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Testes com animais comprovam ação
antiulcerogênica de espécie de hortelã
Óleo extraído de planta mostrou
também propriedade
antioxidante e potencial
de cicatrização
Cerca
de 10% da população mundial tem ou já enfrentou um quadro
de úlcera péptica em algum momento da vida. Esta doença, que
causa danos e desconforto ao estômago, acomete principalmente
indivíduos com idade entre 30 e 70 anos, e seu desenvolvimento
está deveras relacionado com a digestão alimentar. Isso quando
há sobreposição de fatores que agridem a mucosa gástrica –
ácido clorídrico e pepsina – em relação aos fatores que a
protegem – muco e bicarbonato, por exemplo. A experimentação
de um óleo essencial da espécie Hyptis spicigera (cujos nomes
populares são catirina, hortelã, cheirosa ou cheirosa-de-espiga)
pela bióloga Christiane Takayama dá indícios de que no futuro
ele poderá ser uma opção acertada na área de fármacos, para
amenizar a sintomática dos pacientes com úlcera.
Em sua
dissertação de mestrado, apresentada ao Instituto de Biologia
(IB), Takayama forneceu os resultados preliminares que deverão
confirmar, após novos testes de toxicidade, mais detalhes
sobre o óleo desta planta e essa propriedade farmacológica.
Fato é que ele chegou a inibir praticamente em 100% a formação
da lesão ulcerativa. A primeira contribuição da bióloga foi
concluir – em modelos animais – que tal planta possui sim
atividade antiulcerogênica. “Assim sendo, parte deste contingente
da população mundial poderá ser contemplado com os benefícios
desta pesquisa, depois que ela ultrapassar a fase de testes
e adentrar a indústria farmacêutica”, prevê.
O trabalho
da pesquisadora, orientado pela professora do IB Alba Regina
Monteiro Souza Brito e desenvolvido entre 2008 e 2010, consistiu
em avaliar os mecanismos desta atividade na base testada,
a de 100 mg/kg. Ao se aumentar o muco gástrico, camada responsável
por proteger o estômago contra o suco gástrico (que contém
pepsina e ácido clorídrico, os quais maltratam a mucosa estomacal),
ele conseguiu defender o órgão contra a formação de lesões
ulcerativas, não somente reduzindo-as, mas também impedindo
a sua formação. “Foi um resultado encorajador”, comemora.
Segundo ela, não existia na literatura científica provas cabais
dessas atividades. “O que havia era apenas indicação popular,
contudo nenhum estudo comprobatório desse potencial do óleo.”
Takayama
descobriu mais. Outro mecanismo encontrado foi o de atividade
antioxidante, capaz de abrandar a formação de espécies reativas
de oxigênio por mecanismo de transferência de hidrogênio.
Esta atividade foi avaliada tanto in vitro quanto
in vivo em ratos. Além disso, o óleo exibiu ainda
um forte potencial de cicatrização, conseguindo reduzir praticamente
em 90% a área da lesão de úlcera nos animais. Para que isso
acontecesse, houve a elevação dos níveis dessas substâncias
que promovem o processo de cicatrização, que são a COX-2 e
o EGF (fator de crescimento epidermal). O óleo da Hyptis spicigera
aumentou mais que duas vezes a produção do EGF. Mostrou-se
que, na prática, elas interferem aumentando a proliferação
celular e, por isso, estimulam a cicatrização na mucosa gástrica
dos animais e, possivelmente, em humanos.
O estômago
produz ácido clorídrico e outras substâncias que se encarregam
do processo de digestão. O conteúdo desse órgão torna-se,
portanto, mais ácido, podendo lesionar a parede do estômago,
caso os mecanismos de proteção do estômago estejam reduzidos.
De acordo com a bióloga, o estômago contém células produtoras
do muco que recobre a parede estomacal. Junto com ele, a secreção
de bicarbonato é outro fator protetor, por ajudar a neutralizar
o ácido.
Pois
bem, tais mecanismos de produção de muco são controlados graças
à ação das prostaglandinas. Contudo, é sabido que determinados
anti-inflamatórios as limitam, retirando a proteção do estômago
e do duodeno. É por esta causa que muitas pessoas sentem dor
quando tomam este tipo de medicamento ou derivados.
Óleos essenciais
Esse e outros estudos têm
sido possibilitados e sustentados por uma grande aliada –
a área de óleos essenciais, que está em franca expansão nos
cinco continentes. Por terem um odor agradável, são empregados
em geral na indústria de perfumes, sendo ainda adotados na
indústria de cosméticos, produtos de limpeza e também no setor
alimentício. Neste caso, ele apresenta uma marcada atividade
antioxidante, de modo a reduzir as espécies reativas de oxigênio,
os radicais livres, que agridem os tecidos e são protagonistas
em sua degradação.
