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Pesquisa da FOP associa câncer
bucal a pré-disposição genética
Pesquisa
desenvolvida na Faculdade de Odontologia de Piracicaba (FOP)
da Unicamp revela que uma das principais causas do aumento
do número de casos de câncer de língua em pacientes mais jovens
pode estar associada a pré-disposição genética à doença. Os
resultados do estudo mostraram que os pacientes mais jovens
com carcinoma de língua possuem uma quantidade muito maior
de DNA alterado em seus tumores quando comparados aos pacientes
idosos com a mesma doença. Com isso, a pesquisa da FOP lança
um olhar original sobre um dos assuntos de preocupação emergente
na comunidade científica: como os pacientes jovens não-fumantes
e que não têm o hábito de ingerir bebidas alcoólicas podem
ter câncer bucal?
O assunto foi objeto de estudo
da tese de doutoramento de Alan Roger dos Santos Silva, defendida
recentemente na FOP, sob a orientação do professor da Área
de Semiologia Márcio Ajudarte Lopes. Além de contar com a
colaboração de vários outros especialistas, entre os quais
o professor da FOP Pablo Agustin Vargas; dos professores da
Faculdade de Odontologia de Araçatuba da Unesp Ana Maria Pires
Soubhia e Glauco Issamu Miyahara; do doutor Roman Carlos Bregni,
do Centro Clínico de Cabeça e Pescoço da Guatemala; e dos
professores Paul Speight e Keith Hunter, da Faculdade de Odontologia
Clínica da Universidade de Sheffield, na Inglaterra, onde
o trabalho foi realizado em parceria com o auxílio financeiro
da Capes e do CNPq.
Os resultados contribuíram
para o progresso da compreensão do câncer de língua em jovens,
pois é pioneiro ao analisar pacientes de diferentes regiões
geográficas do mundo – do Brasil, da Guatemala e da Inglaterra.
O que comprova a repercussão positiva dos estudos é que o
grupo acaba de ser agraciado com o prêmio IAOP Travel Awards,
oferecido pela Sociedade Internacional de Patologistas Orais,
principal órgão que regulamenta as diretrizes da especialidade
no mundo. Desta forma, o autor da pesquisa Alan Silva apresentará
o trabalho no Congresso da Sociedade que acontecerá em agosto
na cidade de Seul, na Coréia do Sul.
Para chegar aos resultados,
os pesquisadores utilizaram uma técnica conhecida como ploidia
do DNA para avaliar a instabilidade genética tumoral. A mostra
foi selecionada de dois centros de pesquisa do Brasil, um
da Guatemala e outro da Inglaterra. No total, foram 37 pacientes
com até 40 anos de idade, sendo que o paciente mais jovem
tinha 16 anos. A média entre eles foi de 33 anos de idade
– faixa etária considerada especialmente jovem para este tipo
de doença, já que normalmente o surgimento do tumor é mais
comum a partir dos 60 anos. “Nós comparamos os pacientes jovens
com os idosos, ambos com o câncer de língua, a fim de entender
se existiriam diferenças clínicas e patológicas entre os grupos.
Os resultados nos mostraram que, de fato, o perfil da doença
é diferente nesses jovens”, explica Silva.
De acordo com o pesquisador,
os tumores dos pacientes mais jovens foram frequentemente
encontrados em mulheres não-fumantes e que não tinham o hábito
de ingerir bebidas alcoólicas, justamente o oposto dos tumores
detectados em pacientes idosos, que eram predominantemente
homens, fumantes e que consumiam bebidas alcoólicas. A pesquisa
demonstrou ainda que os tumores dos jovens são diferentes
do ponto de vista biológico, já que apresentaram maiores incidências
de anormalidades quantitativas do DNA ou aneuploidia e de
outros parâmetros de instabilidade genética.
Em linhas gerais, explica
o orientador Márcio Lopes, o trabalho conseguiu uma melhor
caracterização do perfil clínico e patológico dos pacientes
jovens, favorecendo a hipótese de que eles representem uma
entidade clínica distinta do ponto de vista clínico e biológico.
“A instabilidade genômica aumentada pode ser importante para
o aparecimento e progressão do câncer bucal nesta população
atípica e cada vez mais afetada pelo câncer de língua”, destaca
Lopes. Para ele, os resultados ajudam a despertar maior preocupação
nos profissionais de saúde brasileiros para as condições de
saúde bucal de pacientes jovens e, talvez, aumentar as chances
de que lesões bucais graves e prevalentes nesta população
sejam reconhecidas precocemente.
O câncer de boca, em geral,
afeta tradicionalmente homens mais idosos que fumam e consomem
bebidas alcoólicas por longo período de tempo. O aumento do
número de casos em pacientes com menos de 40 anos de idade
tem sido relatado em diferentes partes do mundo na última
década. Pouco se conhece a respeito das causas, dos fatores
de risco, do comportamento clínico da doença e das melhores
formas de tratamento do câncer de boca em jovens.
O entendimento da doença em
jovens brasileiros também é considerado bastante limitado,
o que dificulta o desenvolvimento de diretrizes para prevenção,
diagnóstico precoce e tratamento dos pacientes. Ademais, existe
uma tendência atual a reconhecer os tumores de boca em jovens
como mais agressivos do que os mesmos tumores quando afetam
pacientes idosos.
Publicação:
Tese “Análise das características clínico-patológicas
e da ploidia do DNA em pacientes jovens com carcinoma
espinocelular de língua: um estudo colaborativo internacional”
Autor: Alan Roger dos Santos Silva
Orientador: Marcio Ajudarte Lopes
Unidade: Faculdade de Odontologia de
Piracicaba (FOP)
Financiamento: Capes e CNPq
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