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Aperfeiçoamento de técnica reduz
emissão de poluentes em motor a diesel
Limites previstos para
entrar em vigor na Europa são atingidos em pesquisa
Pesquisa desenvolvida pelo engenheiro mecânico Lucas Lázaro
Ferreira Squaiella obteve, por meio do aperfeiçoamento de
uma técnica, a redução significativa da emissão de poluentes
gerada por veículos equipados com motor a diesel. O poluente
mais abundante produzido por este tipo de motor, o óxido de
nitrogênio (NOx), teve seu índice diminuído de 5 g/kWh para
0,4 g/kWh – unidade específica de medição que leva em conta
a potência do motor, independentemente do seu tamanho. O principal
resultado obtido com esse desenvolvimento foi atingir o objetivo
de atender os limites de emissão previstos para entrar em
vigor na Europa somente em 2014, o chamado nível Euro 6. O
engenheiro trabalhou em uma técnica chamada de Recirculação
de Gás de Exaustão (EGR, em inglês) na qual uma pequena quantidade
de gás que sai do escape retorna à admissão. “Essa é a principal
estratégia”, revelou Squaiella.
Dessa maneira foi possível
modificar a forma como o combustível é queimado e, consequentemente,
provocar a redução na emissão de poluentes. Foi, segundo o
autor, um grande desafio porque, a partir de um motor que
ele chamou de básico – por questões de mercado e custo –,
acabou por utilizar tecnologias que permitiram trocar poucos
componentes. Dispositivos fundamentais como o pistão, o cabeçote
e o bloco do motor, por exemplo, foram mantidos. Para Squaiella,
esse desenvolvimento foi muito gratificante porque, utilizando
recursos de engenharia como simulação computacional e testes
em dinamômetro – que são a parte experimental –, foi possível
atingir a meta em diferentes etapas. A escolha do tema teve
como premissa eleger algo de importante abordagem para a empresa
MWM International Motores, da qual Squaiella é funcionário.
O incentivo e o financiamento da pesquisa por parte da empresa
resultaram no mestrado profissional em engenharia de motores,
realizado junto à Faculdade de Engenharia Mecânica (FEM) sob
a orientação da professora Cristiane Aparecida Martins.
Atualmente,
disse o pesquisador, a maior preocupação das indústrias
é desenvolver motores que sejam cada vez menos poluentes,
uma vez que a preocupação com a preservação do meio ambiente
é muito grande. “Estamos sempre focando nosso estudo no
sentido de atender as normas de emissões, que são impostas
pelo governo federal, além de atender os requisitos dos clientes,
que sempre buscam um novo motor mais potente e econômico”,
ressaltou. O resultado mostra que, em relação aos níveis
de emissão de poluentes existentes hoje, esse novo motor
polui 10 vezes menos. Trata-se de uma tecnologia simples que,
para o mercado brasileiro, é visto como uma tendência. “Para
o nosso país, tudo o que é tecnológico requer muito investimento.
E, para completar, o Brasil tem a maior frota de caminhões
e ônibus do mundo. Portanto, quanto mais barato for o produto,
mais vendável ele se torna”, assegurou.
De acordo com dados da Associação
Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea),
a frota brasileira de caminhões gira em torno de 1,6 milhão
de veículos. A idade média dessa frota é de 15 anos, um nível
bastante avançado se comparado com o dos mercados mais desenvolvidos.
Além disso, considera-se que esses veículos já estejam bastante
desgastados por conta das más condições de operação, o que
acarreta uma poluição ainda maior. E para os ônibus o quadro
não é muito diferente. Atualmente circulam pelas cidades brasileiras
304 mil ônibus, de acordo com o Sindicato Nacional da Indústria
de Componentes para Veículos Automotores (Sindipeças).
Aperfeiçoamento
A EGR é uma técnica relativamente
antiga e sua utilização veicular teve início na década de
1970. Squaiella explicou que ela foi abandonada para aplicações
em motores a diesel durante muitos anos justamente porque
os combustíveis antigos continham altos teores de enxofre.
