão na massa com os nossos pós-graduandos, fazendo exercícios
e trabalhos práticos relacionados com o que aprenderam na
teoria”.
O dia do reencontro
Danilo,
Priscila e Aline estudaram da 5ª à 8ª série na mesma escola
pública e se tornaram bons amigos. Depois, cada um foi fazer
o ensino médio em escola diferente. Ao conferir a lista
de aprovados no ProFIS (Programa de Formação Interdisciplinar
Superior), Danilo viu o nome de Aline, que viu o nome de
Priscila, e os três se juntaram novamente para virem fazer
a matrícula na Unicamp no último dia 10 de fevereiro. “Reconhecemos
os nomes dos velhos amigos na lista. É surpreendente se
encontrar nessa situação”, festejava Priscila Aparecida
da Silva Cardoso, que cursou o ensino médio no Colégio Culto
à Ciência.
Por dois anos, os alunos
receberão ampla formação nas áreas de humanas, biológicas,
exatas e tecnológicas; depois, igualmente por mérito, poderão
escolher um dos cursos regulares de graduação. “Se estivéssemos
na mesma escola de ensino médio, não haveria como os três
virem para a Unicamp”, observou Aline Vieira Borges, que
estudou na Escola Álvaro Cotomacci e está convicta em cursar
arquitetura e urbanismo.
Danilo Silva Pereira vem
da Escola Carlos Alberto Galhiego e conseguiu a média de
700 pontos (em 1.000) no Enem. “Minha intenção era entrar
na Unicamp, o que é difícil principalmente pra gente da
escola pública. O ProFIS tem o objetivo de ajudar nesse
sentido. Quero cursar engenharia de controle e automação.
Já faço um curso de técnico em mecatrônica no Senai, à noite,
e daqui vou direto pra lá. Vai ser puxado, mas vai valer
a pena”.
Priscila Cardoso prestou
o vestibular da Unicamp no ano passado, sem sucesso. Foi
aprovada para o curso de engenharia ambiental na PUC de
Campinas, mas desistiu por causa da mensalidade que considera
alta. “Se não fosse o ProFIS, ia tentar um cursinho. Mas
acho que aqui vamos conseguir uma base maior, já que estudaremos
diversas disciplinas. Continuo pensando em engenharia, mas
ainda estou meio em dúvida”.
Na fileira de poltronas
ao lado, mais quatro alunos festejavam um reencontro. Raul
Dulce da Silva fez o ensino médio na Escola Barão Geraldo
de Rezende; Matheus Coimbra de Lima, na Escola Parque São
Jorge; Caroline Conti, na Escola Francisco Álvares; e Jéssica
Pereira, na Escola Hilton Federici. Eles ficaram amigos
durante o Ciência & Arte das Férias (CAF), outro programa
da Unicamp voltado a escolas públicas. “Nós nos conhecemos
no CAF e depois fizemos um ano de cursinho juntos. Vai depender
da nota no ProFIS, mas sonho com medicina ou fonoaudiologia”,
contava Matheus.
Raul, que se diz nascido
para a biologia, foi avisado da sua aprovação na Unicamp
por Caroline, via MSN. “Achei que a lista ia sair na segunda-feira
e ela me contou na sexta. Foi só felicidade, ficamos comemorando.
Esse projeto é muito bom para os alunos que não tiveram
a oportunidade de passar no vestibular. Ao longo dos dois
anos, vamos ter uma experiência inovadora, e depois cada
um vai construir seu futuro na faculdade de que gosta”.
Do fundo do auditório, Émerson
do Nascimento e a mulher Edna observavam a filha dando entrevista
para a RTV Unicamp. “O ProFIS é um projeto muito válido,
tanto que optamos pela Unicamp apesar de a Jéssica ter passado
também no ProUni [Programa Universidade para Todos, do Ministério
da Educação]. Achamos que, aqui, ela vai ganhar uma base
bem melhor, principalmente por vir do ensino público. São
dois anos de curso básico para depois colher os frutos”.
Jéssica do Nascimento vem
da Escola Sebastião Ramos Nogueira e acredita que o ProFIS
contribuirá inclusive para a escolha da carreira. “A Unicamp
é uma ótima universidade que está dando uma segunda chance
para alunos da escola pública, que realmente apresentam
um déficit nos estudos. Temos outra oportunidade, além do
vestibular. Sou seriamente interessada em exatas, mas ainda
não sei que profissão seguir. Espero que o ProFIS me ajude
na escolha”.
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