A leucina, aminoácido avaliado por alguns
pesquisadores por ativar a via de síntese proteica muscular,
mostrou-se um forte aliado de exercícios aeróbios na manutenção
da massa muscular. Após estudo realizado com camundongos
adultos, a educadora física Morgana Rabelo Rosa, do Instituto
de Biologia (IB) da Unicamp concluiu que a leucina manteve
a via de sinalização proteica ativada 24 horas depois de
uma sessão de exercício aeróbio realizada por camundongos
treinados aerobiamente e suplementados com o produto durante
12 semanas. Por meio do aumento de proteínas sinalizadoras
da via de síntese proteica presente no músculo de ratos
submetidos a treinamento de natação e suplementados, foi
possível saber o efeito benéfico da leucina na recuperação
pós-exercício. Morgana enfatiza que o estudo não envolveu
testes com humanos, pois se trata de pesquisa básica laboratorial.
De
acordo com Morgana, exercícios físicos de longa duração
podem levar à proteólise, degradação de proteínas. Daí a
necessidade de estudar suplementos que melhorem a recuperação
pós-exercício. É neste contexto que a suplementação com
leucina foi investigada pela pesquisadora que, ao longo
das 12 semanas, suplementou os animais e, após este período,
coletou o músculo de camundongos submetidos a treinamento
de natação durante uma hora e meia por dia em cinco dias
por semana para avaliar a manutenção da síntese proteica.
A investigação mostrou que a síntese proteica desses animais
suplementados continuava aumentada 24 horas depois da última
sessão de exercício.
Durante a experiência, a pesquisadora comparou
quatro grupos (controle, controle suplementado, treinado
e treinado suplementado). Ao final da análise de 12 semanas,
ela observou que apenas os grupos suplementados com leucina
apresentaram aumento acentuado do teor de insulina e leucina
plasmática. Os grupos treinados, incluindo o suplementado,
apresentaram atividade aumentada da citrato sintase, maior
sensibilidade à insulina e queda da porcentagem de gordura.
O trabalho teve como proposta avaliar a
suplementação crônica com leucina durante um programa de
exercício aeróbio sobre proteínas sinalizadoras da via de
sensibilidade à insulina e síntese proteica em músculo esquelético
e fígado dos camundongos. De acordo com a autora, pesquisas
recentes relatam alterações moleculares de proteínas envolvidas
na via de síntese proteica após sessões agudas de exercício,
mas o efeito da leucina associada ao treinamento aeróbio
havia sido pouco investigado.
Morgana alerta para o uso indiscriminado
do aminoácido, pois a suplementação com leucina para indivíduos
que não possuem aporte calórico aumentado pode induzir o
aumento da secreção de insulina e possível estresse pancreático.
“Por isso, a administração da suplementação com leucina
deve ser realizada por profissional competente, independentemente
do indivíduo. Deve ser observado com atenção especial o
uso em indivíduos idosos, que frequentemente possuem catabolismo
proteico elevado”, enfatiza a pesquisadora.
O acompanhamento mostrou que a insulina
isoladamente não é capaz de restaurar a síntese proteica
no estado alimentado, sendo necessária a ingestão de aminoácidos
para ativar a via da mTOR (alvo da rapamicina em mamíferos).
Isso, segundo Morgana, sugere que a insulina potencializa
a via de sinalização de proteína, facilitando a sua síntese
em presença de aminoácidos. Dessa forma, os aminoácidos
têm sido apontados como moduladores da via de sinalização
da via de síntese proteica pela ativação da p70s6k (proteína
quinase ribossomal).
De acordo com Morgana, em músculo esquelético,
a suplementação com leucina, apesar de aumentar a fosforilação
(ativação) do receptor de insulina, não alterou o conteúdo
total do receptor. No entanto, a expressão gênica, o conteúdo
total da mTOR e a ativação da proteína estavam aumentados.
O treinamento aeróbio, segundo a pesquisadora, elevou o
conteúdo total do receptor de insulina e sua fosforilação,
entretanto, reduziu o contéudo da proteína p70s6k, além
de não alterar o contéudo total da mTOR e a ativação da
proteína.
Ela acrescenta que a associação dos tratamentos
elevou o conteúdo total e a fosforilação do receptor de
insulina acima dos valores encontrados quando os tratamentos
foram administrados de forma individual e a fosforilação
do substrato de receptor de insulina em relação aos grupos
controle. Segundo Morgana, houve elevação da expressão gênica
e conteúdo total da mTOR e conteúdo total e fosforilação
da p70s6k acima dos valores encontrados para o grupo treinado,
porém abaixo dos valores do grupo controle suplementado.
Ela acrescenta que, quando os tratamentos foram associados,
a leucina reverteu o efeito atenuador do exercício aeróbio
sobre a via de síntese proteica.
Os resultados indicam que a administração
de suplementação crônica com leucina para camundongos adultos
durante um programa de exercício aeróbio pode ser importante
por proporcionar maior ativação de proteínas da via de síntese
proteica em músculo esquelético e fígado quando comparadas
à atividade expressa somente em função do exercício aeróbio.
Morgana explica que um dos objetivos do
treinamento aeróbio é aumentar a capacidade de sustentar
a demanda de energia exigida pelo exercício, assim como
a velocidade de movimento por uma determinada distância
ou tempo. Para isso, é importante o aumento da capacidade
aeróbia, incluindo aumento da capacidade de manter a força
por um longo período, o que exige a manutenção e o aumento
da massa muscular, aumento de economia de energia e aumento
da expressão de genes e proteínas relacionadas ao metabolismo
mitocondrial e oxidativo.
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■ Publicação
Tese: “Modulação das vias
de sinalização envolvidas na síntese proteica em camundongos:
papel do treinamento aeróbio e da suplementação com leucina”
Autora: Morgana Rejane Rabelo Rosa Russo
Orientador: Everardo Magalhães Carneiro
Unidade: Instituto de Biologia (IB)