Estes, após a combustão, se associavam ao vapor de água contido
no escape formando o ácido sulfúrico (H2SO4) que, juntamente
com os outros poluentes, eram recirculados. Altamente corrosivos,
acabavam por danificar os componentes do motor.
Porém,
o desenvolvimento da engenharia possibilitou uma nova utilização
dessa técnica. “Hoje temos sistemas eletrônicos integrados
ao motor que controlam com muita precisão o funcionamento
de válvulas que usam materiais mais nobres e que resistem
mais aos ataques desses elementos. Além disso, existem também
tratamentos superficiais realizados nos dutos internos dos
motores, para que não sofram o processo de corrosão”,
observou. O sistema tem por objetivo diminuir a temperatura
máxima da combustão, pois esse é o fator que mais afeta
as emissões de NOx formado principalmente pelas reações
do nitrogênio e do oxigênio presentes no ar.
Fumaça preta
Principal característica do
motor diesel, a fumaça preta, também conhecida como material
particulado, é um produto da combustão mal realizada. A cadeia
de carbono do diesel, de acordo com Squaiella, é muito grande.
Como termo de comparação, o etanol (álcool combustível) possui
apenas um carbono, enquanto que o diesel varia de nove a 28
átomos de carbono. Em razão disso, a maior tarefa é fazer
com que o motor seja muito pouco poluente em todos os aspectos,
incluindo o material particulado. O próximo passo, portanto,
é trabalhar a forma como esse carbono será liberado. Na forma
sólida ele provoca fumaça, mas no momento o objetivo é tentar
fazer com ele saia na forma gasosa, que é o CO2. “A fumaça
é prejudicial porque junto dela existem outros subprodutos
como carbono, óleo lubrificante e combustível não-queimado”,
explicou.
Diferentemente
dos motores ciclo Otto, utilizados em veículos movidos a gasolina,
álcool ou GNV, onde a combustão é iniciada por uma centelha,
nos motores do ciclo diesel a queima do combustível acontece
por um processo de auto-ignição quando, dentro do cilindro,
se atingem temperaturas e pressões ideais. E isso acontece
em quatro tempos distintos. No primeiro tempo, chamado admissão,
o pistão do cilindro desce e a válvula de admissão é aberta,
permitindo dessa maneira a entrada de ar na câmara de combustão.
No entanto, o ar passa antes pelo filtro, compressor e cooler.
Esse mesmo ar preenche a câmara de combustão com a quantidade
necessária de oxigênio que será utilizado na queima do combustível.
Após essa etapa, vem a chamada compressão, na qual o ar fica
comprimido, elevando a temperatura até a casa dos 400oC.
A terceira etapa, chamada
de combustão, se dá pela injeção de diesel pressionado pela
bomba injetora, por meio dos bicos injetores. A combustão
ocorre quando isso acontece de forma pulverizada na câmara,
que já está aquecida com uma temperatura mais alta que o ponto
de ignição do combustível. Na quarta e última etapa, durante
a combustão, o pistão do motor desce fornecendo torque para
o motor. Na exaustão, o pistão sobe, a válvula da exaustão
se abre e o gás resultante da queima é expelido para a atmosfera.
Portanto, o cilindro onde
ocorre a queima deve receber, em proporções corretas, o oxigênio
e o diesel para uma perfeita queima, que eliminará o mínimo
de resíduos. Se esta quantidade de oxigênio for inferior à
necessária para a combustão, uma parte do diesel não será
queimada. Estas partículas de diesel no interior da câmara
que não queimam ficam pretas e são expelidas em forma de fumaça.
O diesel que não queimou não realizou o trabalho, mas foi
gasto. É como um vazamento constante na tubulação durante
o funcionamento do motor.
Questionado se há espaço para
se buscar outras alternativas para melhorar o consumo de diesel
no país e também o nível de emissão de poluentes, o engenheiro
disse que atualmente trabalha no desenvolvimento de novas
tecnologias. A principal delas consiste de um sistema de pós-tratamento
– o conhecido catalisador – no tubo de escape, que ficará
responsável por praticamente acabar com as emissões de gases
nos carros. “O grande gargalo que enfrentaremos ainda são
os custos de desenvolvimento e aplicabilidade”, concluiu Squaiella.
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