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A história oral e a visibilidade social
O
Centro Comunitário Irmão André, mais conhecido como ONG Cecoia,
localizado no distrito de Sousas, em Campinas, já fez a diferença
na vida de muitas crianças e adolescentes ao longo de sua
história. Mas, especialmente nas experiências de cinco jovens
que passaram pela instituição, o contato pode ser caracterizado
como enriquecedor. Em busca de reconstruir a trajetória de
vida dessas cinco pessoas da periferia urbana de Sousas, a
historiadora Fernanda de Araujo Mandetta empregou a metodologia
de história oral para analisar as experiências de escolarização,
educação não-formal, inserção no mercado de trabalho e as
expectativas de futuro desses jovens na faixa etária dos 18
anos. Em todos os casos, Fernanda constatou que o Cecoia foi
relevante e trouxe visibilidade social para eles.
“O percurso desses jovens
na ONG mostra uma relação de formação. A procura pela
instituição, pelos pais, se dava para evitar que os filhos
ficassem na rua no horário contrário ao escolar. Fica claro
também que a instituição representa não só a possibilidade
de inserção no mercado de trabalho, mas também de visibilidade
social”, destaca Fernanda, que abordou as histórias na
dissertação de mestrado apresentada na Faculdade de Educação
(FE), sob orientação da professora Aparecida Neri de Souza.
Todos os jovens entrevistados
destacaram o papel do Cecoia como um espaço propício a se
fazer amizades, que prioriza atividades lúdicas longe das
ruas e, principalmente, que fez eles se sentirem bem recebidos
e acolhidos. Segundo a historiadora, este aspecto reafirma
a contribuição da ONG na trajetória das crianças e adolescentes,
bem como a sua importância para formação de cidadãos.
Os jovens entrevistados foram
selecionados dentre aqueles que tiveram participação no projeto
“Educação não-formal, memória e cidadania: os distritos de
Campinas/SP”, e nas oficinas de educação não-formal desenvolvidas,
em 2005, pelo Centro de Memória da Unicamp. O projeto de reconstrução
sócio-histórica do bairro também foi destacado na fala dos
jovens como uma oportunidade de melhor conhecer o bairro onde
moram e, assim, aumentar o sentimento de pertencimento desses
meninos e meninas com o local onde moram.
Os cinco jovens continuam
ligados ao Cecoia e são oriundos de grupos sociais de classes
populares, habitam espaços urbanos degradados, com diferentes
trajetórias escolares. “Estes jovens sonham em poder ter empregos
estáveis e decentes, pois a inserção no mercado de trabalho
se dá de forma intermitente. Também sonham em continuar estudando,
como possibilidade de mobilidade social e de conquista de
uma profissão”, observa Fernanda. A pesquisadora acredita
que, assim como os jovens entrevistados, muitos outros espalhados
pelo país têm suas histórias parecidas em que a precarização
do emprego é caracterizada por empregos não-qualificados e
sem direitos trabalhistas.
Com relação à escolarização
desses jovens, observou-se como é importante o espaço escolar,
assim como a figura do professor que se preocupa com o aprendizado.
“Para eles, não basta o professor entrar na sala de aula e
simplesmente ministrar o conteúdo. Se referem ao bom professor
como aquele que se preocupa com a aprendizagem, sem levar
em consideração a origem social, e que incentivam, valorizando
as possibilidades e o potencial que eles têm”, explica. Mesmo
abordando temas diversos, Fernanda acredita que o assunto
não se esgota. “Pelo contrário. Ele suscita muitas indagações
sobre a temática relacionada à juventude brasileira”.
Publicação:
Dissertação “Jovens: Da ONG para o trabalho? Escolarização,
trabalho e trajetórias de jovens de camadas populares
de Campinas”
Autora: Fernanda de Araújo Mandetta
Orientador: Aparecida Neri de Souza
Unidade: Faculdade de Educação (FE)
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