Os óleos essenciais são extraídos
de partes de plantas, particularmente caule, folhas, raízes,
flores, inflorescências, frutos ou sementes. São óleos voláteis
(que evaporam mesmo em condições normais) e, em geral, aromáticos.
Mais recentemente, muitas investigações reforçam suas atividades
farmacológicas. Por este motivo foi que Takayama resolveu
analisar este óleo essencial.
Conforme a pesquisadora, a
matéria-prima do óleo é utilizada como indicação popular desde
a Antiguidade. Os estudos científicos, porém, começaram a
se intensificar mais a partir da década de 1980. Agora, a
questão envolvendo o setor farmacológico e de atividade antioxidante
são ainda recentes. Advêm da década de 1990. “Com a descoberta
dessas atividades em óleos essenciais, as perspectivas futuras
são as melhores, restando encontrar uma melhor maneira de
administrá-los em seres humanos”, assinala a bióloga.
Quando trabalhava com os experimentos
animais, ela colocou em prática, como forma de administração,
um veículo a priori aplicável em animais: o tween. Por se
tratar de um óleo essencial, uma substância lipofílica (aquela
que não é solúvel em água), ele precisava apenas de um veículo
que o solubilizasse. “O próximo passo será encontrar um jeito
de fazer a sua administração em humanos por via oral”, revela
Takayama.
Até o momento, acredita-se
que o que pode render um melhor resultado é a produção de
medicamentos em microcápsulas, trabalho hoje desenvolvido
pelo professor do IB Marcos Salvador, que atua na área de
Fisiologia Vegetal. Ele avalia a viabilidade dessa forma de
administração, já que diversos outros medicamentos corroboram
a sua aplicabilidade e eficácia.
Com certeza, acentua Takayama,
mais investigações serão necessárias para apurar a toxicidade
contida nesse óleo. No caso do presente estudo, a bióloga
realizou um screening de doses, separando a mais efetiva,
que foi aquela de 100 mg/kg. Analisou apenas dois, dos muitos,
parâmetros toxicológicos – a evolução ponderal dos animais
e órgãos vitais como o fígado, o coração, os pulmões e os
rins. Pelas análises desenvolvidas até aqui, não foi verificado
nenhum sinal de toxicidade, pelo menos não na dose estudada.
A pesquisadora pontua que esses resultados fazem parte de
testes pré-clínicos e que existe um longo caminho para se
chegar à análise em humanos, que pode demorar algo em torno
de cinco a dez anos, estima.
Características
da Hyptis spicigera
O gênero Hyptis apresenta
diversidade morfológica e é encontrado no Cerrado brasileiro,
com cerca de 300 a 400 espécies registradas, segundo Harley
(1988). Atualmente, é consenso que elas são eficazes no
tratamento de infecções gastrointestinais, câimbras, dores
e infecções da pele. Além do mais, possuem efeito anestésico,
antiespasmódico, anti-inflamatório e abortivo. No caso de
Hyptis spicigera, trata-se de uma erva daninha e aromática,
uma espécie de hortelã, diferente da comumente usada para
fazer chás e infusões. Tem como característica peculiar
a inflorescência, que a diferencia das demais espécies de
Hyptis.
A inflorescência, afirma
Takayama, é a parte da planta onde se localizam as flores,
descrita pela forma como se dispõem umas em relação as outras.
Normalmente aparece como um prolongamento que se assemelha
ao caule, provido de folhas modificadas chamadas brácteas.
Nas axilas destas brácteas, localizam-se as flores. Muitas
famílias botânicas, frisa, se distinguem facilmente pelo
seu tipo de inflorescência. “Na verdade, ela integra um
conjunto de flores, não apenas uma”, explica.
Na mata, logo se observa
que ali existe essa planta, graças ao seu aroma característico.
O óleo que Takayama trabalhou foi o comercial, encontrado
em empresa produtora de óleos essenciais. A sua dissertação
integra a linha de pesquisa Atividade Antiulcerogênica de
Produtos Naturais, coordenada pela professora Alba Brito,
que é ainda responsável pelas linhas sobre a colite e as
inflamações.
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Publicação
Dissertação de Mestrado: “Determinação dos
mecanismos antiulcerogênicos e antioxidantes do óleo essencial
de Hyptis spicigera Lam., Lamiacceae”
Autora: Christiane Takayama
Orientadora: Alba Regina Monteiro Souza Brito
Unidade: Instituto de Biologia (IB)
Financiamento: Capes
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